Ibovespa despenca e dólar sobe no ‘day after’ das manifestações

Após feriado nos EUA na segunda (6) e por aqui na terça (7), o dólar pega carona no avanço da divisa americana no exterior. CDS de títulos brasileiros, que indicam risco do país, sobem no exterior

Clima misto no exterior e tensões políticas domésticas levam o Ibovespa a perder o patamar dos 116 mil pontos no início da sessão
08 de Setembro, 2021 | 11:28 AM

São Paulo — O principal índice da B3 caía 1,6% nos primeiros minutos de pregão, abaixo do patamar dos 116 mil pontos, com o mercado avaliando os riscos das manifestações da véspera, marcadas por ameaças nos discursos do presidente Jair Bolsonaro em Brasília e em São Paulo. O dólar segue a tendência de absorver riscos também avança, agravado ainda pela alta da divisa norte-americana lá fora, assim como a curva de juros, que opera no azul refletindo as instabilidades domésticas.

De acordo com relatório do BTG Pactual Digital, o mês de setembro será decisivo para o rumo do câmbio. “O cenário de acomodação da taxa de câmbio observado nos últimos trinta dias, com redução da volatilidade e cotação fechando o período praticamente no “zero a zero”, pode não se repetir nas próximas semanas”, conforme análise da equipe de macro research liderada por Álvaro Frasson.

“As agendas internacional e nacional serão intensas do ponto de vista fiscal e monetário, além dos eventos de caráter político que podem alterar as propensões ao risco dos players do mercado.”

O clima misto no exterior também não ajuda. As bolsas europeias e americanas operam no vermelho, com investidores avaliando dados econômicos e a recuperação da economia global.

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  • Perto das 11h00, o Ibovespa caía 1,64%, a 115.940 pontos
    • As blue chips são os maiores pesos negativos no índice. Vale (VALE3) caía 1,93%, somando o sentimento negativo doméstico ao recuo forte dos preços do minério de ferro
    • Nos EUA, o EWZ, ETF de ações brasileiras negociado em Nova York, caía 2,22%
    • Já os CDS (credit default swaps) dos títulos brasileiros, um indicador importante para risco de investidores internacionais, avançavam a US$ 177.595 para ativos com 5 anos de vencimento (alta de US$ 1.198 nesta manhã) e a US$ 270.518 para 10 anos (alta de US$ 1.876)
    • Os CDS vinham caindo desde o início de agosto. A alta de hoje ainda está longe do pico de março deste ano (US$ 230 mil para 5 anos e US$ 310 mil para 10 anos)
  • O dólar subia 1,25%, a R$ 5,23, com a curva de juros seguindo o mesmo movimento. O DI com vencimento para janeiro próximo avançava 4 pontos-base, para 6,915%, enquanto o juro para janeiro de 2027 subia 9 pontos-base, para 10,360%
  • Nos EUA, o S&P 500 caía 0,03% e o Nasdaq, 0,33%, enquanto o Dow Jones tentava se firmar em território positivo, subindo 0,07%

Contexto

A avaliação de economistas e especialistas é de que o tom elevado do presidente ontem (7) tornará ainda mais complicada a tramitação do Orçamento para 2022 e as negociações para reformas.

As reações dos demais Poderes também têm sido acompanhadas de perto pelo mercado.

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), resolveu suspender as sessões da Casa agendadas para hoje e amanhã após as instabilidades geradas na última terça.

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), ainda não se manifestou sobre a tensão entre o Executivo e o Judiciário.

No Judiciário, é esperado que o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, faça um pronunciamento sobre o caso na abertura da sessão desta quarta. Fux tem sido o principal fiador de uma solução que limite o tamanho das despesas com precatórios no Orçamento.

A previsão de gastos com precatórios é de R$ 89 bilhões na peça encaminhada pelo governo ao Congresso. Fux defendia uma saída em que esta despesas fosse limitada à casa de R$ 50 ou 55 bilhões através de resolução do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), o que abriria espaço no orçamento para o governo criar o novo Bolsa Família.


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Kariny Leal

Jornalista carioca, formada pela UFRJ, especializada em cobertura econômica e em tempo real, com passagens pela Bloomberg News e Forbes Brasil. Kariny cobre o mercado financeiro e a economia brasileira para a Bloomberg Línea.