Açúcar do Brasil puxa alta global dos alimentos

Valores medidos pela FAO atingiram o patamar mais elevado dos últimos quatro anos por conta da quebra da safra brasileira de cana. Índice geral já acumula valorização de 33% em 12 meses

Geada que atingiu região produtora de cana do Brasil reduziu a oferta de matéria-prima para produção de açúcar e etanol
02 de Setembro, 2021 | 03:47 PM

São Paulo — O Brasil foi o principal responsável pela alta global dos preços dos alimentos em agosto, depois de terem registrado queda nos meses de junho e julho. Mais especificamente, o açúcar brasileiro foi o grande fator de influência. A quebra na safra nacional de cana levou o índice internacional do açúcar medido pela Food and Agriculture Organization (FAO) ao patamar mais elevado dos últimos quatro anos.

As lavouras brasileiras sofreram com os efeitos das geadas que atingiram a região produtora do país, especialmente em São Paulo, reduzindo não apenas o volume disponível para processamento, mas também a produtividade dos canaviais. Com isso, o indicador do açúcar encerrou o mês de agosto aos 120,1 pontos, desempenho que representa uma valorização de 9,6% em comparação a julho. No acumulado dos últimos 12 meses os preços do adoçante já registram uma alta de 48%.

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A alta do açúcar fez com que o índice geral de preços dos alimentos da FAO voltasse a subir. No mês passado, o indicador chegou aos 127,4 pontos, resultado que representa um avanço de 3,2% sobre o desempenho de julho. Em 12 meses, os preços globais dos alimentos já subiram 33%.

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Outro indicador que teve um peso importante na alta dos alimentos no mês passado foi o dos óleos vegetais. O índice, que é formado pela média ponderada de 10 óleos comercializados globalmente, subiu 6,6% em agosto e já acumula uma alta de quase 68% em 12 meses.

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A recuperação refletiu principalmente os preços mais altos do óleo de palma, canola e óleo de girassol. Em agosto, as cotações internacionais do óleo de palma atingiram altas históricas, em grande parte sustentadas pela preocupação em relação à possibilidade de uma oferta menor na Malásia, em meio a estoques em níveis considerados muito baixos. Na Europa, a demanda pelo óleo de canola voltou a crescer, enquanto os preços do óleo de girassol ficaram firmes, após dois meses de quedas consecutivas.

Com menor efeito, mas ainda puxando os preços mundiais dos alimentos, os cereais também deram sua contribuição. O índice apresentou uma alta de 3,4% em 30 dias e já acumula valorização de 31% em 12 meses. No caso das carnes, os preços voltaram a subir e renovar o recorde em quase sete anos. O indicador das carnes fechou agosto aos 112,5 pontos, nível mais elevado desde dezembro de 2014, resultado que representa uma valorização mensal de 0,72% e anual de 22%.

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“Em agosto, as cotações internacionais das carnes ovina e bovina aumentaram, principalmente devido às altas compras, principalmente da China, e à restrição da oferta de animais para abate na Oceania. Os preços da carne de frango também aumentaram, refletindo a sólida demanda de importação do Leste Asiático e do Oriente Médio e expansões de produção limitadas em alguns dos principais países exportadores devido aos altos custos de insumos e escassez de mão de obra”, disse a FAO.

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A fraca demanda global e o aumento sazonal da produção na Oceania fez com que os preços do leite recuassem pelo terceiro mês consecutivo. No mês passado, as cotações recuaram 0,6%, mas ainda acumulam valorização anual de 13,6%. A queda mensal só não foi maior porque o aumento da demanda por queijos na Europa em um cenário que queda na oferta do produto fizeram com que o derivado se mantivesse em alta.

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Alexandre Inacio

Jornalista brasileiro, com mais de 20 anos de carreira, editor da Bloomberg Línea. Com passagens pela Gazeta Mercantil, Broadcast (Agência Estado) e Valor Econômico, também atuou como chefe de comunicação de multinacionais, órgãos públicos e como consultor de inteligência de mercado de commodities.