Ex-diretor de assuntos internacionais do Banco Central e ex-economista-chefe dos bancos ABN Amro e Santander, o economista Alexandre Schwartsman lê as manifestações pró-Bolsonaro deste 7 de Setembro como “mais do mesmo”, que eletriza a bolha de apoiadores do presidente em torno de uma “pauta improdutiva”.
“É mais do mesmo, o presidente está blefando com um par de 2 e não sabe”, disse Schwartsman à Bloomberg Línea.
A metáfora com a mão mais temerária do pôquer ilustra o entendimento que o economista tem de que o presidente não tem apoio suficiente, seja no Congresso ou nas Forças Armadas, para impor uma guinada autoritária no país. E prefere antagonizar seletivamente ministros do Judiciário para animar sua base eleitoral.
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“Esses discursos foram feitos antagonizando com o Judiciário, mas não com o Congresso, nem com o Centrão. Isso eletriza a base dele com temas improdutivos, como o do voto impresso, que inclusive já foi derrotado no Congresso, mas ele fica insistindo”, afirmou o economista que hoje lidera a consultoria Schwartsman e Associados.
Segundo o economista, o problema fiscal, que continua pesando nas expectativas negativas sobre o país, está de lado. Ele aponta que a inflação acima da meta deve engolir o espaço gerado no teto de gastos para novas despesas porque muitas delas União estão atreladas a índices como o IPCA.
“Esse dólar não está aí [entre R$ 5,10 e 5,20] por acaso. Se você observar o que está acontecendo com as commodities no mundo e vários outros fatores externos neste momento, por exemplo, era para estar a R$ 4,50, se não ainda menos”
Alexandre Schwartsman, economista
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Schwartsman cita o exemplo da solução desenhada para os precatórios – com o Judiciário limitando o valor dessas despesas para abrir espaço no Orçamento Geral da União – como um dos problemas fiscais imediatos do governo ainda em aberto.
“O Fux deu uma acenadinha ao presidente [trabalhando por uma limitação das despesas com precatórios], o que na minha opinião é uma péssima abordagem para o problema, mas resolveria a questão do Orçamento do ano que vem”, disse.
E completou: “Mas ainda é um Orçamento de brincadeirinha porque o governo não pretende pagar R$ 89 bilhões como estão previstos na peça, que não traz sequer o novo Bolsa Família, que é a prioridade do governo”.
Sobre o risco de haver ou não uma ruptura institucional, Schwartsman pontua, com ironia: “Desse mato, felizmente, eu acho que não sai coelho.”
Este vídeo explica o que são precatórios e como eles se tornaram uma bomba fiscal:
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