Bloomberg — Ao buscar a palavra Klarna no TikTok, é possível encontrar jovens que minimizam dívidas acumuladas usando o popular aplicativo “compre agora, pague depois”. Alguns dançam com a legenda “dívida paralisante” depois de aparecerem usando o Klarna para comprar roupas. Outros compartilham vídeos com pedidos de pagamento da empresa, sobrepostos por uma frase de uma música remixada: “Sei que você está obcecado por mim”.
Um vídeo do TikTok postado por Joella Louisa traz a legenda: “Quando você está usando uma roupa nova e o Klarna te envia um lembrete sobre o pagamento”. Ela parece elegantemente chocada com esse desagradável banho de realidade. Mas isso não é o suficiente para desencorajá-la. “No passado, quando não tinha dinheiro, simplesmente não conseguia fazer compras”, disse Louisa à Bloomberg News. “Agora, com o Klarna, eu posso.”
É essa faca de dois gumes da mania “BNPL” (sigla em inglês para compre agora, pague depois) que preocupa reguladores financeiros: jovens fashionistas no TikTok reconhecem o potencial perigo de se endividarem no curto prazo usando esses aplicativos na hora da compra, mas a tentação pode ser muito grande. Agências de classificação de risco temem que essa opção de financiamento cada vez mais onipresente possa incentivar empréstimos imprudentes.
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O apelo óbvio do Klarna para consumidores millennials e da Geração Z (a idade média dos clientes é de 33 anos) ajudou a empresa a conseguir valoração de US$ 45,6 bilhões em uma recente rodada de financiamento liderada pelo Vision Fund 2, do SoftBank. A empresa sueca em rápida expansão, que opera em grande parte do norte da Europa, está investindo pesado nos EUA. Diz que é a fintech mais valiosa do mundo depois da Stripe. Um investidor, a Chrysalis Investments, disse ao jornal britânico Times que a empresa poderia ser avaliada em US$ 125 bilhões em 18 meses, mais do que o HSBC.
Outras fortunas também surgem nesse setor. A Square, uma plataforma de pagamentos digitais liderada por Jack Dorsey do Twitter, fechou um acordo para comprar a Afterpay, provedora australiana de BNPL, por US$ 29 bilhões. Essas fintechs novatas dizem que são melhores do que empresas de cartão de crédito porque não cobram juros elevados e taxas dos clientes. “O modelo de cartão de crédito é simplesmente insustentável para consumidores”, disse o fundador do Klarna, o bilionário Sebastian Siemiatkowski, a investidores na semana passada.
O aplicativo simples e cor-de-rosa do Klarna - que depende de uma análise rápida de crédito usando um algoritmo - permite que consumidores paguem pela compra até 30 dias depois ou parcelem o valor em três ou quatro vezes em um período mais longo. Siemiatkowski diz que mais de 98% das transações são isentas de juros.
A fintech ganhe a maior parte do dinheiro cobrando dos varejistas: as empresas pagam até 3,4% de cada transação mais 20 pence (28 centavos de dólar) pelo produto da categoria “pague em 30 dias”. Os 90 milhões de usuários do Klarna podem usar o aplicativo em uma série de lojas online e físicas, incluindo ASOS, H&M, Lululemon e Urban Outfitters. A empresa avalia que os varejistas que oferecem a opção BNPL observam um aumento de aproximadamente 45% no valor médio do pedido.
É essa atitude aparentemente despreocupada em relação ao crédito que tem incomodado supervisores do setor bancário, especialmente porque o setor de BNPL permanece amplamente fora de sua jurisdição. Segundo uma revisão da Autoridade de Conduta Financeira do Reino Unido, o “mercado que mais do que triplicou de tamanho em 2020 representa danos potenciais aos consumidores e precisa ser regulado”.
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