Zeina Latif: “Imagine um CEO tendo de justificar investimento aqui depois de hoje”

Economista afirma que presidente preferiu dobrar a aposta e provocar “deterioração institucional”. Analista político afirma que governo perdeu controle da agenda

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Bloomberg Línea — A economista Zeina Latif considerou que os atos liderados por Jair Bolsonaro neste 7 de Setembro expuseram a indiferença do presidente quanto aos problemas urgentes e serão um fator de peso no agravamento de incertezas e riscos com que o país é avaliado internacionalmente.

Segundo ela, o presidente tinha a possibilidade de moderar o discurso, “mas dobrou a aposta” e provocou “deterioração institucional”.

“O que aconteceu hoje machuca muito. Sempre fomos um país de renda média com desafios, como a necessidade de fazer reformas, mas tinha instituições funcionando. O que aconteceu hoje trouxe um ingrediente novo”, afirmou a economista em entrevista à Bloomberg Línea.

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“Recuperar a imagem custa muito caro e demora”, disse a ex-economista chefe da XP Investimentos e hoje consultora.

O tom que o presidente adotou em Brasília e em São Paulo, onde disse que não cumpriria mais ordens do ministro do STF Alexandre de Moraes, terá reflexos no país, afirma.

A economista propõe uma reflexão: “Estamos no segundo semestre, período em que muitas empresas tomam a decisão de investimento para o ano seguinte. Agora, imagine o CEO de uma multinacional tendo de justificar investimento no Brasil depois de hoje”

“Tem que tomar a decisão já com muitas camadas de incerteza, com uma crise que envolve água e energia, além de toda a questão fiscal e a eleição. O tom de confrontação de hoje adicionou mais uma camada na incerteza já existente”.

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Na interpretação da economista, o eleitor médio brasileiro não gosta de confrontação, mas Bolsonaro optou por falar diretamente com sua base e buscar reforçar sua posição junto a seus apoiadores mais fiéis. Apoiadores do presidente são alvos de investigações autorizadas por Alexandre de Moraes para apurar a disseminação de notícias falsas e o financiamento de atos antidemocráticos.

Perda do controle da agenda

Rafael Cortez, analista político e sócio da consultoria Tendências, afirma que o comportamento do presidente representa um risco para o debate atual, o que prejudica a agenda econômica. Ele não vê, contudo, ambiente político para um impeachment. Os governadores do PSDB, João Doria (SP) e Eduardo Leite (RS), passaram a defender abertamente a ideia hoje.

“O status quo é negativo do ponto de vista econômico. O governo perdeu o controle da agenda, não consegue controlar o que vai ser votado, nem quando”, disse.

Em um aspecto seu diagnóstico coincide com o de Zeina Latif: “Aos olhos do presidente, essas manifestações têm como objetivo constranger eventuais decisões do STF e do TSE contra ele. Não é nem mais aumentar as chances de reeleição, mas de evitar esse perigo”, avaliou o analista político.

E ele destacou um outro aspecto problemático - a encrenca fiscal representada por R$ 89 bilhões em precatórios lançados no ano que vem. “O STF é uma organização central na saída dos precatórios. Se tiver algum efeito, o Judiciário pode lavar as mãos e não conseguir achar uma solução para o problema”, afirmou.

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