Bolsonaro faz ameaça ao STF em discurso para multidão na Esplanada dos Ministérios

“Ou o chefe desse Poder enquadra o seu ou esse Poder pode sofrer aquilo que nós não queremos”, disse Bolsonaro. Atos têm forte participação em Brasília, São Paulo e Rio

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São Paulo — O presidente Jair Bolsonaro fez críticas veladas ao Poder Judiciário, em discurso, no fim da manhã desta quarta-feira (7), diante de milhares apoiadores aglomerados na Praça dos Três Poderes, em Brasília, por ocasião da comemoração do feriado do Dia da Independência.

Ou o chefe desse Poder enquadra o seu ou esse Poder pode sofrer aquilo que nós não queremos, porque nós valorizamos, reconhecemos e sabemos o valor de cada poder da República”, disse o presidente, sem especificar o que seria o “sofrer aquilo que não queremos”.

“Nós não mais aceitaremos que qualquer autoridade, usando a força do Poder, passe por cima da nossa Constituição. Não mais aceitaremos qualquer medida, qualquer ação ou qualquer certeza que venha de fora das quatro linhas da Constituição. Nós também não podemos continuar aceitando que uma pessoa específica da região dos Três Poderes continue barbarizando a nossa população”, disse o presidente.

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Bolsonaro faz uma referência indireta ao presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Luiz Fux, e ao ministro Alexandre de Moraes, relator do inquérito das fake news.

Ele também mencionou, indiretamente, a prisão de apoiadores do presidente, decretadas por Alexandre de Moraes no curso do inquérito que apura o financiamento de atos antidemocráticos. “Não podemos aceitar mais prisões políticas no nosso Brasil”, afirmou.

Bolsanaro defendeu ainda a saída de “quem age fora dela [da Constituição]”. “ Nós todos aqui na Praça dos Três Poderes juramos respeitar a nossa Constituição. Quem age fora dela se enquadra ou pede para sair”, disse.

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No mês passado, Bolsonaro apresentou um pedido de impeachment contra o ministro Alexandre de Moraes, mas o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), arquivou sumariamente a petição.

Um dos filhos de Bolsonaro, o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) tuitou minimizando a ameaça, negando que se tratasse de ataque ao STF nem ao Congresso, mas reforçou o endereço a Alexandre de Moraes, sem citá-lo nominalmente.

A resposta de Alexandre de Moraes no Twitter

Principal alvo do discurso do presidente, o ministro Alexandre de Moraes escreveu, no Twitter, que a Independência se fortalece com “absoluto respeito à Democracia”. A primeira reação institucional foi a conta oficial do Supremo Tribunal Federal retuitando a mensagem do ministro.

O ministro Luís Roberto Barroso, que também preside o Tribunal Superior Eleitoral e é um desafeto usual do presidente da República, usou as redes sociais para defender o processo eleitoral.

Atos atraem multidões em SP, Brasília e Rio

Bolsonaro conseguiu uma demonstração de força nas ruas. Em Brasília, uma multidão – ainda não estimada pela Polícia Militar – começou a se formar no gramado da Esplanada dos Ministérios ainda de madrugada.

Antes de discursar em um caminhão de som em Brasília, o presidente participou da tradicional cerimônia de hasteamento da bandeira, ao lado do vice-presidente Hamilton Mourão e de ministros. Nem o presidente do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, nem os presidentes do Senado e da Câmara compareceram.

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As manifestações deste 7 de Setembro estão sendo planejadas há várias semanas, com apoiadores do presidente tendo ido a Brasília em caravanas de outros Estados. Bolsonaro se empenhou pessoalmente na mobilização da sua base em um contexto em que o presidente enfrenta críticas crescentes por conta da inflação dos alimentos e dos combustíveis.

Em São Paulo, onde o presidente deve discursar por volta das 16h, a avenida Paulista está com o trânsito interrompido por dois quilômetros (entre a Brigadeiro Luís Antônio e a Praça do Ciclista). A maior concentração encontra-se no trecho entre a sede da Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo) e o prédio do Masp. No Rio, a manifestação ocorre na avenida Atlântica, em Copacabana.

Também há manifestações contrárias ao presidente em Brasília, São Paulo e Rio, mas o número é bastante inferior ao de apoiadores de Bolsonaro. Em São Paulo, o ato contra o presidente está marcado para as 14h no Vale do Anhangabaú.

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