Tokens não fungíveis superam relógios de luxo e carrões na nova ‘ostentação digital’

Tokens não fungíveis, que permitem aos donos de arte e colecionáveis rastrear sua propriedade, estão ressurgindo depois de sumirem das manchetes durante o recente tropeço do Bitcoin

Arte cripto vira objeto de desejo
Por Olga Kharif, Vildana Hajric e Justina Lee
28 de Agosto, 2021 | 11:15 AM

Bloomberg — O Bitcoin está de volta à faixa dos US$ 50 mil. As finanças descentralizadas (DeFi) estão tentando se tornar mainstream. Mas, no mundo dos ativos digitais, só se fala em uma coisa: NFTs.

Tokens não fungíveis, que permitem aos donos de arte e colecionáveis rastrear sua propriedade, estão ressurgindo depois de sumirem das manchetes durante o recente tropeço do Bitcoin. Seja o criptoempreendedor Justin Sun pagando US$ 500 mil por uma imagem de uma rocha ou representações em quadrinhos de pinguins e macacos, os NFTs - nascidos da tecnologia blockchain que alimenta as criptomoedas - estão novamente no centro do burburinho especulativo que impulsiona os mercados digitais.

Veja mais: Visa estreia no mundo dos NFTs com aquisição de CryptoPunk por US$ 150 mil

Les Borsai gastou recentemente US$ 1.300 em um Pudgy Penguin para o aniversário de sua sobrinha. “Enviei a ela este pinguim e, alguns dias depois, aquele pinguim valia US$ 7.000”, afirmou Borsai, co-fundador da Wave Financial Group, gestora de ativos de criptomoedas e blockchain de Los Angeles. “E a primeira coisa que pensei comigo mesmo foi: por que mandei aquele pinguim para ela?”

PUBLICIDADE

O novo frenesi ajudou a impulsionar vendas diárias de NFTs ao maior patamar em 6 de agosto. Não são apenas os desenhos animados de pinguins, patos, macacos e robôs aumentando a arte digital vendida no início deste ano pela Christie’s. Os NFTs agora estão sendo incorporados a tudo, desde fotos de perfil do Twitter a jogos e os mais recentes aplicativos de finanças descentralizadas, que permitem que as pessoas tomem emprestado, emprestem e negociem moedas e que têm sido a escolha dos especuladores até o surgimento dos NFTs.

Como o resto do mundo das criptomoedas, o reaparecimento dos NFTs também trouxe dúvidas. Arte e itens colecionáveis - e NFTs compartilham características de ambos - são proposições de valor notoriamente inconstantes. Combine-os com algo tão volátil como ativos de cripto, e há razão para proceder com cautela. Os próprios tokens costumam ser rudimentares - pouco mais do que fotos de perfil - enquanto outros permitem que os usuários desbloqueiem novos serviços.

E o sucesso não foi fácil de encontrar. Apesar de todo o alvoroço em torno dos US$ 69 milhões de Beeple em março, muitos NFTs acabam definhando ou sendo vendidos por alguns dólares cada.

“O que está acontecendo agora equivale a ouvir que um grande pintor contemporâneo vendeu algo por milhões de dólares e eu, alguém sem nenhuma habilidade ou experiência artística, digo: ‘Bem, acho melhor começar a pintar porque qualquer tinta sobre tela é vendido por milhões’, afirmou Stephane Ouellette, presidente-executivo e cofundador da FRNT Financial.

E alguns defensores das criptomoedas de longa data estão alertando que o interesse elevado não pode se sustentar por muito mais tempo. O setor, argumentam, parece ser a mais nova bolha de cripto.

“Essas pessoas foram lentas demais para capitalizar da primeira vez”, afirmou Aaron Brown, investidor de cripto que escreve para a Bloomberg Opinion. “Uma vez que todos eles parecem movidos por cálculos cínicos de dinheiro, em vez de qualquer visão de NFTs, suspeito que as coisas logo entrarão em colapso.”

Isso ainda não diminuiu o ímpeto. OpenSea, o maior mercado de NFT do mundo, espera ver US$ 1 bilhão em volume de transações este mês, acima dos US$ 300 milhões em julho e US$ 8 milhões em janeiro, afirmou Devin Finzer, cofundador da plataforma.

