O que é fato e o que é pânico no massacre da bolsa nesta segunda

O temor de uma desaceleração na China cresceu com a situação da Evergrande, mas especialistas recomendam olhar para o fundamento antes de abrir o broker

As empresas que mais caíram refletiram mais o mau humor do mercado do que seus próprios fundamentos
20 de Setembro, 2021 | 06:47 PM

São Paulo — O Ibovespa fechou nesta segunda no menor patamar de 2021 com forte influência de um dia de quedas no exterior. Antes de apertar o sell no broker das corretoras, especialistas recomendam paciência com a tempestade desses dias e olhar para os fundamentos das empresas que o investidor carrega em carteira. A safra de resultados do terceiro trimestre começará a sair em meados de outubro. Aí a contabilidade separa o joio do trigo.

“O maior vilão é o tempo, pois as empresas (principalmente as domésticas), ao contrário do que se pensa, vêm entregando bons resultados e até nos surpreendendo. Vemos que no curto prazo ainda será difícil, mas os valores de vários ativos de qualidade estão muito baratos e nos preocupa os investidores pessoa física de, mais uma vez, fazerem o que tem fama de fazer: vender na baixa e comprar na alta”, disse Pedro Serra, gerente de pesquisa da Ativa Investimentos.

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O chefe de pesquisa da Esh Capital, Sérgio Goldman, disse à Bloomberg que o fenômeno mundial das bolsas de valores no mundo inteiro caindo não se deve só ao evento da Evergrande, maior incorporadora da China sob risco de ficar insolvente, mas também à potencial desaceleração de toda a economia da China.

Veja mais: Caso Evergrande derruba ações com pouquíssima ligação com a China

Ibovespa na menor cotação de 2021

Por aqui ainda não há solução desenhada para o problema dos precatórios no próximo Orçamento – segundo o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), a PEC que prevê o teto para estas despesas deve andar nesta semana. Copom com viés de alta.

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“A entrega dos resultados do terceiro trimestre de 2021 das empresas está logo ali, começando na segunda quinzena de outubro. Portanto, achamos prudente, se o investidor estiver carregando boas empresas, aguardar este período”, disse Serra, da Ativa.

Veja mais: Por que a expectativa do mercado sobre o Brasil caiu tão rápido?

Para separar o que é oportunidade do que é mico, a Bloomberg Línea explica os fundamentos dos negócios de algumas das ações que mais caíram nesta segunda, segundo analistas de diferentes bancos e casas de análise.

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Braskem (BRKM5): R$ 58,39 (-11,54%)

Braskem

O drive da queda: O jornal Valor Econômico reportou, com base em fontes, que a Novonor, ex-Odebrecht, planeja vender toda a participação na petroquímica em um follow-on.

Os últimos números (2Q21, anualizados)

Receitas: R$ 83,844 bi

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Lucro: R$ 25,556 bi

Ebtida ajustado: R$ 20,433 bi

Lucro por ação: R$ 11,84

Vale (VALE3): R$ 83,31 (-3,30%)

Vale SA's Brucutu mine in Barao de Cocais, Brazil, on Thursday, May 9, 2013

O drive da queda: Os preços do minério de ferro no mercado internacional estão em queda. A cotação é a mais baixa desde fevereiro deste ano.

Os últimos números (consolidados 2Q21)

Receitas: R$ 293,992 bi

Lucro: R$ 181,334 bi

Ebtida ajustado: R$ 187,408 bi

Lucro por ação: R$ 23,08

Bradesco (BBDC4): R$ 19,27 (-3,75%)

A queda do preço das ações do segundo maior banco brasileiro reflete mais o ânimo do mercado que o fundamento da empresa, segundo especialistas

O drive da queda: embora tenha frustrado expectativas de analistas no 2º tri por uma queda de receita na sua área de seguros, o segundo maior banco privado do país foi castigado nesta segunda pelas quedas das bolsas no resto do mundo com aversão maior ao risco.

Os últimos números (2Q21)

Receitas: R$ 117,836 bi

Resultado operacional: R$ 34,359 bilhões

Resultado líquido: R$ 29 bilhões

Lucro por ação: R$ 2,90

Itaú Unibanco (ITUB4): R$ 27,19 (-2,26%)

O drive da queda: Queda de hoje, segundo analistas, não reflete fundamentos do banco, mas contaminação pelo mau humor global.

Os últimos números (2Q21, anualizados)

Receitas: R$ 121,800 bi

Resultado operacional: R$ 40,026 bilhões

Resultado líquido: R$ 28 bilhões

Lucro por ação: R$ 2,86

Petrobras (PETR4): R$ 24,65 (-1,12%)

Petrobras turbinou lucros com alta do petróleo e paridade com preços internacionais, mas a política é uma velha preocupação

O drive da queda: O avanço dos preços dos preços do petróleo e a política da paridade com o mercado internacional transformaram a estatal em uma potência de pagamento a dividendos aos acionistas com cerca de 9% de DY. Por outro lado, ela enfrenta crescentes críticas do mundo político por causa das altas do combustível na bomba e no gás de cozinha.

Os últimos números (2Q21, anualizados)

Receitas: R$ 342,586 bi

Lucro: R$ 175,167

Ebtida ajustado: R$ 194,168 bi

Lucro por ação: R$ 6,30

Magalu (MGLU3): R$ 16,05 (-3,14%)

Maioria dos analistas recomenda a compra porque vê valor nas operações da varejista

O drive da queda: O aumento estrutural da taxa de juros é uma conjuntura que deve afetar o varejo como um todo, mas a queda forte de hoje reflete mais o mal-estar geral dos mercados. Dos 17 bancos e casas que cobrem a Magalu, 11 recomendam compra e 6 a manutenção das ações.

Os últimos números (2Q21, anualizados)

Receitas: R$ 35,640 bilhões

Lucro: R$ 9,042 bilhões

Ebtida ajustado: R$ 2,167 bilhões

Lucro por ação: R$ 0,10

Bradespar (BRAP4): R$ 56,64 (-4,39%)

O drive da queda: A Bradespar é uma holding que investe no setor químico, mineração, cimento, geração elétrica. Na semana passada, a companhia informou que vai submeter à assembleia geral em 15 de outubro o desinvestimento na Vale, distribuindo aos seus acionistas mais de 123 milhões da Vale – algo como R$ 10,2 bilhões pela cotação de hoje. As ações tinham disparado, mas sofreram correção devido à própria queda do minério de ferro que afetou a Vale. Além disso, nesta segunda foi a data de corte para uma bonificação de 0,1295 ações a cada 10 ações. A partir de amanhã, começa a ser negociada como ex.

Os últimos números (2Q21, anualizados):

Resultado líquido: R$ 5,065 bilhões

Lucro por ação: R$ 14,55

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Graciliano Rocha

Editor da Bloomberg Línea no Brasil. Jornalista formado pela UFMS. Foi correspondente internacional (2012-2015), cobriu Operação Lava Jato e foi um dos vencedores do Prêmio Petrobras de Jornalismo em 2018. É autor do livro "Irmã Dulce, a Santa dos Pobres" (Planeta), que figurou nas principais listas de best-sellers em 2019.