Empresas latino americanas resistem a divulgar dados sobre riscos climáticos

Índice global medido pela EY mostra que a região encontra-se abaixo da média mundial, tanto na abrangência dos indicadores cobertos quanto na qualidade das informações apresentadas

Manifestantes carregam faixa onde se lê "SOS Clima" em ato na avenida Paulista, em São Paulo, em 2019
01 de Setembro, 2021 | 09:28 AM

São Paulo — As empresas da América Latina ainda não se mostram tão dispostas a divulgar dados que apontem para o nível de exposição aos riscos das mudanças climáticas. O Global Climate Risk Diclosure Barometer, divulgado pela Agência EY, indica que tanto do ponto de vista da abrangência dos indicadores analisados quanto da qualidade das informações disponíveis, as empresas latino-americanas encontram-se abaixo da média mundial.

O relatório deste ano mostra que, globalmente, as empresas analisadas receberam uma nota de 70% no que se refere à cobertura das recomendações feitas pela Task Force on Climate-related Financial Disclosures (TCFD), uma força-tarefa criada pelo Financial Stability Board (FSB), órgão internacional que monitora e faz recomendações ao sistema financeiro global. No caso das empresas da América Latina, a nota obtida foi de 64%.

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Pela metodologia da EY, uma nota 100% é dada às empresas que divulgaram algum nível de informação compatível com cada uma das recomendações, independentemente da qualidade. No total, são 11 recomendações, sendo duas ligadas à governança das empresas, três à estratégia, três à gestão de risco e outras três às métricas e metas.

Do ponto de vista da qualidade das informações, a situação é ainda mais crítica. Enquanto a nota global ficou em 42%, as empresas da América Latina obtiveram a pontuação de apenas 29%. Pela metodologia da EY, uma empresa recebe a pontuação máxima quanto demonstra ter adotado todas as recomendações da TCFD e a qualidade dos dados divulgados também atendem os requisitos da força-tarefa.

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“Em geral, os relatórios mais avançados são de países que lideram com fortes regulamentações de divulgação do clima e sinais de política claros. No entanto, mesmo em regiões menos engajadas no debate sobre o clima, a pressão dos investidores tem impulsionado o progresso”, diz o Global Climate Risk Diclosure Barometer.

Situação no Brasil

Apesar da situação pouco confortável da América Latina, o relatório coloca o Brasil em uma posição de destaque. De acordo com a análise, o país tem um alto desempenho na região por conta do papel do sistema financeiro local e pela condução da agenda climática. “É provável que isso continue, especialmente porque o Banco Central do Brasil colocou uma regra que se inspira na TCFD para regular a divulgação de riscos climáticos em consulta pública, para implementação até 2030”, diz.

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Melhores do mundo

Os mercados de melhor e pior desempenho não mudaram significativamente em relação aos anos anteriores. Em média, as pontuações mais altas de cobertura das empresas continuam associadas à maturidade dos mercados onde governos, acionistas, investidores e reguladores locais têm maior atuação.

As empresas sediadas no Reino Unido apresentaram a pontuação mais alta na qualidade das divulgações, com uma média de 67%, com uma melhoria significativa de 28 pontos em comparação com 2019. Segundo a EY, o avanço pode ser atribuído à possibilidade de as empresas estarem se preparando com antecedência à possibilidade de as recomendações da TCFD se tornarem obrigatórias.

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Na Europa, Estados Unidos, Oceania, Japão e África do Sul, a maior maturidade dos relatórios reflete o envolvimento crescente das autoridades locais de mercado e seus reguladores sinalizando suas expectativas em relação à gestão de risco climático e divulgações.

Os piores desempenhos foram registrados na China, América do Sul e Sudeste Asiático. Segundo o relatório, a situação dessas regiões reflete a falta de foco nos riscos e oportunidades climáticas por parte das empresas e reguladores de mercado, apesar da intensidade relativamente alta de carbono de suas economias.

“Quase 50% das organizações na pesquisa têm 100% de cobertura, mas apenas 3% receberam uma pontuação de 100% de qualidade, demonstrando claramente espaço para melhorias. Os dados indicam que, embora mais empresas estejam de fato relatando riscos e oportunidades relacionados ao clima, eles podem estar fazendo isso como um exercício de ‘caixa de seleção’”, diz o relatório.

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Alexandre Inacio

Jornalista brasileiro, com mais de 20 anos de carreira, editor da Bloomberg Línea. Com passagens pela Gazeta Mercantil, Broadcast (Agência Estado) e Valor Econômico, também atuou como chefe de comunicação de multinacionais, órgãos públicos e como consultor de inteligência de mercado de commodities.