PUBLICIDADE

“Estamos vendo uma curva de crescimento gigante”, acrescenta Finzer, que espera que até 6 milhões de pessoas acessem o site este mês, em comparação com 400 mil em janeiro. Ele estima que centenas de milhares estão comprando e vendendo NFTs por meio do site mensalmente, contra dezenas de milhares no início do ano.

Os projetos estão tentando replicar o sucesso da Beeple em criar valor por meio da escassez. A DraftKings Inc. anunciou seu próprio mercado NFT com uma série de itens esportivos colecionáveis, incluindo cartões digitais assinados pelo grande jogador do futebol Tom Brady. Alibaba Group Holdings Ltd. lançou um mercado. Os atores Mila Kunis e Ashton Kutcher e o co-fundador da Ethereum Vitalik Buterin se uniram em Stoner Cats NFTs.

Investidores experientes em cripto, como Benjamin Tan, perceberam. Nas últimas semanas, o empresário de 35 anos saiu às compras para colecionar NFTs dos Pudgy Penguins, dizendo que suas bochechas fofas e olhos brilhantes lembram sua filha de sete meses.

O preço médio de cada colecionável da série disparou mais de cem vezes apenas neste mês, para o equivalente a cerca de US$ 12.000, mostra o NFT Stats. Tan disse que vendeu recentemente seu pinguim de maior valor - um em um terno de abacaxi em uma praia - por 130 Ether, ou cerca de US$ 410.000, um salto de 160% em relação aos nove dias de propriedade.

“No passado, as pessoas provavelmente ostentavam usando um Rolex ou um carro caro”, disse Tan, que mora em Singapura. “A nova forma de ostentar agora é usar uma imagem de perfil muito exclusiva.”

Corporações tradicionais também estão se interessando. Em 23 de agosto, a Visa disse que comprou o CryptoPunk # 7610 por cerca de US$ 150.000. Terry Angelos, chefe de fintech da Visa, disse que o objetivo era aprender como lidar com transações NFT, embora a empresa de pagamentos não forneça serviços relacionados a NFT.

Veja mais: NFTs podem se tornar ainda mais populares com a última jogada da Shopify

Algumas das atividades também podem ser motivadas por práticas questionáveis. Alguns vendedores estão elevando os preços por meio da reciclagem.

Carlos Domingo, CEO da Securitize, empresa de valores mobiliários digitais de Miami, disse que a tecnologia é valiosa, o mercado é interessante e tem um potencial enorme. Mas, como acontece com todos os mercados não regulamentados, fraudes podem acontecer.

Ele se lembra de ter visto um tweet de alguém se gabando de ter criado um NFT e o vendido para si mesmo até que o preço subisse. “Em qualquer mercado, isso seria totalmente ilegal”, afirmou Domingo.

Fake NFTs - por meio dos quais alguém copia o trabalho digital de um artista, coloca-o no blockchain e vende em nome do artista como um NFT - se tornaram um problema “significativo” no OpenSea, afirmou Finzer. O artista Derek Laufman conta que acordou em uma manhã de março para encontrar e-mails e tweets perguntando se seus NFTs à venda em alguns sites eram legítimos - não eram.

“Pareceu-me meio bobo que essa coisa que deveria ser segura esteja sendo representada com meu nome nela”, afirma Laufman. “E algumas pessoas compraram.” A OpenSea está implementando novas ferramentas para capturar NFTs falsos, segundo a empresa.

Borsai, por sua vez, diz que o mercado está sendo amplamente reconhecido e a infraestrutura construída o torna mais sustentável. Recentemente, ele comprou um NFT por meio do qual um artista construirá para ele um modelo de foguete - um foguete que dispara em direção à lua. Assim como os defensores do Bitcoin prometeram há muito tempo.

Veja mais em bloomberg.com

Leia mais

Cinco assuntos quentes para o Brasil na próxima semana

Eduardo Leite diz que terceira via só vai se viabilizar em março

Hidrelétricas podem ser desativadas por conta da seca, avisa Bolsonaro