Bloomberg Opinion — A maior parte da conversa sobre a recuperação do mercado de trabalho este ano teve como foco o setor mais atingido – o de lazer e hospedagens – e as dificuldades para que proprietários de hotéis e restaurantes enfrentaram para tentar contratar pessoal. Discretamente, um outro setor, a indústria manufatureira, está tendo ainda mais dificuldade em encontrar trabalhadores. Isso é o que afirmou o último relatório de emprego dos Estados Unidos, o Payroll.
Apesar da reputação de altos salários, a indústria manufatureira está ficando para trás no que diz respeito à remuneração, pois empresas de serviços como a Amazon e o Walmart continuam aumentando seus salários para serem competitivos em um mercado de trabalho aquecido. Estamos acostumados com os EUA perdendo empregos na indústria manufatureira porque as empresas podem encontrar trabalhadores mais baratos no exterior, mas, perversamente, o país pode começar a perder mais desses empregos porque os proprietários das fábricas não conseguem oferecer o que os empregadores do setor de serviços oferecem.
Ao pensar sobre a mão de obra manufatureira, é importante considerar que os salários variam muito dependendo do posto. Um trabalhador médio do setor de automóveis ganha US$ 30 por hora, mas um trabalhador médio não administrativo no setor de fabricação de alimentos ganha cerca de US$ 20 por hora. O salário de entrada é supostamente mais baixo. No total, o aumento dos salários para empregos na indústria manufatureira ficou defasado em relação a outros setores na última década. Desde o início de 2011, os salários do setor de lazer e hospedagens aumentaram 46%, enquanto os salários de trabalhadores de fábricas aumentaram 27%.
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A Job Openings and Labor Turnover Survey dos EUA – Pesquisa de Vagas de Emprego e Rotatividade de Trabalho, em tradução livre – que proporciona um panorama dos dados do mercado de trabalho, mostrou como a situação dos funcionários estava deplorável na indústria manufatureira em julho. Desde fevereiro de 2020 – pouco antes da pandemia – as vagas de emprego na indústria manufatureira aumentaram 121%, mais do que em qualquer outro setor. Ao analisar a proporção de contratações para vagas de emprego – em outras palavras, o sucesso de empregadores ao preencher suas vagas – o único setor com mais dificuldades que a indústria manufatureira é o de varejo. Não é por acaso que o Walmart acaba de anunciar que está aumentando seu salário médio por hora em US$ 1, chegando a US$ 16,40 a hora.
No mês passado, o Wall Street Journal ofereceu um vislumbre do que está acontecendo com um artigo sobre uma fábrica de peças de borracha em Cleveland que estava com dificuldades para contratar. Encontrar operadores de máquinas foi um desafio específico e exigiu um aumento dos salários em US$ 4,55 por hora, chegando a US$ 18,25, para preencher seu quadro de funcionários. O presidente da empresa reconheceu que demorou para aumentar os salários nos últimos anos; ele ainda estava mentalmente ancorado nos mercados de trabalho menos aquecidos do período pós-recessão de 2008. Os custos de mão de obra em termos de percentual das vendas aumentaram nos últimos oito anos, trazendo a questão de quantos aumentos os salários podem ter antes que afetem as margens de lucro ou que esses custos sejam repassados aos clientes.
O aumento tardio dos salários parece estar acontecendo em todo o setor à medida que os proprietários das fábricas lutam contra a escassez de trabalhadores. Os salários na indústria manufatureira aumentaram 0,5% ao mês durante quatro meses consecutivos – o que não acontecia desde 1981.
Mas, como o Walmart e outros empregadores do setor de serviços mostraram, eles também não se acomodaram e continuam aumentando salários e benefícios conforme necessário para preencher suas vagas.
Isso está gerando uma competição inesperada por funcionários entre os empregadores da indústria manufatureira e os do setor de serviços. A Amazon gosta de falar sobre seu salário médio inicial de US$ 17 por hora em centros de distribuição no estado de Michigan, além de uma série de benefícios – um pacote que provavelmente é melhor que em muitos cargos entry level e de níveis mais baixos para trabalhos semelhantes. Na quinta-feira, a Amazon aumentou sua vantagem novamente, anunciando que vai pagar para que alguns funcionários dos EUA obtenham diplomas universitários.
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Vários varejistas pagam US$ 15 ou mais por hora – a Walgreens anunciou que faria exatamente isso no mês passado – e oferecem condições de trabalho que são provavelmente mais confortáveis e menos perigosas do que em um chão de fábrica. Você prefere ganhar US$ 15 por hora trabalhando em uma serraria ou dentro de uma loja de materiais de construção?
Esta é uma das razões pelas quais os fabricantes vão acabar adotando a automação: será impossível tornar as vagas atrativas para os funcionários necessários em relação à concorrência cada vez maior da economia de serviços.
Os empregadores do setor de serviços passaram os últimos anos melhorando a natureza de seus empregos, fazendo de tudo, desde aumentar salários e pacotes de benefícios até relaxar os códigos de vestimenta e oferecer horários mais flexíveis. E os empregadores da indústria manufatureira estão percebendo que agora precisam fazer o mesmo. Eles têm indiscutivelmente um desafio ainda mais difícil à frente, dada a natureza mais arriscada e fisicamente mais exigente de muitos dos empregos – e se não conseguem fazer isso com humanos, eles podem ter de fazê-lo com robôs.
Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.
Conor Sem é colunista da Bloomberg Opinion e fundador da Peachtree Creek Investments. Contribui para o The Atlantic e para o Business Insider e reside em Atlanta.
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