O Ministério da Agricultura confirmou hoje a ocorrência de dois casos atípicos de BSE (sigla em inglês para encefalopatia espongiforme bovina), a doença da “vaca louca”, em frigoríficos de Nova Canaã do Norte (MT) e de Belo Horizonte (MG). A notícia vai mover os mercados de commodities na próxima semana, já que o Brasil suspendeu cautelarmente a exportação de carne bovina para a China, o maior importador.
Reunimos as principais dúvidas que pairam sobre o caso e apresentamos respostas de especialistas e das autoridades com base nas informações disponíveis até as 13h50 deste sábado, 3 de setembro.
#1 Não é um surto
No Brasil há mais boi do que gente. Estima-se que haja 215 milhões de cabeças de gado para uma população de 211 milhões de bípedes humanos.
Segundo a Secretaria de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) os dois casos são ATÍPICOS, isto é, ocorreram em animais de idade avançada; e não em uma contaminação maciça de rebanhos por causa de alimentação.
Desde os anos 1990, o Brasil proíbe ração de origem animal para os rebanhos bovinos – um dos vetores dos surtos de vaca louca no Reino Unido.
Veja mais: #2 Não, você não vai comer carne de vaca louca porque o Brasil suspendeu exportações
A suspensão de exportações é uma medida preventiva, fruto de um acordo entre o Brasil, maior exportador de carne do mundo, com a China, maior importador. As exportações ficam suspensas temporariamente a partir deste sábado (4) e o auto-embargo vai durar até que as autoridades chinesas concluam a avaliação das informações já repassadas sobre os casos. No último caso atípico registado em 2019, os embarques ficaram suspensos por 13 dias.
Tanto a carne comercializada aqui quanto a que é exportada passa por inspeções sanitárias e só frigoríficos que atendem às normas estaduais e federais podem vender animais abatidos.
#3 Não há risco para a saúde da população nem dos rebanhos, segundo autoridades
Os dois casos da doença foram confirmados pelo laboratório de referência da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), em Alberta, no Canadá. Como são casos atípicos, isto é, diferente de um surto, não há risco para a saúde humana e animal, segundo a OIE.
Estes são o 4º e o 5º casos da doença registrados em mais de 23 anos de vigilância para a doença. O Brasil nunca registrou a ocorrência de caso de vaca louca clássica, aquele gerado por contaminação de ração e que se espalha pelos rebanhos.
#4 Como os dois casos foram descobertos?
Os dois casos foram detectados na semana passada em dois frigoríficos, um em Mato Grosso outro em Minas Gerais. Foram detectados durante inspeção ante-mortem, isto é, depois que os animais morreram e estavam deitados no chão dos currais. As duas vacas, segundo as informações do Ministério da Agricultura, eram vacas de descarte por causa da idade avançada.
#5 O preço da carne vai baixar?
Cedo para dizer. Tudo depende de dois fatores: 1) outros países também suspenderão importações de carne brasileira; 2) quanto tempo as exportações ficarão paralisadas até que as autoridades chinesas tirem suas conclusões sobre as informações remetidas pelo governo brasileiro. De imediato, os preços ao produtor já estão caindo desde quinta-feira passada por causa dos casos ainda sem confirmação.
Agora, o movimento deve se acentuar porque frigoríficos interromperam a compra até ter certeza da extensão do problema. Mas se isso vai chegar ou não ao consumidor é uma questão de quanto tempo os negócios ficarão interrompidos no exterior. A princípio, a interrupção das exportações resultará em aumento da oferta doméstica e pode haver redução dos preços ao consumidor brasileiro.
#6 O custo econômico será alto para o setor
Mesmo que a situação seja circunscrita aos dois animais confirmados neste sábado, haverá forte custo econômico para a cadeia produtiva da carne. Futuros do boi já caíram 4% na sexta, antes da confirmação, e ações de frigoríficos que dependem de exportações brasileiras, como a Minerva Foods (BEEF3), caíam na bolsa. A JBS, que é diversificada em outros países, tende a sentir menos o impacto porque suas receitas vêm de operações em diferentes países.
#7 Não, a crise agora não é invenção de frigoríficos
Circulam nos grupos de WhatsApp de produtores rurais, a que a Bloomberg Línea teve acesso, diferentes teorias de que a confirmação dos casos seria uma manobra para baixar o preço da arroba do boi gordo, em uma alta histórica desde o início do ano. Não há nenhum fundamento nesse tipo de boato porque frigoríficos têm prejuízos com plantas paralisadas e estoques que não podem ser embarcados no exterior.
#8 O governo dormiu no ponto com o aparecimento desses casos?
Não há nada que indique falha das autoridades sanitárias nos protocolos seguidos até agora. Desde a descoberta dos dois animais de descarte mortos, o governo recolheu amostras e enviou para o laboratório canadense que é referência mundial neste tipo de caso. Assim que recebeu os resultados, o Ministério da Agricultura tomou a iniciativa de interromper voluntariamente as exportações para a China, maior comprador, e remeter todos os dados disponíveis. Também notificou a OIE (Organização Internacional de Epizootias/Saúde Animal). O país continua, até agora, com a classificação de “risco insignificante” para a doença da vaca louca clássica.
Produtores rurais reclamaram muito do teor da primeira nota oficial da Secretaria de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura que anunciou a suspensão das exportações para a China porque o texto não explicitava que se tratavam de casos atípicos nem dava detalhes de onde e como os casos tinham sido detectados. Logo depois, o governo soltou uma nota a imprensa com essas informações.