As maiores editoras de quadrinhos do mundo intimidam artistas por NFTs

A Marvel e a DC notificaram ilustradores após a venda de um NFT que incluía um personagem de uma das empresas

A empresa começou a vender colecionáveis digitais do Homem-Aranha
Por Madis Kabash
11 de Setembro, 2021 | 03:45 PM

Bloomberg — Poucos ficarão surpresos com o fato de que, depois que um mosaico digital foi vendido por US$ 69 milhões em março como um NFT – ou token não fungível – as gigantes dos quadrinhos Marvel e DC informaram a seus artistas que não deveriam tentar o mesmo com nomes como Viúva Negra ou Batman.

Alguns desses artistas, juntamente com revendedores e analistas de todo o setor, dizem que o aviso é um golpe certeiro e que seu sustento ficou mais incerto.

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“Os criadores sempre tiveram o poder de vender suas obras originais diretamente”, disse Jason Schachter em entrevista. O revendedor de quadrinhos de Nova Jersey disse que tem sido assim há décadas – a Marvel e a DC permitiam que os artistas vendessem cópias originais de seus trabalhos quando fossem publicados.

Daniel Scott, um agente de Londres que representa quadrinistas, disse que a venda de obras originais impressas pode fazer “uma enorme diferença na renda de alguém” se essa pessoa “produzir 10 itens por mês e você puder vendê-los por US$ 2 mil cada”.

Esse sistema de valores sustenta a rede de revendedores, convenções e fãs da indústria de quadrinhos que compram, colecionam e comercializam obras originais desenhadas à mão. Os artistas costumam criar os desenhos digitalmente e depois colori-los à mão para que se qualifiquem como colecionáveis.

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Alguns ilustradores esperavam uma continuação natural desse privilégio com os NFTs. Em abril, por exemplo, o Los Angeles Times relatou que ex-artistas da Marvel e DC venderam originais digitais com a Mulher Maravilha por mais de US$ 1 milhão.

Então, as cartas começaram a chegar. As duas editoras solicitaram que os artistas suspendessem a venda de NFTs dos personagens das empresas.

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Em agosto, o plano da Marvel ficou claro quando ela começou a vender colecionáveis digitais oficiais do personagem Homem-Aranha em uma série de poses virtuais, com preço de até US$ 400 cada.

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Insatisfeitos com o acontecimento, alguns artistas foram criativos. Um deles simplesmente tirou uma foto da carta enviada pela DC e a vendeu – como um NFT – por pouco menos de US$ 2 mil.

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Contudo, de maneira mais geral, os artistas viam NFTs como uma razão para fazer experimentos. Rob Prior, conhecido por seu trabalho com a Marvel e DC, queimou uma pintura com o tema “Lobo de Wall Street” em um evento transmitido ao vivo. Ele então revelou um arquivo digital da pintura na forma de um NFT, vendido por mais de US$ 180 mil.

Um porta-voz da Marvel disse que a empresa “planeja apresentar novas oportunidades para os criadores da Marvel na plataforma da VeVe”. Os representantes da DC não quiseram comentar.

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Para desenvolver seus trabalhos digitais, os artistas criam, ou “cunham”, um NFT – essencialmente um certificado de autenticidade. Estes são registrados em livros-razão de blockchain, possibilitando o rastreamento da propriedade, dos preços de venda anteriores e do número de cópias existentes. As vendas de NFTs no maior marketplace, o OpenSea, saltaram para US$ 3 bilhões em agosto – mais de 10 vezes a contagem do mês anterior.

Embora a tecnologia já exista há muitos anos, o interesse disparou este ano (em parte graças aos day traders, à especulação de criptoativos e ao Reddit), e um número significativo de artistas tirou proveito da tendência para mantê-la nas mentes das pessoas.

Ilustradores que falaram com a Bloomberg disseram que suas preocupações recentes com NFTs faziam parte de ressalvas mais amplas sobre a possibilidade de o domínio da indústria de quadrinhos sobre publicações digitais representar um risco para lucros futuros. Paralelamente, alguns disseram, havia a questão do pagamento dos criadores por sua contribuição para o sucesso das franquias de filmes de Hollywood.

“Acredito que qualquer grande empresa que deseje trabalhar com isso só quer se aproveitar um pouco do artista”, disse Prior.

Ainda assim, nenhum artista entrevistado disse que planejava deixar de trabalhar para as duas empresas.

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