Bloomberg — Centenas de milhares de pessoas podem ser infectadas anualmente na China e no Sudeste Asiático por animais portadores de coronavírus semelhantes ao que causa a Covid-19, segundo estudo que destaca a contínua ameaça de pandemias provocadas por esse tipo de transmissão.
Uma média de 400 mil casos desse tipo ocorre a cada ano, e a maior parte das infecções passa despercebida porque causam sintomas leves ou nenhum sintoma e não são facilmente transmitidas entre pessoas, disseram pesquisadores da EcoHealth Alliance e da Duke-NUS Medical School de Singapura em estudo divulgado antes da revisão por pares e publicação. Ainda assim, cada contágio representa uma oportunidade de adaptação viral que pode levar a um surto semelhante ao da Covid-19.
A questão de onde e como o vírus que causa a Covid surgiu tornou-se particularmente polêmica. Alguns líderes culpam um hipotético vazamento em um laboratório em Wuhan, China, que estuda os patógenos. A nova pesquisa, apoiada pelo Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos EUA, se baseia em evidências de que morcegos são os principais hospedeiros do vírus como o Sars-CoV-2, e pessoas que vivem perto de seus poleiros são especialmente vulneráveis.
“Esta é provavelmente a primeira tentativa de estimar a frequência com que as pessoas são infectadas com coronavírus de morcegos relacionados à Sars”, disse Edward Holmes, biólogo evolucionista da Universidade de Sydney que não participou da pesquisa. Os humanos estão continuamente expostos aos coronavírus dos morcegos, disse. “Com as circunstâncias propícias, um deles pode levar ao aparecimento de um surto.”
Quase duas dúzias de espécies de morcegos que podem ser infectadas por coronavírus vivem em uma área da Ásia seis vezes maior do que o estado do Texas, nos EUA. O sul da China e regiões de Mianmar, Laos, Vietnã e Indonésia são consideradas as de maior risco de contágio. Peter Daszak e pesquisadores da EcoHealth Alliance, de Nova York, usaram um modelo de distribuição de morcegos e dados ecológicos e epidemiológicos para estimar o risco de exposição aos coronavírus relacionados à SARS e à taxa de infecções não relatadas de morcegos para humanos na China, sul da Ásia e Sudeste Asiático.
“Se pudermos barrar isso no nível das infecções individuais, temos uma chance muito maior de evitar a próxima pandemia”, disse Daszak na terça-feira em entrevista por Zoom.
“Devido aos desafios de identificar as origens da Covid-19 e os caminhos pelos quais o SARS-CoV-2 se espalhou para as pessoas, essa abordagem também pode ajudar nos esforços para identificar os locais geográficos onde o salto ocorreu pela primeira vez”, disseram no estudo.
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