Principal do dia: carta de Bolsonaro e exterior positivo trazem alívio para mercados

Breakfast: No Brasil, o clima político menos conturbado após o recuo do presidente deve apagar parte das perdas das últimas semanas

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Bloomberg Línea — Os mercados locais devem fechar a sexta-feira (10) surfando no alívio trazido pelo aparente desmonte da crise política que nublava os ativos nas últimas semanas. A carta do presidente Jair Bolsonaro, com intervenção do ex-presidente Michel Temer, recuando nas ameaças contra o Supremo Tribunal Federal foi o suficiente ontem para jogar o Ibovespa de volta à região dos 116 mil pontos em poucos minutos.

Deve ajudar, e muito, o clima ameno no exterior após a sinalização de que o Banco Central Europeu (BCE) seguirá com seu programa de recompras de títulos, embora a um passo mais lento. Às 7h45, horário de Brasília, as principais praças europeias registravam alta pela primeira vez em quatro dias. Do outro lado do oceano, os contratos futuros de ações subiam em Wall Street.

Também contribui para o bom humor o telefonema entre os presidentes americano, Joe Biden, e o chinês, Xi Jinping, numa tentativa de amenizar o desgaste nas relações entre ambos os países. A conversa, a primeira desde fevereiro, animou as operações na Ásia, onde o índice Xangai ficou no azul.

  • Futuros americanos caem, com Dow Jones (+0,51%), S&P 500 (+0,4%) e Nasdaq (+0,36%)
  • Bolsas asiáticas fecharam mistas: Tóquio/Nikkei 225 (+1,25%), Hong Kong/Hang Seng (+1,91%) e Xangai (+0,27%). Os ganhos foram impulsionados pela recuperação das ações de empresas de games chinesas, que sofreram esta semana com maior regulação por parte do governo do país.
  • Por aqui, na segunda, o Ibovespa fechou em queda de 3,78%, aos 113.412 pontos. O dólar fechou em alta de 2,91%, a R$ 5,32.

Direto de Brasília (e outros lugares)

Dois dias após discursar em Brasília e em São Paulo contra o STF e citar nominalmente os ministros Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso, o presidente Jair Bolsonaro divulgou uma carta em que atribuiu as falas enérgicas, e que citavam insurreição contra as decisões da corte, ao “calor do momento”.

  • No documento, intitulado “Declaração à Nação” e redigido com a ajuda do ex-presidente Michel Temer, o presidente apontou que não teve a intenção de agredir outros Poderes.
  • O recuo acontece ainda em meio a paralisações de caminhoneiros apoiadores do presidente por todo o país, com preocupações sobre a possibilidade de desabastecimento.
  • O presidente chegou a pedir, em um áudio encaminhado a grupos das redes sociais, que a categoria encerrasse os protestos e liberasse as rodovias.
  • Temer, responsável pela nomeação de Alexandre de Moares ao STF, disse à CNN que foi ele quem redigiu a carta de desculpas, que também foi combinada com uma ligação entre as duas figuras.
  • Leia aqui a íntegra da carta de Bolsonaro.

Segundo os principais jornais do país hoje, os ministros Ciro Nogueira, da Casa Civil, e Flávia Arruda, da secretaria de Governo, assim como o advogado-geral da União, Bruno Bianco, também tiveram envolvimento nas tentativas de apaziguar os ânimos entre os Poderes.

Na mesma hora em que a carta de Bolsonaro foi divulgada, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), aliado do presidente, também soltou uma declaração nas redes sociais.

  • O movimento de alívio político foi suficiente para reverter o sinal da bolsa brasileira e levar o dólar a uma queda de 1,79%, a R$ 5,22.
  • A expectativa agora é sobre o cumprimento da promessa de trégua entre as figuras e de possível andamento nas negociações de pautas relevantes à economia do país.

Enquanto você dormia

Após a divulgação da inflação oficial do Brasil em agosto, o mercado financeiro reforça apostas de uma maior dose no aumento da taxa Selic, o juro básico da economia, para a próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central, marcada para os dias 21 e 22 deste mês.

“O resultado de agosto segue mostrando um cenário desfavorável para a inflação, o que deve exigir uma postura cada vez mais austera do BC. Assim, as apostas do mercado para uma alta da Selic mais forte de 1,25 ponto percentual na próxima reunião do Copom devem ganhar força”

Equipe de pesquisa do Bradesco BBI, em nota

As manchetes dos jornais:

  • Valor: Falta de chip e dólar encarecem eletrônicos
  • Folha: Conversa de Bolsonaro com Moraes gera preocupação na PF sobre inquéritos que miram presidente
  • Estadão: Empresas antecipam captações para se blindar de tensão política e alta de juros
  • O Globo: Isolamento político, crise econômica e reação do STF: entenda os motivos por trás do recuo de Bolsonaro
  • NYT: Analysis: Biden’s New Vaccine Push Is a Fight for the U.S. Economy
  • WSJ: Biden Seeks to Mandate Vaccines for Most U.S. Workers
  • Washington Post: Millions of workers, firms to face Biden’s new rules on vaccines, testing

Agenda do dia

Indicadores Brasil: Vendas no varejo (9h)

Indicadores EUA: Inflação ao Produtor (9h30); Estoques no atacado (11h); Vendas no atacado (11h); Contagem de sondas Baker Hughes (14h)

  • Jair Bolsonaro: Reunião com Pedro Cesar Sousa, Subchefe para Assuntos Jurídicos da Secretaria-Geral da Presidência.
  • Paulo Guedes (Economia): Reunião com a chefe da Assessoria Especial de Assuntos Estratégicos, Daniella Marques; Annual Latam Equities Conference - Credit Suisse (virtual - fechado à imprensa); videoconferência com o presidente-executivo do Instituto Aço Brasil e coordenador da Coalizão Indústria, Marco Polo De Mello Lopes.
  • Roberto Campos Neto (BC): Profere palestra no evento “Spring Investment Meeting”, promovido pela 1618 Investimentos; participa de reunião do Consultative Council for the Americas (CCA), promovida pelo Banco de Compensações Internacionais (BIS).

--Com a colaboração de Michelly Teixeira