Bloomberg — A proliferação de variantes do coronavírus na África, em parte atribuída às baixas taxas de vacinação no continente, pode levar a mutações resistentes às vacinas que complicariam os esforços de acabar com a pandemia, segundo um grupo de 112 organizações africanas e 25 internacionais.
Um estudo de genomas de 33 nações africanas e dois “territórios ultramarinos”, publicado na revista Science na quinta-feira, monitora a evolução da pandemia no continente e o surgimento das chamadas variantes de preocupação e variantes de interesse. Uma delas, a beta, se espalhou pelo mundo no início do ano e tornou algumas vacinas parcialmente ineficazes.
A “lenta distribuição de vacinas na maioria dos países africanos cria um ambiente no qual o vírus pode se replicar e evoluir”, disseram as organizações. “Isso quase certamente produzirá variantes de preocupação adicionais, qualquer uma das quais poderia inviabilizar a luta global contra a Covid-19.”
Enquanto mais da metade da população dos Estados Unidos e mais de 60% das pessoas na União Europeia completaram a imunização, apenas 3,2% dos 1,2 bilhão de pessoas da África tiveram a imunização completa. Essa estatística resultou em uma terceira onda de casos de Covid-19 em muitos países e no surgimento de uma variante na África do Sul conhecida como C.1.2.
O estudo mostrou que a Covid-19 chegou à maioria das nações africanas vinda da Europa e, por sua vez, o continente exportou as variantes geradas para os países europeus. Diferentes cepas do coronavírus se espalharam pelo continente, principalmente pela África do Sul, Nigéria e Quênia - três dos países africanos com mais conexões com o resto do mundo.
A variante beta, identificada na África do Sul em dezembro, se espalhou rapidamente para o norte até a República Democrática do Congo, provavelmente ao longo das rotas rodoviárias e ferroviárias que conectam os portos do país com o subcontinente, disse o estudo.
A pesquisa é o primeiro grande estudo dos principais cientistas da África em um esforço para aumentar a capacidade do continente de produzir e analisar dados genômicos. Duas variantes na África Ocidental e na África Oriental, conhecidas como B.1.525 e A.23.1, precisam ser controladas, segundo o estudo.
O estudo foi realizado em cooperação com a Organização Mundial da Saúde e com os Centros Africanos para Controle e Prevenção de Doenças.
“Se o vírus continuar evoluindo no continente africano, isso se tornará um problema global”, disse Túlio de Oliveira, professor de bioinformática que ajudou a coordenar o estudo e dirige instituições de sequenciamento de genes em duas universidades sul-africanas. “É nosso dever moral tentar proteger a África e o mundo.”
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