Bloomberg — A saída dos Estados Unidos do Afeganistão está deixando o Pentágono com, no mínimo, US$ 6 bilhões em recursos não gastos para as agora extintas Forças de Segurança Afegã e uma possível disputa sobre como gastar esse dinheiro.
O Controlador do Departamento de defesa está consultando legisladores e o Escritório de Gestão e Orçamento da Casa Branca sobe os recursos, que incluíram US$ 600 milhões em fundos previamente aprovados, mas não gastos no exercício fiscal de 2020, bem como US$ 2,3 bilhões neste exercício fiscal até junho e US$ 3,3 bilhões solicitados para o exercício fiscal de 2022. Esses valores teriam sido destinados ao que outrora fora o Exército Nacional Afegão, a Polícia Nacional, a Força Aérea e as Forças Especiais de Segurança.
“O Departamento de Defesa trabalhará com os comitês de defesa do Congresso para determinar o uso mais adequado desses recursos”, disse o porta-voz do Pentágono, Christopher Sherwood. Uma possível solução seria enviar ao Congresso uma solicitação de “reprogramação”, na qual sejam apresentados os motivos da transferência do dinheiro e os programas que o obteriam.
A saída do Afeganistão não está isenta de custos: O Pentágono solicitou US$ 5,6 bilhões para o próximo exercício fiscal pra gastos não especificados de “guerra direta” no Afeganistão. O Departamento de Defesa está avaliando a possibilidade de reutilizar esse dinheiro para os altos custos dos esforços de evacuação em massa que ocorre em Cabul.
Os fundos provavelmente terão alta demanda, já que os republicanos e alguns democratas no Congresso pressionam por um orçamento maior do que os US$ 715 bilhões que o governo Biden solicitou para o Departamento de Defesa para o exercício fiscal de 2022. Esse valor é 1,6% maior que os US$ 704 bilhões aprovados para este exercício, mas equivaleria a uma diminuição de cerca de 0,4% em termos reais após ajuste pela inflação.
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O Comitê de Serviços Armados da Câmara dos Representantes, em nova minuta de seu projeto de lei geral para o exercício fiscal de 2022, alocou US$ 350 milhões do pedido de US$ 3,3 bilhões relacionado ao Afeganistão, deixando o restante para pagar “a rescisão de contratos e outras operações de fechamento”.
As forças afegãs entraram em colapso diante dos insurgentes do Taliban que agora governam o país, encerrando os planos anteriores de continuar a ajuda após a saída do exército norte-americano. Em maio, um oficial do Pentágono disse ao Comitê de Serviços Armados da Câmara dos Representantes que o departamento esperava continuar pagando os salários e os suprimentos de apoio, equipamentos, operações e funções da Força Aérea Afegã e da Ala de Missão Especial do Afeganistão.
Para justificar a necessidade de US $ 3,3 bilhões adicionais solicitados para o ano fiscal que começa em 1º de outubro, o controlador do Pentágono disse que, considerando a retirada planejada das forças norte-americanas, os dólares eram “ainda mais importantes que antes para manter a viabilidade das forças afegãs e fortalecer a influência do governo afegão nas negociações para encerrar a guerra com termos que preservem uma forma democrática de governo”.
O Comitê de Alocações da Câmara dos Representantes aprovou os US$ 3,3 bilhões solicitados. O Senado ainda não se manifestou.
“Embora os EUA planejem sair do país antes de 11 de setembro, há custos residuais no orçamento do exercício fiscal de 2022, que incluem reparar e restaurar equipamentos, apoio de operações e proteção das forças”, de acordo com um documento orçamentário do Pentágono.
A saída dos EUA está programada para terminar dia 31 de agosto.
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