Fertilizantes em alta podem elevar ainda mais preço de alimentos

Tempestade perfeita de eventos, como condições climáticas extremas, paralisações de fábricas e novas sanções governamentais, atingiu o mercado de fertilizantes químicos este ano

“À medida que os preços dos fertilizantes continuam a subir, os agricultores irão cortar as taxas de aplicação, eliminar os fertilizantes inteiramente na esperança de preços mais baixos no futuro ou reduzir outros produtos agrícolas para compensar o maior gasto esperado”
Por Elizabeth Elkin
20 de Setembro, 2021 | 04:42 PM

Bloomberg — Muitas pessoas não pensam muito sobre fertilizantes, exceto, talvez, quando passam por uma área agrícola particularmente “perfumada”. Mas, com os preços de alguns nutrientes sintéticos nos níveis mais altos desde a crise financeira, isso pode significar safras menores e mais gastos com alimentos no próximo ano, justo quando as cadeias de suprimentos globais começarem a se recuperar da pandemia.

Uma tempestade perfeita de eventos - como condições climáticas extremas, paralisações de fábricas e novas sanções governamentais - atingiu o mercado de fertilizantes químicos este ano, abalando agricultores que já enfrentam a pressão dos custos crescentes para produzir alimentos. Os preços da ureia, um popular fertilizante à base de nitrogênio, disparou no início do mês para o maior nível desde 2012 em Nova Orleans, o principal centro de comércio de fertilizantes dos Estados Unidos. O preço de um fertilizante fosfatado comum conhecido como DAP está no nível mais alto nesse mercado desde 2008, segundo dados da Bloomberg.

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“À medida que os preços dos fertilizantes continuam a subir, os agricultores irão cortar as taxas de aplicação, eliminar os fertilizantes inteiramente na esperança de preços mais baixos no futuro ou reduzir outros produtos agrícolas para compensar o maior gasto esperado”, disse Alexis Maxwell, analista da Green Markets, empresa controlada pela Bloomberg.

Produtores de milho, soja e outros grãos que alimentam o gado e são usados por fábricas de alimentos embalados já estão gastando mais do que o normal com sementes, mão de obra, transporte e equipamentos. Isso ajudou a contribuir para a forte inflação de alimentos no último ano. Um indicador das Nações Unidas para os preços globais dos alimentos está perto do maior nível em uma década, um problema que a alta dos fertilizantes poderia agravar.

“O custo dos fertilizantes é um dos maiores impulsionadores da inflação global de alimentos, agora que os preços de todos os três grupos de nutrientes - potássio, fosfato e nitrogênio - estão em níveis não vistos há cerca de uma década”, disse Elena Sakhnova, analista da VTB Capital em Moscou, em entrevista.

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Uma confluência de eventos está por trás do aumento dos preços. Tempestades seguidas no final do verão na Costa do Golfo dos Estados Unidos impediram que produtos entrassem e saíssem e fecharam temporariamente fábricas na região, incluindo o maior complexo de nitrogênio do mundo, de propriedade da CF Industries Holdings.

A empresa teve então que fechar duas fábricas no Reino Unido devido ao rali recorde na Europa do gás natural, a principal matéria-prima para grande parte do nitrogênio produzido globalmente. Na sexta-feira, a Yara International disse que, com os altos preços do gás natural, a empresa terá que reduzir cerca de 40% da capacidade de produção europeia de amônia, usada para fabricar fertilizantes.

Silvésio de Oliveira, produtor de soja e milho de 51 anos em Tapurah, no Mato Grosso, teve a sorte de se antecipar ao último aumento de preços. Em novembro passado, comprou 100% do fertilizante necessário para as duas culturas.

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“Temos notado essa inflação de fertilizantes chegando”, disse. Oliveira conseguiu se adiantar porque é um ávido leitor de notícias de commodities, afirmou. “É um pouco de sorte, mas principalmente informação.”

Veja mais: Como vai funcionar a nova ferrovia da Rumo em Mato Grosso

Se agricultores reduzirem a quantidade de fertilizante usado, entre os mais afetados pode estar o milho, uma das culturas de maior produtividade, mas também cara de cultivar. Os fertilizantes respondem por cerca de 20% dessa despesa, disse Maxwell, o analista da Green Markets. Outros agricultores podem migrar para culturas mais baratas que requerem menos insumos, como soja, lentilhas e ervilhas, disse o produtor de milho e soja de Iowa, Ben Riensche.

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