Bloomberg — Vacinas contra a Covid-19 funcionam tão bem que a maioria das pessoas ainda não precisa de reforço, segundo revisão de um painel de cientistas globais que deve reacender o debate sobre a necessidade de doses extras.
A melhor estratégia para os governos seria focar na imunização dos não vacinados e esperar por mais dados sobre quais vacina de reforço, e em que quantidade, seriam mais eficazes, argumentam os autores, que incluem dois grandes especialistas da FDA, agência que regula fármacos e alimentos nos Estados Unidos. O artigo, publicado na revista médica The Lancet, se baseia em uma ampla gama de estudos observacionais do mundo real, bem como em dados de ensaios clínicos.
“Nenhum dos estudos forneceu evidências confiáveis de redução significativa da proteção contra casos graves”, escreveram os autores. Também pode haver riscos de efeitos colaterais adicionais se os reforços forem aplicados muito cedo ou muito amplamente, disseram.
A maioria dos países com amplo estoque de vacinas avalia atualmente se deve alocar doses de reforço para aumentar a imunidade e potencialmente ajudar a impedir a propagação da variante delta, que é mais transmissível. Os EUA planejam aplicar doses de reforço a partir de 20 de setembro, embora o plano ainda precise da aprovação da FDA e dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças.
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De forma alguma há unanimidade entre cientistas sobre as doses de reforço. Mesmo uma pequena redução na eficácia contra a propagação da Covid pode prejudicar um sistema de saúde e não há, portanto, uma abordagem única, disse Azra Ghani, responsável por epidemiologia de doenças infecciosas no Imperial College London, que não participou da revisão.
Um painel consultivo do governo do Reino Unido deve recomendar em breve se deve ampliar a administração de uma terceira dose. O governo britânico já oferece reforço para pessoas com sistema imunológico muito enfraquecido, assim como vários países da União Europeia. A Agência Europeia de Medicamentos também está revisando dados sobre doses de reforço da Pfizer-BioNTech e da Moderna.
Não vacinados
Entre os cientistas autores do artigo da Lancet estão Marion Gruber, que comanda o Escritório de Pesquisa e Revisão de Vacinas da FDA, e seu vice, Philip Krause. Ambos disseram que vão deixar seus cargos ainda este ano. Gruber e Krause fazem parte de um grupo da FDA que, no ano passado, resistiu à pressão do governo Trump para acelerar a autorização de vacinas contra a Covid, de acordo com uma pessoa a par do assunto.
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Soumya Swaminathan, Ana-Maria Henao-Restrepo e Mike Ryan, da Organização Mundial da Saúde, também trabalharam na revisão. A OMS é contra a ampla vacinação com doses de reforço, dizendo que faz mais sentido para a saúde pública se concentrar na imunização daqueles que ainda não tomaram nenhuma dose - seja por receio em países com grandes estoques ou porque moram em locais com pouco acesso às vacinas.
Em todos os estudos observacionais feitos até o momento, a vacinação tem sido, em média, 95% eficaz contra casos graves, incluindo contra variantes mais infecciosas, como a delta, e mais de 80% eficaz na prevenção de qualquer infecção, concluiu a revisão. Mesmo em países com altas taxas de vacinação, são as pessoas não vacinadas que têm ampliado a transmissão do coronavírus - e que correm o maior risco de ficarem muito doentes, segundo o estudo.
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