Bloomberg Opinion — Estas são as perguntas mais importantes sobre a atual onda de inflação:
- Muitas coisas estão ficando mais caras do que costumavam ser (permanentemente)?
- Os preços vão continuar aumentando nos próximos anos?
A segunda pergunta tem sido o assunto de um fluxo aparentemente interminável de análises e debates este ano. Os preços dos ativos financeiros dependem muito das expectativas de inflação futura, portanto, é compreensivelmente de grande interesse para os investidores. Manter a inflação sob controle é o principal trabalho dos bancos centrais, então também é de interesse das autoridades desses bancos centrais, dos economistas que desejam influenciá-los e dos investidores que analisam todas as decisões. As mídias comerciais e financeiras atendem a esse público e contam com ele como fonte, então essa é a pergunta que vamos cobrir também.
Essa pergunta também é importante para pessoas de fora desses círculos. Sua opinião sobre a possibilidade de aumento dos preços de carros nos próximos anos, por exemplo, afetará suas decisões de compra e venda no curto prazo. Ainda assim, minha impressão é que a possível inflação futura é muito menos importante para a maioria em suas vidas diárias que os atuais preços mais altos. As coisas custam mais, o que é difícil para muitos. Embora o assunto esteja recebendo atenção na mídia, não chega nem aos pés da atenção que recebe a possibilidade do aumento da inflação no futuro.
Então vamos prestar mais atenção! A resposta para a pergunta sobre os preços mais altos é “sim, claro” – 5,4% mais altos que há um ano, nos Estados Unidos – e se eles vão continuar altos, a resposta é quase certamente sim. Alguns bens de consumo, majoritariamente baseados em commodities, vão ocasionalmente ficar mais baratos. Mas a maioria das coisas nas quais gastamos nosso dinheiro, não.
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Como um exemplo, a volatilidade dos preços de energia faz com que as autoridades em política monetária foquem em medidas para o núcleo de inflação que excluam energia e alimentos. O motivo é que o núcleo da inflação é um melhor indicador da tendência inflacionária e, portanto, um melhor indicador da inflação futura. Isso faz sentido, embora compreensivelmente o fato de as autoridades escolherem focar no núcleo da inflação irrite as pessoas durante os períodos de alta dos preços de energia e/ou alimentos.
No momento, a inflação plena e o núcleo da inflação não estão tão distantes, com o Índice de Preços ao Consumidor excluindo alimentos e energia aumentando 4,3% ano a ano. É verdade que quase um terço disso (se meus cálculos estão corretos) foi devido ao preço disparado dos carros usados, que passaram por uma dinâmica de oferta e demanda bastante única no ano passado. Os preços ficaram praticamente estáveis de junho a julho e provavelmente irão diminuir um pouco nos próximos meses, assim como alguns outros componentes do “núcleo” da inflação afetados por problemas na cadeia de suprimentos causados pela pandemia.
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“À medida que os problemas de abastecimento começaram a ser resolvidos, a inflação em bens duráveis, exceto automóveis, desacelerou e pode estar começando a cair”, disse o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, em seu grande discurso em Jackson Hole na sexta-feira (27). “Parece improvável que a inflação em bens duráveis continuará contribuindo de forma importante para a inflação geral ao longo do tempo”. Ele também observou que os preços de bens duráveis diminuíram nas últimas décadas. Contudo, ele não disse se espera que os preços voltem para os níveis anteriores à pandemia.
Isso costumava acontecer. Diversos grandes episódios inflacionários ocorreram nos EUA antes do século XX, mas os preços caíram depois e o nível geral de preços dos EUA em 1900 era quase o mesmo de 1776.
Em 1913, o Congresso criou o sistema do Federal Reserve. Desde então, ocorreram duas grandes deflações, uma em 1921 e outra no início dos anos 1930, mas nenhuma delas levou o índice de preços ao consumidor de volta ao nível de 1900. A Grande Depressão abaixou os preços para os níveis de 1917, e as consequências para uma economia industrial com muitas dívidas comerciais e individuais acabaram sendo terríveis, como explicou o economista Irving Fisher em seu influente artigo de 1933, “A Teoria da Dívida-Deflação das Grandes Depressões”. Desde então, banqueiros centrais fazem tudo o que podem para evitar uma deflação significativa.
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A barganha que os banqueiros centrais fizeram parece razoável, desde que não cometam muitos erros, como na década de 1970, quando a inflação realmente saiu do controle. Mas isso significa que a maior parte dos aumentos de preços deste ano provavelmente será permanente. As receitas também estão subindo, e os empregadores estão aumentando os salários para preencher um recorde de 10,1 milhões de vagas de emprego, e os pagamentos da Previdência Social do próximo ano provavelmente incluirão um ajuste de custo de vida de mais de 6%. No curto prazo, os consumidores podem de fato comprar coisas, e muitos aumentos nas receitas podem criar uma espiral na qual os preços continuam subindo no futuro.
O consenso atual de muitas pessoas inteligentes que estão debatendo e analisando essas questões parece ser que a espiral não se desenvolverá e a inflação vai se estabilizar em breve. Acredito que isso provavelmente está correto, embora eu não esteja muito confiante, considerando que o consenso subestimou a gravidade da inflação este ano. Enquanto esperamos para descobrir o que a inflação fará no futuro, no entanto, é inegável que as coisas estão mais caras agora, e isso não é divertido.
Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.
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