Bloomberg — O grande assunto do momento nos mercados é quando o banco central dos EUA começará a reduzir as compras de títulos de dívida. No entanto, o mais importante — para os mercados de ações, renda fixa e moedas — é quando essas operações vão terminar.
Poucas mudanças importantes ocorrem antes do simpósio anual de Jackson Hole, organizado pelo escritório regional do Federal Reserve em Kansas City. Nesta sexta-feira, o presidente do Fed, Jerome Powell, poderá dar indicações de quando e como as autoridades começarão a retirar o apoio ao mercado de títulos — o que definirá o cronograma para o primeiro aumento da taxa básica de juros pelo Fed.
Há muito em jogo. A enorme quantidade de dinheiro que inundou o sistema financeiro levou a recordes nas bolsas dos EUA, enquanto os rendimentos dos títulos do Tesouro se mantêm pouco acima dos menores níveis em seis meses. Uma retirada rápida demais pode prejudicar a recuperação econômica, bem quando a variante delta do coronavírus se apresenta como um novo risco. Por outro lado, um processo muito lento pode alimentar as pressões inflacionárias desencadeadas pela reabertura da economia.
“A maior questão para os mercados é a velocidade de retirada da acomodação pelo Fed porque isso determina quanto tempo vai levar até não haver nada, o que então leva ao primeiro acréscimo nos juros”, disse Tom Essaye, que foi operador da Merrill Lynch antes de criar o boletim informativo The Sevens Report.
Atualmente, o Fed compra o equivalente a US$ 80 bilhões por mês em títulos do Tesouro e US$ 40 bilhões em títulos lastreados em hipotecas. A expectativa é que o banco central encerre gradualmente essas compras antes de aumentar os juros. A instituição avisou que manterá essas compras consistentemente “até haver progresso substancial em direção às metas de pleno emprego e estabilidade de preços”.
Quando o Fed desmontou um programa semelhante de US$ 85 bilhões mensais após a última recessão, o processo demorou 10 meses. As reduções foram anunciadas em dezembro de 2013 e iniciaram no mês seguinte. O Fed especificou diminuições da ordem de US$ 10 bilhões em cada reunião de política monetária, igualmente distribuídas entre títulos do Tesouro e títulos hipotecários. O Fed encerrou todas as compras em outubro de 2014 e subiu os juros em dezembro de 2015, após mantê-los estáveis por sete anos.
Para Essaye, o mais provável é que a redução gradual comece em dezembro e não termine antes do final de 2022. Na visão dele, isso vai impulsionar mais ganhos nos mercados de ações e commodities e empurrar o rendimento do título do Tesouro com prazo de 10 anos para 2%.
As cotações do mercado de recursos de curtíssimo prazo nos EUA indicam que o Fed fará o primeiro acréscimo de juros no primeiro trimestre de 2023, levando a taxa básica a um pico de 1,4%.
“Quando o Fed realmente anunciar a redução, também deve oferecer alguma informação sobre o ritmo e sobre o grau de flexibilidade ou inflexibilidade dessa trajetória”, disse Guneet Dhingra, estrategista-chefe de juros americanos no Morgan Stanley. “Isso poderia fornecer um sinal importante para o aumento de juros, particularmente no que diz respeito ao ritmo de acréscimos.”
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