São Paulo — Após a divulgação da inflação oficial do Brasil em agosto, o mercado financeiro reforça apostas de uma maior dose no aumento da taxa Selic, o juro básico da economia, para a próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central, marcada para os dias 21 e 22 deste mês.
No último dia 4 de agosto, o colegiado decidiu, por unanimidade, elevar a taxa para 5,25% ao ano, observando que a “inflação ao consumidor continua se revelando persistente”. O IPCA de agosto mostrou alta de 0,87%, acima das expectativas dos analistas que esperavam avanço de 0,70%. No ano, o índice oficial de inflação acumula alta de 5,67%, enquanto em 12 meses, a alta é de 9,68%, ou seja, quase de dois dígitos.
“O resultado de agosto segue mostrando um cenário desfavorável para a inflação, o que deve exigir uma postura cada vez mais austera do BC. Assim, as apostas do mercado para uma alta da Selic mais forte de 1,25 ponto percentual na próxima reunião do Copom devem ganhar força”, comentou a equipe de pesquisa do Bradesco BBI.
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No mês passado, o Copom mencionava novas pressões nos preços, como “uma possível elevação do adicional da bandeira tarifária e os novos aumentos nos preços de alimentos, ambos decorrentes de condições climáticas adversas”. Esse cenário se confirmou: no último dia 31 de agosto, a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) anunciou a criação de uma nova bandeira tarifária na conta de luz, chamada de bandeira de escassez hídrica.
A taxa extra será de R$ 14,20 para cada 100 kilowatt-hora (KWh) consumidos e entrou em vigor no último dia 1º setembro, permanecendo vigente até abril do ano que vem. O novo patamar representa um aumento de R$ 4,71, cerca de 50%, em relação à bandeira vermelha patamar 2, até então o maior patamar, no valor R$ 9,49 por 100 kWh.
Combustíveis e alimentos
A exemplo do Bradesco BBI, a Ativa Investimentos também prevê o quinto aumento consecutivo da taxa Selic neste mês, em uma dosagem maior do que a da última reunião (1 ponto percentual). O ciclo de alta dos juros começou em março com avanço de 0,75 ponto percentual, para 2,75%, e repetiu essa dose em maio e junho.
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“Com eventuais desdobramentos sobre as expectativas de 2022, a autoridade monetária deverá acelerar o passo do juro, elevando a Selic em 1,25 ponto percentual já na próxima reunião”, segundo Étore Sachez, economista-chefe da Ativa Investimentos, que se surpreendeu com o peso do reajuste da gasolina e da alimentação em domicílio.
No mês passado, as maiores contribuições para o IPCA foram dos componentes de transportes, alimentação e bebidas. O resultado de transportes (1,46% na variação mensal) foi influenciado pela alta dos combustíveis (2,96%). A gasolina subiu 2,80% e teve o maior impacto individual no índice do mês (0,17 ponto percentual). No grupo alimentação e bebidas, a alta de 1,39% em agosto ficou acima da registrada no mês anterior (0,60%). A alimentação no domicílio subiu 0,78% para 1,63% em agosto. A batata inglesa é o principal vilão com reajuste de 19,91%. Já o café moído subiu 7,51%.
Já o banco americano Goldman Sachs também considerou que o IPCA de agosto veio acima do consenso do mercado (0,70%), citando uma elevada e rápida disseminação das pressões inflacionárias.
“Para a próxima reunião do Copom, nós esperamos pelo menos um aumento da Selic em 1 ponto percentual”, revelou a instituição em relatório, acrescentando que os dados já contaminam as previsões para inflação de 2022, o que pode forçar o Copom a colocar a Selic acima do patamar neutro na próxima reunião.
Para a consultoria GO Associados, o câmbio é atualmente o principal fator de pressão para alguns itens da inflação, como o gás de cozinha e os combustíveis. “Outros fatores, como a crise hídrica e a retomada do setor de serviços também pressionam o ritmo de aumento dos preços”, analisou.
Depois da divulgação do IPCA de agosto, a consultoria atualizou sua projeção do indicador para 2021, de 7,3% para 7,6%, citando a perspectiva de um câmbio em patamar mais alto pelo restante do ano e a confirmação da bandeira de escassez hídrica.
“A alimentação fora do domicílio deve contribuir ainda mais para a inflação nos próximos meses, dada a retomada de atividades em bares e restaurantes”, destacou a GO Associados.
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