Cinco pontos para entender a desaceleração na China e o impacto no mundo

Indicador de consumo foi o mais afetado durante o mês; o setor industrial deve ter um resultado melhor que o de vendas no varejo

Por

Bloomberg — A economia da China provavelmente desacelerou ainda mais em agosto. Dados sobre consumo, produção industrial e investimento, que serão divulgados nesta quarta-feira (15), devem revelar a extensão dos danos causados por um surto da variante delta.

A extensão da desaceleração será observada de perto em busca de sinais de que é grave o suficiente para levar as autoridades a mudar sua posição atual de retirar lentamente a liquidez dos mercados e manter os estímulos limitados. O contínuo aperto regulatório a setores como de educação, internet e imobiliário pode ter exacerbado a recente fraqueza econômica no país.

Os dados a serem apresentados na quarta-feira provavelmente mostrarão que a recuperação da China continua desigual. A forte demanda global levou a um recorde de exportações em agosto, mas os consumidores locais ficaram cautelosos, pois os lockdowns e os temores de avanço da pandemia mantiveram muitas pessoas em casa, o que significa que o setor industrial deve ter um resultado melhor que o de vendas no varejo.

Veja mais: Governo da China envia equipe de saúde para província de Fujian após novo surto de Covid

Para avaliar melhor o desempenho econômico da China, estes são os aspectos a serem considerados:

1. Consumo

O consumo foi o mais afetado em agosto, quando a variante delta da Covid-19 se disseminou pela China, forçando o fechamento de pontos turísticos e de algumas cidades durante as férias de verão do país. No entanto, mesmo antes desses surtos, a recuperação do consumo da China não foi sólida.

Os indicadores do setor de serviços estabeleceram um cenário desanimador para agosto, com medidores oficiais e privados apontando para a primeira contração desde o início de 2020.

Embora a China tenha controlado o surto e afrouxado a maioria das restrições, o impacto sobre os gastos do consumidor provavelmente vai perdurar, e a renda dos prestadores de serviços vai demorar muito para se recuperar.

2. Imóveis

As medidas do governo para conter o aumento dos preços de imóveis e também a piora da situação da maior incorporadora da China provavelmente esfriaram ainda mais o investimento imobiliário. As autoridades ainda não intervieram para liberar o crédito e sustentar a demanda imobiliária e a construção, e ainda não há indicações de que isso vá mudar, considerando que o governo visa tornar a habitação mais acessível como parte dos esforços para reduzir a desigualdade.

As vendas de imóveis nas quatro maiores cidades caíram 16% em agosto em relação ao ano anterior, de acordo com cálculos da Bloomberg com base em dados semanais. O que aconteceu com os investimentos imobiliários em todo o país será fundamental para a economia, pois 28% do PIB do país está relacionado ao setor imobiliário, segundo economistas do Bank of America.

Veja mais: Mulheres chinesas vão gerar boom de US$ 5,3 trilhões no consumo, diz UBS Group

3. Infraestrutura

A China costumava depender da construção alimentada por dívidas para impulsionar o crescimento, mas o investimento em infraestrutura decepcionou neste ano, mesmo quando a desaceleração gerou esperanças de mais ações governamentais. Em julho, os gastos com estradas e outras infraestruturas foram os que mais encolheram desde a pandemia em fevereiro do ano passado, arrastados pelo ritmo lento da concessão de crédito por parte dos governos locais.

No final de agosto, o Ministério das Finanças pediu aos governos locais que acelerassem a emissão de títulos especiais e fizesse um bom uso dos recursos obtidos. Embora as emissões de dívida do governo em agosto tenham sido as mais altas do ano todo, os efeito de qualquer aumento nas vendas de títulos vai demorar um pouco para aparecer nos dados de investimento. Os investimentos devem se recuperar nos próximos meses, mas a falta de bons projetos e a pressão do governo para controlar o endividamento pode tornar o cenário de gastos públicos menos otimista.

4. Desemprego entre os jovens

Embora a taxa geral de desemprego na China tenha retornado (e se estabilizado) a níveis pré-pandemia, a taxa de desemprego entre os jovens ficou em um nível elevado este ano. As autoridades enfatizaram repetidamente a urgência dessa questão e prometeram medidas direcionadas para ajudar os egressos da universidade a encontrar empregos ou abrir seus próprios negócios. Com a temporada de formaturas chegando ao fim, será fundamental analisar o percentual dos 9,1 milhões de recém-formados absorvidos pelo mercado de trabalho.

Veja mais: Minério atinge menor cotação do ano com demanda mais fraca

5. Postura política

Até o momento, os órgãos reguladores se abstiveram de estímulos em grande escala neste ano; em vez disso, recorreram a algumas ferramentas para aumentar a oferta de crédito para determinados setores da economia, especialmente pequenas empresas. Com a última onda da Covid, o aumento dos custos de produção e uma provável desaceleração das exportações, alguns economistas estão pedindo mais ações para apoiar o crescimento.

Qualquer mudança na avaliação da agência de estatísticas sobre as atuais condições econômicas e perspectivas políticas vale a pena ser examinada. Em relatórios anteriores, a agência afirmou sistematicamente que o ímpeto da recuperação foi mantido, apesar de vários riscos de desaceleração.

O Banco Popular da China também deve anunciar a taxa para empréstimos de 1 ano a bancos na manhã da quarta-feira (15), no vencimento de 600 bilhões de yuans (US$ 93 bilhões) em empréstimos, mas não há expectativa de corte nas taxas de empréstimos.

Veja mais em bloomberg.com


Leia também:

Restrições ao setor de Internet pesam sobre ações chinesas

Dúvidas sobre China colocam rali de mercados emergentes em risco

Transportadoras de contêineres marítimos têm maior lucro desde 2008