Casos de HIV dificultam combate à Covid-19 na África do Sul

“Há boas evidências de que a infecção prolongada em indivíduos imunocomprometidos é um dos mecanismos para o surgimento de variantes”, segundo especialista

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Bloomberg — Com o maior número de casos de HIV do mundo, a África do Sul enfrenta desafios ainda mais complicados para combater a pandemia de coronavírus, o que aumenta o risco de que novas variantes apareçam e se espalhem para outros países.

Muitas das 8,2 milhões de pessoas infectadas pelo HIV no país estão imunocomprometidas, e cientistas dizem que podem abrigar o coronavírus por mais tempo, permitindo que o vírus sofra mutações enquanto se reproduz. Um estudo com uma mulher HIV positiva de 36 anos mostrou que o coronavírus permaneceu em seu organismo por 216 dias e sofreu uma rápida mutação.

“Há boas evidências de que a infecção prolongada em indivíduos imunocomprometidos é um dos mecanismos para o surgimento de variantes da SARS Covid-2”, disse Túlio de Oliveira, professor de bioinformática que dirige instituições de sequenciamento de genes em duas universidades sul-africanas, durante uma conferência sobre imunologia em 30 de agosto. “Você tem essa evolução em massa do vírus, acumulando mais de 30 mutações.”

Veja mais: Variantes da África poderiam agravar pandemia, dizem cientistas

Em meio à batalha mundial contra variantes do coronavírus, a vacinação de pessoas infectadas pelo HIV na África do Sul é fundamental. A recente descoberta de outra mutação no país, após a identificação da variante beta no fim do ano passado, mostra o risco de não acelerar a vacinação com urgência.

O problema é que a maioria das pessoas infectadas pelo HIV na África do Sul são pobres e marginalizadas. Muitas vivem em áreas remotas e não tiveram acesso às campanhas de vacinação. Com muitas vacinas - as doses são mais do que suficientes para imunizar os 40 milhões de adultos do país -, o problema da África do Sul agora é aplicá-las nos que mais precisam delas.

“Velocidade e cobertura são importantes para garantir que as pessoas HIV positivas sejam vacinadas”, disse Glenda Gray, presidente do Conselho de Pesquisa Médica da África do Sul e colíder do grupo sul-africano do ensaio da vacina da Johnson & Johnson.

A África do Sul foi o país mais atingido no continente africano pelo coronavírus, com cerca de 2,9 milhões de casos confirmados. O número de excesso de mortes mostra que mais de 250 mil pessoas faleceram durante a pandemia, ou uma em cada 240 sul-africanos.

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