São Paulo — A crescente instabilidade política e institucional no Brasil preocupa o setor automotivo, que teme um impacto negativo na confiança do consumidor na hora de comprar um automóvel. O presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), Luiz Carlos Moraes, disse, nesta quarta-feira (8), que as montadoras já enfrentam, desde o ano passado, problemas como a escassez de insumos, como semicondutores, e que os últimos eventos políticos não ajudam na retomada do setor.
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“O que aconteceu nas últimas semanas, o que aconteceu ontem não ajuda na retomada. Resolvido esse problema dos semicondutores - e a gente vai resolver senão neste final de ano, mas para o início do ano que vem - a gente tem a preocupação do impacto dessa instabilidade política afetar a demanda, ou seja, as pessoas ficarem preocupadas, não consumirem. Isso tem um impacto na economia em geral. Então, a gente vê com preocupação sim. Acho que a palavra mais adequada é bastante preocupação pelo atual momento econômico, político e institucional do país”, disse Moraes, em entrevista coletiva virtual.
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Ontem, o presidente Jair Bolsonaro usou dois eventos do feriado do Dia da Independência para fazer ameaças a ministros do STF (Supremo Tribunal Federal), pregando a desobediência às ordens da corte do órgão máximo do Poder Judiciário, em um novo capítulo de sua cruzada para recuperar a base de apoiadores, a quase um ano da próxima eleição presidencial, em meio à queda de popularidade e notícias negativas no front econômico, como o PIB negativo no segundo trimestre, a taxa recorde de desemprego e o descontrole da inflação.
O presidente da Anfavea expressou hoje receio de que as reformas estruturais, em tramitação no Congresso Nacional, sofram um adiamento. “A gente tem a preocupação de que, por exemplo, a reforma tributária tenha algum atraso, outros projetos relevantes que estão no Congresso tenham algum atraso, e isso dificulte a implementação das reformas tão necessárias que a Anfavea sempre defendeu e continua contribuindo com conteúdo e sugestões. Nós vamos continuar atuando, tentando colaborar com sugestões na reforma tributária, na melhora do ambiente de negócio, na redução do Custo Brasil. Vamos ver se a gente continua mantendo a agenda, apesar dessa instabilidade política e institucional”, afirmou.
Moraes disse que as montadoras ainda estão com dificuldades de planejamento de produção, após os gargalos industriais do primeiro ano da pandemia da Covid-19, e que agora a instabilidade política se adiciona como novo entrave no caminho da recuperação.
“No ano passado, a gente tinha dificuldades de planejar a demanda, porque estava aquela confusão, sistema de produção retomando, lojas fechadas, etc., mas a gente teve uma retomada muito grande, atendendo uma demanda que foi reprimida principalmente no segundo trimestre. Entramos esse ano com problema de oferta. A gente teve falta de pneus, falta de alguns componentes, borrachas, depois esse tema aumentou o custo, aí tinha falta de contêiners, logística muito complexa etc., e agora o grande tema é semicondutor. Então, a gente já está com muito tema que a gente está tentando fazer gestão. É um tema que cabe ao setor privado resolver”.
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Em agosto, o desempenho da indústria automobilística brasileira refletiu esse cenário desafiador. No mês passado, o número de emplacamentos no mercado interno somou 172,8 mil veículos, uma queda de 1,5% em relação a julho (175,5 mil) e uma redução maior, de 5,8% na comparação com agosto do ano passado (183,4 mil). O dado positivo é o aumento das exportações.
Em agosto, houve um crescimento de 23,9% em relação a julho e de 5,5% na comparação com mesmo período de 2020. No mês passado, o Brasil exportou 29,4 mil veículos. Isso se deve porque alguns embarques que não conseguiram ser feitos em julho se concentraram no mês de agosto, segundo Moraes.
“As empresas estão fazendo um esforço muito grande para atender e acelerar seus contratos de exportação”, explicou o presidente da Anfavea.
A Anfavea divulgou ainda que, apesar das paralisações totais ou parciais de 11 fábricas ao longo do mês de agosto, por conta da crise dos semicondutores, o esforço logístico das montadoras permitiu que a produção de 164 mil unidades superasse em 0,3% o volume de julho. Houve queda de 21,9% na produção em relação a agosto de 2020, quando ainda não havia falta de componentes eletrônicos. Este foi o pior resultado para um mês de agosto desde 2003.
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