Miami — Como uma jornalista que cobre tecnologia, startups e empreendedorismo na América Latina, eu observei os últimos meses de um lugar privilegiado. Tenho me esforçado para fazer minha parte no lançamento da Bloomberg Línea, mas também tive a perspectiva dos bastidores de um executivo que decidiu que agora, em meio à pandemia e com a economia global flutuando ao seu redor, é a melhor época para lançar uma publicação internacional, multilíngue e de mídia digital em um mercado emergente, atendendo a mais de 600 milhões de pessoas em todo o mundo que falam português e espanhol.
Se o momento não fosse suficiente, o setor – de jornalismo – poderia ser útil para qualquer empreendedor.
Mas o que me trouxe aqui foi a curiosidade em saber como nascem as empresas, então, naturalmente, fiquei intrigada ao conhecer a história da Bloomberg Línea. Falei com Kaio Philipe, COO (chief operating officer) e co-fundador da Bloomberg Línea, e perguntei se poderia entrevistá-lo para uma matéria. Ele disse “sim”. O que segue é o que aprendi em nossa conversa.
“Não havia [outra] empresa que poderia entregar esse conteúdo, e o momento, apesar dos obstáculos, foi ótimo”, afirmou Philipe.
Ótimo?
Philipe e Leon Falic, CEO da Bloomberg Línea, viram que as taxas de juros caíram na América Latina, então não fazia sentido para as pessoas de classe média e baixa manterem seu dinheiro no banco. Elas buscavam formas de investir, e os mercados de capitais eram uma opção natural, mas não havia uma publicação de negócios para sustentar esses interesses. Só nos últimos anos, o Brasil teve mais de 3 milhões de novos investidores no mercado de ações.
Philipe administrava sua própria empresa de consultoria na época, na qual ajudava empresas de bens de consumo a crescer majoritariamente por meio da mídia digital. Falic e seus irmãos são donos da Falic Group of Companies, conglomerado com um portfólio diversificado que inclui lojas de varejo/duty-free e lojas de marcas, bancas de revista, lojas de presentes, lojas de conveniência, marcas de alimentos e bebidas, marcas de moda e beleza, comércio eletrônico e distribuição de bens de consumo, postos de gasolina e hotéis. Mal sabiam eles que estavam prestes a lançar a Falic Media para abrigar a Bloomberg Línea.
Entre as primeiras conversas e o lançamento, a Bloomberg Línea entrou em funcionamento em pouco mais de um ano, e cinco desses meses foram focados na pura execução.
Philipe, que não havia trabalhado na mídia tradicional de notícias antes, trouxe a experiência em negócios, mídia digital e América Latina – ele é brasileiro e já viajou para a América Latina a trabalho. O Falic Group ofereceu a infraestrutura existente da empresa, os contatos e o conhecimento sobre a região. A Bloomberg trouxe a especialização em jornalismo e uma marca conhecida em todo o mundo.
Philipe e eu moramos em Miami, mas os outros 53 jornalistas e membros da equipe estão divididos em oito países da América Latina e da Europa. O Brasil, por exemplo, tem uma equipe de 15 pessoas. Devido à pandemia, Philipe só conheceu cinco de seus funcionários pessoalmente.
“É estranho, mas funciona”, disse. “Eu entrevistei mais de 300 pessoas”, acrescentou.
Philipe adotou uma abordagem dupla para a contratação: contratar alguns dos líderes e, em seguida, fazer com que alguns deles contratassem para os cargos de apoio. Segundo ele, na maior parte dos casos, as pessoas foram indicadas.
“Todos que contratamos, do estagiário ao diretor de notícias, eu mesmo entrevistei. Porque eles precisam conhecer você”, afirmou, explicando que as pessoas precisam confiar em seus líderes.
Falando nisso, a publicação tem dois diretores de notícias, mas nenhum editor-chefe, e Philipe disse que foi de propósito. “Não queríamos que a publicação tivesse uma só voz”, disse ele. Um diretor de notícias lidera os países de língua espanhola, e o outro lidera o Brasil.
Apesar de todos os obstáculos para montar uma empresa remotamente, foi um desafio administrativo que ele enfrentou e que ainda o surpreende. “Tentei comprar computadores [para a equipe da América Latina] em uma plataforma online bem conhecida na América Latina, mas eles não aceitaram meu cartão corporativo porque é internacional – e eu entendo o motivo – há muitas fraudes de cartão de crédito”, disse ele.
Ele então entrou em contato com a Amazon na América Latina e, após uma verificação contra fraudes, conseguiu comprar os computadores e entregá-los. “Eu não tive poder para negociar porque não tinha outras opções”, disse.
Depois dessa tarefa, ele e a parte da equipe que já havia contratado construíram oito sites específicos para cada país, mais um para toda a América Latina, um para notícias em inglês e um para notícias sobre o Brasil, mas em espanhol. Outros sites fora da América Latina estão em desenvolvimento.
Com a parceria com a Bloomberg, parte da estética básica já estava estabelecida. E o back end seria em grande parte por meio do Arc Publishing – sistema de gerenciamento de conteúdo construído pela equipe do Washington Post que agora licencia para outras grandes organizações de notícias.
Claramente, muita coisa estava acontecendo.
Isso sem mencionar o conteúdo, que seria distinto na página de cada país e depois se uniria perfeitamente nas outras páginas.
“Cada mercado é diferente, não existe uma [abordagem] única. Na Venezuela, eles querem ler sobre a realidade da Venezuela, porque sabem que não podem confiar muito na mídia local”, disse Philipe.
Mas existe pelo menos uma verdade que une a região.
“Todos os mercados da América Latina são controlados por um conglomerado de mídia”, disse ele. “Eu cresci assistindo a Globo – para mim, aquela era a verdade universal”, acrescentou.
A Bloomberg Línea pretende mudar isso em tudo o que faz.
A Bloomberg Línea está no ar há pouco menos de um mês. Os sites foram lançados silenciosamente em 28 de julho, e o lançamento oficial foi em 9 de agosto de 2021. Em média, 120 novas histórias são publicadas todos os dias, incluindo conteúdo original Bloomberg, que então é traduzido para o idioma em questão. Para ganhar dinheiro, a empresa usa o modelo tradicional de receita proveniente de anúncios, patrocínios, eventos e assinaturas.
“Nosso objetivo é gerar valor para as pessoas, é o único compromisso que temos. E a forma de gerar valor de um país para outro pode ser muito diferente “, afirmou.
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