Bolsonaro reforça base em manifestações, sem atrair moderados

Para analistas políticos, presidente agora tenta garantir o apoio de sua base mais fiel, mas a radicalização não o ajudará nas pesquisas

Apoiadores de Bolsonaro durante comício no Dia da Independência em São Paulo, 7 de setembro
Por Peter Millard e Simone Iglesias
08 de Setembro, 2021 | 09:06 AM

Bloomberg — O presidente Jair Bolsonaro reuniu milhares de seguidores nas marchas pró-governo de terça-feira que buscavam fortalecer sua base política, mas não conseguiram atrair os moderados que o levaram ao poder.

Em discurso para uma multidão em Brasília e São Paulo, Bolsonaro fez duras críticas ao Supremo Tribunal Federal e às autoridades eleitorais. Ainda assim, problemas como aumento do desemprego e preços dos alimentos e energia elétrica em alta pesam sobre suas perspectivas de reeleição. A taxa de aprovação do presidente caiu para cerca de 25%, e Bolsonaro tenta reverter a tendência antes das eleições de 2022.

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Jair Bolsonaro acena para seguidores em São Paulo, 7 de setembro.Fotógrafo: Jonne Roriz / Bloomberg

Carolina Botelho, cientista política da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, diz que, apesar de sua base ter ido às ruas, não representa a maioria dos eleitores brasileiros. Segundo ela, Bolsonaro não fez nada para ampliar sua base, pois “estava pregando para os convertidos”.

Bolsonaro intensificou sua retórica nos últimos meses com críticas ao Supremo sobre decisões que, segundo o presidente, vão além da autoridade dos ministros do STF, além de fazer alegações sem provas de fraude eleitoral.

“Não vamos mais admitir que pessoas como Alexandre de Moraes continuem a açoitar a nossa democracia e desrespeitar a nossa Constituição Federal”, disse Bolsonaro em São Paulo sobre o ministro do STF, que autorizou investigações contra o presidente e aliados por supostos ataques à democracia. “Nunca serei preso.”

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Na terça-feira, Moraes disse que a democracia precisa ser respeitada. O governador de São Paulo, João Doria disse publicamente pela primeira vez que apoia o impeachment de Bolsonaro. A liderança do PSDB planeja se reunir para discutir a posição do partido sobre a abertura de um processo de impeachment, caminho ainda com poucas chances de sucesso devido à aliança do presidente com partidos do centrão.

Mário Braga, analista sênior para o Brasil da Control Risks, destaca que os eleitores de Bolsonaro não vão deixá-lo agora, mas aumentar a radicalização não o ajudará nas pesquisas, acrescentando que o presidente agora tenta garantir o apoio de sua base mais fiel.

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Manifestantes pró-Bolsonaro em São Paulo, 7 de setembro.Fotógrafo: Jonne Roriz / Bloomberg

Conflito aberto

Alguns manifestantes pró-Bolsonaro defenderam abertamente uma intervenção militar. De fato, o conflito aberto do presidente com os outros Poderes fez com que os setores bancário e agrícola, que foram alguns dos pilares para sua eleição, se manifestassem contra o presidente.

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Ainda assim, Bolsonaro teve motivos para comemorar, já que as amplas manifestações em diferentes cidades foram pacíficas, o que trouxe certo alívio para investidores ansiosos. O ETF iShares MSCI Brazil chegou a subir 3,2% no início da sessão em Nova York, a máxima intradiária em uma semana, antes de devolver a maior parte dos ganhos.

Manifestantes pró-Bolsonaro em Brasília, 7 de setembro.Fotógrafo: Gustavo Minas / Bloomberg

Mas Bolsonaro tem ainda tem uma série de desafios pela frente. A CPI da pandemia no Senado continua a revelar sinais de supostas irregularidades, negadas pelo governo, como na compra de vacinas contra a Covid-19.

Contra um pano de fundo tão turbulento, Bolsonaro insinuou a possibilidade de ruptura democrática em seus discursos para inflamar partidários e atacar as instituições do país, especialmente o Supremo. Lançar dúvidas sobre a imparcialidade do sistema eleitoral pelo qual foi eleito também se tornou bandeira de campanha.

“Bolsonaro continuará testando os limites”, disse Botelho.

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