São Paulo — Em um discurso de pouco mais de 20 minutos na avenida Paulista, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) aumentou o tom dos ataques ao Supremo Tribunal Federal feitos pela manhã em Brasília, citando nominalmente os ministros Alexandre de Moraes, a quem chamou de “canalha”, e Luís Roberto Barroso, a quem acusou de “patrocinar uma farsa” na eleição de 2022.
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Bolsonaro pregou a desobediência às decisões judiciais de Alexandre de Moraes, relator no Supremo Tribunal Federal do inquérito que apura o financiamento de atos antidemocráticos e a difusão de fake news.
“Sai, Alexandre de Moraes. Deixa de ser canalha. Deixa de oprimir o povo brasileiro. Deixa de censurar o seu povo”, discursou o presidente, diante de uma multidão em trecho próximo ao Parque Trianon, em São Paulo.
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E pregou a desobediência: “Qualquer decisão do senhor Alexandre de Moraes este presidente não mais cumprirá”. A multidão respondeu com gritos de “eu autorizo”.
“Temos um ministro dentro do supremo. Ou esse ministro se enquadra ou pede pra sair. Não podemos aceitar que uma pessoa só, um homem só turve a nossa democracia”.
Bolsonaro também fez referência à decisão de Alexandre de Moraes, relator do inquérito sobre fake news, de ordenar a tomada de depoimento pela Polícia Federal do empresário americano Jason Miller, ex-braço-direito de Donald Trump, nesta terça-feira, em Brasília.
“Não vamos mais admitir que pessoas, como Alexandre de Moraes, continuem a açoitar a nossa democracia e desrespeitar a nossa Constituição. Ele teve todas as oportunidades para agir com respeito a todos nós, mas não agiu dessa maneira, como continua a não agir, como agora a pouco interceptou um cidadão americano para ser inquirido por atos antidemocráticos, uma vergonha para o nosso país, patrocinada por Alexandre de Moraes”, disse o presidente.
Ataques ao voto eletrônico
Logo depois, Bolsonaro voltou a atacar o sistema eleitoral no país e acusar, sem provas, de falta de lisura nas urnas eletrônicas. A Câmara dos Deputados derrubou proposta de emenda constitucional para restabelecer o voto impresso.
“Não podemos admitir um sistema eleitoral que não oferece qualquer segurança. Não é uma pessoa do Tribunal Superior Eleitoral que vai nos dizer que este processo é seguro e confiável, porque não é. Não podemos admitir um ministro do Tribunal Superior Eleitoral, usando a sua caneta, desmonetizar páginas que criticam esse sistema de votação”.
No último dia 16 de agosto, o corregedor-geral da Justiça Eleitoral, ministro Luis Felipe Salomão, determinou que o YouTube, Twitch TV, Twitter, Instagram e Facebook parem de repassar os valores de monetização a investigados no inquérito do TSE que investiga notícias falsas contra o sistema eletrônico de votação e as eleições de 2022.
“Não é uma pessoa no TSE que vai nos dizer que esse processo é seguro e confiável, [...] que usa a caneta para desmonetizar páginas que criticam esse sistema de votação. O que queremos é voto auditável e contagem pública do voto”, disse.
E aí investiu direto contra Barroso, que preside o TSE: “Nós queremos eleições limpas, auditáveis e com contagem pública dos mesmos. Não posso participar de uma farsa como essa patrocinada pelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral.”
No discurso de São Paulo, Bolsonaro não voltou a falar em convocar o Conselho da República, como havia dito em Brasília.
O colegiado com os chefes de Poderes e líderes de situação e oposição no Congresso tem previsão constitucional para atuar em casos graves, como a decretação de estado de sítio ou de defesa. As assessorias de Luiz Fux (STF), Rodrigo Pacheco (Senado) e Arthur Lira (Câmara) informaram que não há nenhuma previsão de reunião.
Governadores do PSDB falam em impeachment pela 1ª vez
Os governadores do PSDB, João Doria (SP) e Eduardo Leite (RS), que são pré-candidatos à sucessão presidencial, falaram pela primeira vez hoje de uma adesão do partido ao impeachment do presidente Bolsonaro. Mais cedo, o presidente nacional da legenda, Bruno Araújo, disse que convocaria a executiva nacional do partido para discutir um pedido de afastamento de Bolsonaro.
Em entrevista coletiva em São Paulo, Doria defendeu o impeachment do presidente e defendeu que o PSDB deixe a posição de neutralidade no Congresso para fazer oposição aberta a Bolsonaro.
Em visita à Expointer, feira agropecuária em Esteio (RS), Eduardo Leite disse que os ataques do presidente ao STF foram graves e que podem ter como consequência o impeachment.
Enquanto a manifestação pró-Bolsonaro ocorria na avenida Paulista, apoiadores, sindicatos e políticos de partidos de esquerda ocupavam o Vale do Anhangabaú, no centro histórico da capital, em um protesto contra o governo. O ex-candidato à Presidência da República e à Prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos (PSOL), defendeu o impeachment de Bolsonaro. “O Brasil é maior do que uma família de milicianos com medo da cadeia e nenhuma proposta para o país”, manifestou-se.
Boulos e Haddad
Enquanto a manifestação pró-Bolsonaro ocorria na avenida Paulista, apoiadores, sindicatos e políticos de partidos de esquerda ocupavam o Vale do Anhangabaú, no centro histórico da capital, em um protesto contra o governo.
O ex-candidato à Presidência da República e à Prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos (PSOL), defendeu o impeachment de Bolsonaro. “O Brasil é maior do que uma família de milicianos com medo da cadeia e nenhuma proposta para o país”, manifestou-se.
Já Fernando Haddad (PT), também ex-candidato à Presidência e ex-prefeito de São Paulo (2013-2016), também saiu na defesa do impeachment. “Em um país minimamente democrático, Bolsonaro seria afastado das suas funções e preso. Só pelo espetáculo grotesco de hoje, que avacalha o Brasil diante do mundo”, afirmou.
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