Gráficos e memes explicam alta da gasolina de um jeito simples

Bolsonaro culpa o ICMS dos Estados, governadores culpam a Petrobras, mas a conta vem na forma de inflação que incide mesmo sobre quem não tem carro

A troca de acusações entre o presidente e os governadores sobre o preço da gasolina
15 de Setembro, 2021 | 01:14 PM

Este ano, o preço da gasolina sofreu nove reajustes, que acumulam alta de quase 39%. Os aumentos do preço vêm pressionando o IPCA, principal índice que mede a inflação. Em agosto, o índice subiu 0,87%, maior alta desde 2000. O segmento de transportes, puxado pelos combustíveis, teve a maior variação (1,46%) e o maior impacto (0,31 ponto percentual) no índice do mês.

A matemática básica ajuda. A primeira razão está em como o preço dos combustíveis são formados no Brasil. Quando você compra um litro de combustível por R$ 7, apenas R$ 2,48 são da gasolina propriamente dita vendida pela Petrobras. Já a mistura obrigatória de etanol adiciona R$ 1,03 ao preço. Ou seja, você paga R$ 7 de combustível, mas leva a metade, segundo a estes dados da ANP (Agência Nacional do Petróleo):

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A composição do preço da gasolina

O dólar sobe, a gasolina sobe

Gasolina é feita de petróleo, uma commodity internacional cujos preços são cotados em dólar. O primeiro impacto foi nos preços da matéria-prima no mercado global. A demanda vem subindo desde o ano passado e, com isso, o preço do barril vem numa série de altas...

Petróleo em alta com a retomada econômica global

Aí entra um outro ingrediente importante na composição dos preços: a moeda brasileira vem perdendo valor diante do dólar nos últimos anos. Em 5 de janeiro de 2019, a cotação do dólar era de R$ 3,78. Hoje, a moeda americana custa R$ 5,26.

Por que isso influi? O preço do petróleo subiu em dólar e isso ficou mais caro em real porque a moeda brasileira vem perdendo valor. Para ver a cotação em tempo real, clique aqui.

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Cotação do dólar nos últimos três anos

Por que a gasolina sobe junto com o dólar se o Brasil produz petróleo?

A política de preços da Petrobras é baseada na paridade com os preços no mercado internacional. Isto é, a estatal, que é negociada em bolsa, pratica uma política de mercado – o que é elogiado pelos analistas, mas está longe de ser um consenso entre políticos.

Nesta semana, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), mais poderoso aliado do presidente Bolsonaro, criticou publicamente a política de preços da Petrobras. Não foi uma irritação menor: em vez de chamar o presidente da Petrobras, Joaquim Silva e Luna, para depor em uma comissão, ele falou ao plenário, ficando muito mais exposto a críticas da oposição e da base governista.

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, criticou ontem a Petrobras por repassar os aumentos ao consumidor mais rápido que em outros países, pressionando a inflação.

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“No Brasil o mecanismo é um pouco mais rápido, lembrando que a Petrobras passa preços muito mais rápido do que grande parte dos outros países, a gente tem olhado isso também”, afirmou Campos Neto.

O presidente da Petrobras, Joaquim Silva e Luna, defende a política de preços da estatal, lembrando que a companhia precisa seguir a Lei das Estatais. Ontem, na Câmara, ele afirmou que intervenções políticas para baixar artificialmente o preço dos combustíveis costumam custar caro ao contribuinte.

Veja mais: Pressionado por alta da gasolina, Luna diz que ‘não tem espaço para aventura’ na Petrobras

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Bolsonaro culpa o ICMS dos Estados e governadores culpam a Petrobras

O presidente Jair Bolsonaro costuma culpar o ICMS, cobrado pelos Estados, como principal responsável pela alta dos combustíveis. De fato, o imposto estadual influencia muito o valor na bomba. A alíquota varia em cada Estado. Em alguns casos, a gasolina chega a ser tributada em 30% em alguns Estados.

Esses percentuais, no entanto, não subiram, mas o valor pago pelo consumidor aumentou. O ICMS é cobrado em cima de uma pauta fiscal – isto é, uma estimativa de preço médio pago pelos consumidores – assim, se o preço sobe, os governos estaduais podem subir a estimativa de preço médio sobre o qual o ICMS incide.

Mas os governadores, por sua vez, culpam a Petrobras, que define o preço com base na política de paridade internacional e que, só depois disso, a alíquota de ICMS é calculada.

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Graciliano Rocha

Editor da Bloomberg Línea no Brasil. Jornalista formado pela UFMS. Foi correspondente internacional (2012-2015), cobriu Operação Lava Jato e foi um dos vencedores do Prêmio Petrobras de Jornalismo em 2018. É autor do livro "Irmã Dulce, a Santa dos Pobres" (Planeta), que figurou nas principais listas de best-sellers em 2019.