Com ventos mais fortes que o Katrina, furacão Ida causa enchentes e apagão na costa sul dos EUA

Tempestade ameaça inundar Nova Orleans, danificar telhados de mais de 1 milhão de residências, além de provocar cortes de energia por semanas e destruição na infraestrutura

Furacão Ida causa destruição e perdas na Louisiana e costa sul dos EUA
Por Brian K. Sullivan e Sergio Chapa
29 de Agosto, 2021 | 09:38 PM

Bloomberg — O furacão Ida atingiu a costa da Louisiana na tarde deste domingo, com ventos mais fortes que o furacão Katrina e uma tempestade devastadora que começa a inundar Nova Orleans, além de provocar cortes de energia e destruição.

A tempestade de categoria 4 atingiu o continente às 11h55 local (13h55 em Brasília), perto de Port Fourchon, Louisiana, com ventos de 150 milhas (240 quilômetros) por hora, disse o National Hurricane Center. O Ida surge no 16º aniversário da chegada do Katrina, que deixou a região em ruínas e matou mais de 1.800 pessoas.

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O furacão Ida, cujos ventos de força tropical se estendem por 140 milhas, será um teste contundente para os diques e a infraestrutura da região, reconstruída após o Katrina. Pelo menos 430 mil residências e empresas já tinham ficado sem energia até as 15h30 locais (17h30 em Brasília), de acordo com Poweroutage.us, que rastreia interrupções de serviços públicos.

Os ventos de 150 milhas por hora do Ida já são maiores do que os do furacão Laura em 2020, recorde em Louisiana, e os de uma tempestade do século 19. O Katrina atingiu o continente com ventos de 126 mph, mas isso não significa necessariamente que foi mais fraco; em seu pico, sobre o Golfo, os ventos do Katrina chegaram a cerca de 175 mph, tornando-o um sistema de categoria 5. O Katrina teve ventos que alcançaram 125 milhas em seu olho, enquanto os do Ida chegam a 50 milhas.

Leia também: Furacão Ida ameaça fábricas de produtos químicos perigosos do chamado ‘Beco do Câncer’ da Louisiana

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Gasolina e petróleo sobem após o furacão Ida ameaçar suprimento de combustíveis nos EUA

Diante do desastre, a cidade de Nova Orleans pediu aos residentes que deixassem o local ou se abrigassem em refúgios com segurança. Os portões do dique foram fechados em muitas áreas e as enfermarias dos hospitais foram esvaziadas. A maior parte da produção de petróleo no Golfo do México foi suspensa e milhares de pessoas fugiram da região.

Além do Ida, o centro de monitoramento de furacões está rastreando a tempestade tropical Julian no Atlântico central, bem como três outras tempestades potenciais. Enquanto isso, o furacão Nora está varrendo a costa do Pacífico do México.

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Aquecimento global e pandemia

Furacão Ida chega com ventos recordes na costa sul dos EUA

A fúria do Ida ocorre em meio a debates crescentes após um relatório científico das Nações Unidas alertar que eventos climáticos extremos ficarão ainda mais frequentes à medida que o aquecimento global se intensificar. Seis ciclones tropicais já atingiram os EUA este ano. As inundações mataram 20 pessoas este mês no Tennessee. E incêndios florestais alimentados por secas e ondas de calor estão ocorrendo na Califórnia, Minnesota, Grécia e Turquia.

O Ida chega à Louisiana em um momento particularmente vulnerável. Os hospitais do estado já estão sobrecarregados com mais de 2.600 pacientes com coronavírus. Apenas 41% da população está totalmente vacinada.

“Eu me sinto mal de assistir a isso”, disse Eric Blake, analista do National Hurricane Center, no Twitter. “Esta é uma manhã muito preocupante.”

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Destruição

O Ida deve elevar o nível do oceano em até 16 pés (4,9 metros) e despejar 2 pés de chuva. Os ventos serão fortes o suficiente para arrancar os telhados das casas e quebrar árvores e postes de energia. Os apagões podem durar semanas.

Ralph Tovar, um visitante de Chicago que ficou preso em Nova Orleans porque seu voo foi cancelado, rasgou uma sacola de guarda-chuva de plástico para formar um capuz à prova de chuva enquanto estava dentro da catedral mais antiga dos Estados Unidos, a Catedral de St. Louis, como o primeiros vendavais começaram a açoitar a cidade.

“Está nas mãos de Deus agora”, disse Tovar em uma entrevista. “Com sorte, podemos sair na terça-feira. Fiquem a salvo e tentem ficar dentro de casa.”

A tempestade pode danificar cerca de 1 milhão de casas ao longo da costa, de acordo com a CoreLogic. A previsão é que atinja diretamente fábricas de produtos químicos, refinarias e o porto de petróleo offshore da Louisiana. Ao todo, os danos e perdas podem ultrapassar US$ 40 bilhões, disse Chuck Watson, um especialista em desastres naturais da Enki Research.

“Pode ser catastrófico”, disse Jim Rouiller, meteorologista do Energy Weather Group.

Motoristas deixam New Orleans e regiões baixas da Louisiana

Nas horas antes do desembarque, as calçadas e praças normalmente movimentadas no coração do distrito turístico da cidade estavam desertas. Latas de lixo tombaram com o vento e rolaram pela rua.

Mesmo que o sistema de diques segure e mantenha as águas sob controle, Nova Orleans poderia enfrentar um grande risco de enchente somente com a chuva, disse Ryan Truchelut, presidente da Weather Tiger LCC. A FEMA enviou cerca de 2.500 pessoas para a Louisiana e estados como Alabama, Flórida, Geórgia, Mississippi e Texas.

Pelo menos 537 voos foram cancelados em Nova Orleans, Dallas e Houston até segunda-feira, de acordo com a FlightAware, um serviço de rastreamento de companhias aéreas. O Aeroporto Internacional Louis Armstrong de Nova Orleans estava lotado de residentes locais fazendo fila para pegar voos ou tentando alugar veículos para fugir da cidade. As filas nos quiosques de aluguel de carros demoravam horas.

Depois de passar pelo sul dos EUA, furacão ida deve ameaçar plantações no meio-oeste do país

Os produtores de petróleo já interromperam o equivalente a mais de 1,2 milhão de barris de produção diária de petróleo. Royal Dutch Shell Plc, BP Plc e outras estão fechando plataformas offshore e evacuando tripulações.

O Golfo concentra 16% da produção de petróleo dos EUA, 2% da produção de gás natural e 48% da capacidade de refino do país. Depois que o Ida passar, ele também poderá inundar as safras de algodão, milho, soja e cana-de-açúcar, disse Don Keeney, meteorologista da Maxar.

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