Em meio à crise hídrica, ações da Eletrobras disparam com avanço do processo de privatização

Reação positiva do mercado se deve à definição dos valores de outorga para usinas hidrelétricas; capitalização é prevista para fevereiro

Hidrelétrica de Furnas, em Minas: privatização da Eletrobras avança em Brasília e mercado reage empurrando preços das ações da estatal para cima
01 de Setembro, 2021 | 01:00 PM

São Paulo — As ações da Eletrobras reagiram bem, na manhã desta quarta-feira (1º), ao avanço do seu processo de privatização. Ontem, a companhia informou que que pagará R$ 23,2 bilhões à União pelas outorgas de 22 usinas hidrelétricas que terão contratos renovados, em mais um passo do processo de privatização da empresa.

Veja mais: Economistas elevam projeção de inflação após nova bandeira

PUBLICIDADE

Os papéis abriram o pregão subindo mais de 3%. A ação PNB (ELET6) cravou R$ 39,10 (+3,52%), aproximando-se da cotação máxima de 30 dias (R$ 41,36) e de 12 meses (R$ 48,29). Já o papel ON (ELET3), o mais negociado, atingiu R$ 39,05 (+3,77%), também esboçando trajetória rumo à máxima de 30 dias (R$ 41,53) e de 12 meses (R$ 48,20).

“O mercado está precificando hoje o ganho de corpo, de musculatura do processo de capitalização da Eletrobras, após a definição dos valores de outorga, que vieram em linha com o que a gente planejava”, diz Illan Arbetman, analista de research da Ativa Investimentos.

Veja mais: Infraestrutura estima que pacote de concessões e privatizações supere a casa de R$ 1 tri

PUBLICIDADE

O CNPE (Conselho Nacional de Política Energética) fixou o montante de R$ 62,5 bilhões como valor adicionado pelos novos contratos de concessão de geração de energia elétrica para as 22 usinas da Eletrobras, em condição precedente para a capitalização da empresa. Parte do valor adicionado, os R$ 23,2 bilhões serão pago à União pela Eletrobras capitalizada ou por suas controladas pelas outorgas das usinas, que sairão do atual regime de cotas - que só remunera operação e manutenção - para o de produção independente de energia.

“A definição do valor de outorga para a troca do sistema de cotas para a produção independente, mesmo que seja gradual, até 2027, é um dos grandes pontos para que a nova Eletrobras cresça e seja mais alinhada com seus pares de mercado”, afirma Arbetman.

Aporte de R$ 5 bi

Quanto ao fato de que o governo federal determinou que a Eletrobras antecipe um aporte de R$ 5 bilhões à CDR (Conta de Desenvolvimento Energético) em 2022, a fim de amenizar uma alta expressiva nas contas de luz, o analista diz que não houve mudança nesse valor, que o mercado já sabia que iria ser provisionado.

PUBLICIDADE

A modelagem da privatização da estatal já previa essa contribuição anual a esse fundo que concentra as principais despesas do setor elétrico e é rateado por todos os consumidores do país nas tarifas de energia.

“O pagamento só será depois de finalizado o processo de capitalização no fim de fevereiro ou março, quando a gente já estará no final do período úmido. Quando o governo for receber esses R$ 5 bilhões, a gente já estará em outro espectro da crise hídrica, a depender da quantidade de chuvas que caem durante no próximo período úmido”, diz o analista da Ativa Investimentos.

Ele afirma ainda que, neste ano, a própria Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) já havia feito diferimentos para que os reajustes nas tarifas de energia não fossem acima de 10%. “Tem parte do reajuste de 2021 que foi para 2022. Os R$ 5 bilhões vão ajudar a amortecer esse impacto tarifário em 2022”, observa Arbetman.

PUBLICIDADE

Goldman Sachs

Relatório do banco americano Goldman Sachs, divulgado hoje, também destaca a definição do valor de outorga para as usinas hidrelétricas da Eletrobras pelo Ministério de Minas e Energia, considerando “um outro passo rumo à capitalização” da companhia.

“O valor de R$ 62,5 bilhões é bem próximo dos números preliminares divulgados em fevereiro (diferença menor de 1%)”, diz o banco, ressalvado mudanças nos números do WACC, que é o custo médio ponderado de capital (7,31% versus 7,2% anteriormente), previsão do preço de energia e GSP (risco hidrológico).

O Goldman Sachs projeta uma criação de valor potencial entre R$ 28 bilhões e R$ 33 bilhões em NPV (valor presente líquido, na sigla em inglês) para a Eletrobras decorrente da renovação das concessões.

“Os próximos passos rumo à capitalização são a aprovação pelo Tribunal de Contas da União e a definição dos termos para a oferta”, diz o relatório. O Goldman Sachs manteve sua recomendação de compra para as duas ações da Eletrobras (ELET 3 e ELET6) com preço alvo de R$ 48/R$ 53 em 12 meses.

Leia também

Orçamento para 2022 não consegue dissipar incerteza fiscal

Chile surpreende com o maior choque de juros em duas décadas


Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.