Opinión - Bloomberg

Burnout: O que fazer quando todo mundo pede demissão?

Conselhos para funcionários exaustos que não podem deixar seus empregos ou se sentem obrigados a mantê-los

Erros que podem custar caro aumentam quando funcionários ficam sobrecarregados e exaustos
Tempo de leitura: 3 minutos

Bloomberg Opinion — Tenho uma amiga que trabalha em um pronto-socorro como médica assistente e me disse recentemente que está prestes a entrar em colapso. Em vez de atender de 26 a 30 pacientes por dia, ela agora atende 44. Mas a culpa não é da Covid – é da saída de seus colegas de trabalho e das vagas que não foram preenchidas novamente.

À medida que as demissões voluntárias em massa ocorrem, os trabalhadores de todos os setores compartilham histórias semelhantes de burnout. A produtividade nos EUA aumentou 2,3% no segundo trimestre, mas o que surpreende é que as evidências apontam que esse aumento se deu porque menos pessoas trabalharam mais.

A maioria dos funcionários está fazendo jornadas mais longas por semana em comparação com o período pré-pandemia, principalmente no setor de saúde e de serviços. Então, o que os funcionários que não podem pedir demissão ou se sentem obrigados a manter seu trabalho podem fazer quando se sentem pressionados?

O mais lógico a se fazer é conversar com o empregador, muitos dos quais provavelmente não querem perder mais funcionários. É crucial apresentar explicações de como melhores condições – como folga ou aumento no salário – podem resultar na melhora do desempenho ou na retenção de funcionários.

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Os empregadores também devem saber que erros crassos e de alto custo aumentam com o burnout e podem ser evitados com a contratação de mais funcionários. Se a conversa não der certo, então os funcionários devem se certificar de tirar as férias e licenças às quais possam ter direito.

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Se os funcionários sentirem que as condições de seu trabalho beiram a insalubridade, eles podem fazer uma denúncia ao Ministério do Trabalho. Lembre-se de que as condições de trabalho precisam ter violado uma norma específica ou representar um risco. Se a preocupação é não ser remunerado adequadamente por seu trabalho, é possível negociar por meio do sindicato da sua classe.

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Para alguns, essa é a única opção. Nos EUA, os trabalhadores sindicalizados da Frito-Lay, divisão da PepsiCo responsável pela fabricação de salgadinhos, venceram a batalha pelo fim das horas extras obrigatórias.

Pesquisas apontam que os sindicatos foram historicamente responsáveis para que os funcionários recebam mais folgas remuneradas por feriados e férias, bem como benefícios de aposentadoria mais generosos. Além disso, trabalhadores sindicalizados são mais felizes no trabalho. Não é surpresa que, com o declínio da filiação sindical, a remuneração tenha aumentado apenas 16%, enquanto a produtividade aumentou 60%.

Porém, a sindicalização é complicada e geralmente encontra resistência. No ano passado, alguns trabalhadores da central da Amazon.com Inc. em Bessemer, no estado do Alabama, tentaram se filiar ao sindicato dos varejistas para pressionar o conglomerado de e-commerce a contratar mais funcionários para prevenir acidentes. A maioria dos funcionários se opôs à filiação, e a iniciativa foi derrotada.

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Por fim, aqueles que estão sobrecarregados devem reconsiderar se realmente precisam ou querem permanecer em seu emprego atual. Para alguns, principalmente em setores como varejo, hotelaria e serviços de alimentação, nos quais as taxas de demissão são especialmente altas, pedir demissão e encontrar um novo emprego no mesmo setor pode significar fazer mais do mesmo.

Alguns trabalhadores em áreas com falta de pessoal e alta demanda, como a de creches, podem buscar novos ambientes para exercerem suas habilidades – como cuidar de uma criança em casa, em vez de fazê-lo e um estabelecimento. Os empregos no governo e no setor financeiro têm taxas de demissão mais baixas, portanto esses setores poderiam ser mais promissores para aqueles que estão abertos a mudanças ou que podem mudar de carreira.

Contudo, isso só significa mais exaustão para aqueles que ficarem.

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Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

Teresa Ghilarducci é professora de economia na New School for Social Research. É coautora de Rescuing Retirement e membro do conselho do Economic Policy Institute.

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