EUA deixam o Afeganistão e encerram presença militar de 20 anos

Mais de dois mil americanos e dezenas de milhares de afegãos foram mortos nesse período, e cerca de US$ 1 trilhão foi gasto pelo governo americano desde o início do conflito, em 2001

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Bloomberg — Os Estados Unidos encerraram oficialmente sua presença militar no Afeganistão nesta segunda-feira (30), depois de duas décadas em solo afegão.

“Estou aqui para anunciar a conclusão de nossa retirada do Afeganistão e o fim da missão militar para evacuar cidadãos americanos, de outros países e afegãos vulneráveis”, disse o general Kenneth McKenzie, chefe do Comando Central dos EUA, na tarde de hoje. “A última aeronave tripulada está agora limpando o espaço aéreo acima do Afeganistão”, completou.

A guerra mais longa dos Estados Unidos terminou com a retirada de mais de 123 mil civis desde 14 de agosto, o que aconteceu de forma praticamente simultânea ao avanço do grupo extremista Taliban para Cabul, capital do Afeganistão, e à morte de 13 militares americanos em um atentado suicida fora do aeroporto da capital na semana passada.

Tais mortes se somam aos mais de dois mil americanos e dezenas de milhares de afegãos mortos, e cerca de US$ 1 trilhão em gastos do governo americano desde o início do conflito, em 2001.

A título de comparação, a guerra se arrastou tanto que grande fatia da população do Afeganistão viveu suas vidas inteiras com sua nação em guerra, enquanto as tropas americanas que foram mortas na semana passada eram em sua maioria crianças quando as Torres Gêmeas de Nova York foram derrubadas.

A partida de forças estrangeiras deixa enormes dúvidas para um dos países mais pobres e devastados pela guerra no mundo. O Taliban manteve conversas com ex-funcionários do governo na tentativa de consolidar seu poder e ampliar sua base de apoio. Mas o acesso do grupo a cerca de US$ 9,5 bilhões em ativos do banco central continua congelado pelos Estados Unidos, enquanto o Banco Mundial suspendeu projetos de bilhões de dólares no país.

Talvez de olho no apoio estrangeiro, o Taliban prometeu uma abordagem mais moderada de governo, diferente do que fez no final dos anos 1990, o que o levou a ser condenado pela comunidade internacional por seu tratamento às mulheres e outras violações básicas dos direitos humanos. Ainda assim, a ONU já possui relatos preocupantes de violações dos direitos humanos vindos do Afeganistão, e as agências mundiais de alimentos alertaram para a possibilidade de escassez generalizada de produtos básicos.

Embora o Taliban tenha sido rapidamente afastado do poder no final de 2001 após se recusar a extraditar Bin Laden, eles passaram anos em partes mais remotas do país, apesar da presença de tropas americanas, que chegaram a 100 mil militares durante o governo Obama.

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