São Paulo — O rumor sobre o surgimento de um concorrente para a B3, assunto que agita os bastidores do mercado nos últimos meses, levou o Bradesco BBI a calcular o impacto que a concretização dessa hipótese teria nas receitas e lucros da companhia formada pela fusão da antiga Bovespa com a BM&F em 2008. O banco de investimentos estima que, no pior cenário, o impacto negativo no lucro líquido seria de até 9%, enquanto na receita seria de até 6%.
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O estopim do rumor de um novo player foi a autorização concedida pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) à empresa Mark2Market para atuar como central depositária de títulos, um serviço que era exclusivo da B3. Em 2019, o fundador da Mark2Market, Rodrigo Amato, já havia protocolado um pedido para funcionar como central depositária de certificados de recebíveis do agronegócio (CRA) e, segundo reportagens da época, já indicava a intenção de expandir sua atuação para outros segmentos.
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A narrativa ganhou força após um relatório do JP Morgan, divulgado no dia 2 de junho, rebaixar a recomendação para os papéis da B3, citando que a XP poderia montar uma bolsa para competir com a B3. Isso seria uma reação à saída de José Berenguer, presidente do Banco XP, do conselho de administração da B3. A renúncia dele foi anunciada no dia 1º de junho. Para a cadeira vaga de membro independente do conselho, foi eleitor João Vitor Menin, CEO do banco digital Inter.
“Recentemente vimos notícias referentes a um possível concorrente, que acreditamos que deverá ser restrito apenas às receitas de negociação, e se um ou mais novo(s) entrante(s) participarem com um market-share de 20% (que consideramos ser um percentual muito agressivo), o impacto nas receitas e no lucro líquido da B3 seriam de aproximadamente 0,7% e 1% respectivamente. Como sensibilidade, mesmo que a competição aconteça no pós-negociação também, as receitas e o lucro líquido em risco seriam equivalentes a 6% e 9% das nossas expectativas para 2022, o que implica que o mercado já precificou, em grande medida, o pior cenário possível”, estimou o Bradesco BBI, em relatório sobre sua estratégia para setembro.
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Preocupação do investidor
Nesse material, o banco de investimentos lista a ação da B3 (B3SA3) no seu Top 10 de compra, carteira de ações recomendadas aos clientes para o próximo mês. As outras nove são Petrobras (PETR4), Vale (VALE3), Itaúsa (ITSA4), BTG PAcutal (BPAC11), Ambev (ABEV3), WEG (WEGE3), Azul (AZUL4), CESP (CESP6) e Lojas Renner (LREN3).
Ao comentar sobre a B3, o relatório destaca que a participação crescente de investidores locais (pessoas físicas) e estrangeiros e a atividade do mercado de capitais aquecido devem se traduzir em valorização das ações e velocidade de rotatividade mais rápida, mesmo diante do ciclo de alta dos juros, iniciado pelo Banco Central em março. “A B3 é a única Bolsa de Valores e, portanto, a líder no Brasil. Isto às vezes traz preocupação para os investidores, todavia, não vemos nenhum player novo se tornando realmente relevante no mercado local, mas reconhecemos que o fluxo de notícias nessa frente pode trazer volatilidade ao papel”, afirma o banco.
Para o Bradesco BBI, a B3 tem apresentado um desempenho positivo. “Temos visto dados positivos em todos os segmentos da Bolsa, com volume médio diário de negociações crescente. Em relação ao ciclo de aumento da taxa de juros que pode preocupar alguns investidores, ressaltamos que os níveis de avaliação atuais da ação fornecem alguma proteção, já que mesmo em um cenário estressado de volumes (ADTV) abaixo de R$ 30 bilhões, vemos a B3 sendo negociado a 17-18x P/L estimado para 2022”, conclui.
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