Quem são e o que pensam os líderes em criptomoedas da América Latina em 2021

Sete líderes dessa classe de ativos respondem para que servirá o Bitcoin no futuro, se o DeFi vai conseguir se firmar, e listam criptoativos que têm valor, mas que talvez você não tenha ouvido falar

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Semestralmente, a Bloomberg Línea apresenta as personalidades e as instituições que mais se destacaram no mercado de criptomoedas da América Latina. Diante das preocupações globais e regionais sobre liberdade, inflação e concentração de novas tecnologias e bancos de dados em grandes corporações, o investimento em criptomoedas decolou durante a pandemia do coronavírus.

Esses foram os players mais importantes da nossa região durante este terceiro e grande ciclo de desenvolvimento de criptomoedas e outras soluções de blockchain.


Gustavo Chamati, fundador do Mercado Bitcoin (Brasil)

O Mercado Bitcoin é a principal exchange brasileira de criptomoedas. Fundada em 2013, plataforma afirma ter 3 milhões de usuários e se prepara para internacionalização. Chamati hoje está no board da empresa. Em julho, a holding 2TM, controladora da plataforma recebeu um aporte de US$ 200 milhões do SoftBank e passou a ser avaliada em cerca de US$ 2,1 bilhões, se tornando o primeiro unicórnio do segmento de criptoativos na América Latina.

Como os latino-americanos utilizarão o Bitcoin em 10 anos?

  • “A gente vai estar usando cripto para muitas coisas, não tenho dúvida. Se a gente falar em dez anos é muito tempo, se a gente pensar que o Bitcoin [criado em 2009] tem apenas 12 anos, projetar dez anos é sempre muito difícil. Os criptoativos são tecnologias que grandes obstáculos hoje: velocidade, escalabilidade e custo de transação”, diz Chamati.
  • “Todos esses gargalos para que a gente use criptoativos hoje em dez anos vão estar removidos. O blockchain e tecnologias de criptoativos vão balizar todas as trocas de valor que nós vamos fazer em 10 anos. Hoje a gente já fala em moedas digitais dos países, então você imaginar que a moeda de um país pode ser transformada em token e a gente passar a usar essa moeda, através de uma infraestrutura de blockchain, é possível, a gente já está discutindo isso.”
  • “Daí, a gente passar a representar propriedade através do Token é muito provável porque a gente ganha eficiência, velocidade, reduz custo. Um mercado que funciona 24/7 e é transparente por estar registrado no blockchain.”

Quais usos a criptomoeda tem hoje?

  • Para o fundador do Mercado Bitcoin: “É investimento. O que eu sempre explico é que o Bitcoin e as outras criptomoedas são tecnologias que têm potencial de crescimento de adoção de significado e importância ao longo do tempo. Deter uma fração desses ativos é uma crença que essas tecnologias vão se tornar mais importantes.”
  • “Hoje, o Bitcoin já é um ativo de reserva de valor, assim como é o ouro. É o que ele hoje é o mais próximo de ser de fato, algo de médio e longo prazo.”

A que preço o Bitcoin pode chegar em 10 anos?

  • “Eu acredito nesta tradução do Bitcoin ser o ouro digital, ele acaba sendo o grande validador de tudo baseado em blockchain. Neste sentido, acho que o Bitcoin vai continuar a ser o líder de mercado, independente de outras tecnologias que surjam, graças ao nível de usabilidade que ele já tem. Ele vai ser o ouro digital [no sentido de reserva de valor]. Como é um chute e dez anos é muito tempo, eu diria, vai lá, US$ 1 milhão [risos].”

O Ethereum conseguirá fazer com que o DeFi seja mainstream?

  • “O Ethereum está fazendo vários avanços recentemente, como a atualização do protocolo. Esse é um dos gargalos que estão sendo removidos da tecnologia para que ela possa escalar. O que acredito é que o DeFi, em si, é hoje muito baseado no Ethereum, mas o DeFi como conceito, independente do Ethereum, vai evoluir muito.”
  • “A gente vai ter muitos dos serviços de trocas de empréstimos, por exemplo, funcionando em modelos DeFi, em softwares descentralizados que vão se autoexecutar e tendo na outra ponta pessoas interagindo com estes softwares.”
  • “Se vai ser no Ethereum ou não, tanto faz, mas o DeFi vai ter um papel muito relevante na prestação de serviços para as pessoas, ainda há questões a serem discutidas, como, por exemplo, como isso vai se conectar com os sistemas financeiros dos países, como vai ser a regulação, mas a tecnologia vai estar pronta.”

Além do ETH e do BTC, quais são as três criptomoedas mais valiosas?

“Eu vejo três moedas que podem se tornar relevantes no futuro, disse Chamati.

  • Chainlink: baseada em uma plataforma de blockchain para gestão de smart contracts.
  • Yearn Finance: protocolos executados no blockchain do Ethereum que permitem aos usuários fazer e tomar empréstimos.
  • Polka Dot: permite transferências através de infraestruturas diferentes (cross-blockchain) de qualquer tipo de dados ou ativos, não apenas tokens.

Quais serão os negócios que mais mudarão com a implementação de tecnologias de blockchain?

  • “Todos os negócios que envolvam registros de informação, muitos dos mercados regulados. A regulação existe para dar segurança para que o mercado funcione. Neste sentido, as regras usam tecnologias da época em que a regulação foi criada. Mercado financeiro é o principal exemplo. Toda a parte burocrática de funcionamento para as trocas de ativos pode ser substituída por um modelo mais novo, mais eficiente e mais barato que é a partir da descentralização. Todos os modelos que de negócios que demandam gatekeepers, validadores de informação, podem ser disruptados’ por isso.

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Samir Kerbage, diretor de tecnologia do Hashdex (Brasil)

Fundado no Brasil em 2018, o Hashdex é o fundo que criou o primeiro ETF do mundo baseado em criptoativos. O HASH11, listado na bolsa de valores brasileira desde maio, é lastreado pelo NCI (Nasdaq Crypto Index), carteira teórica de criptomoedas desenvolvida pelo administrador da bolsa de valores norte-americana. Samir Kerbage, diretor de tecnologia do Hashdex, é um dos estrategistas por trás do projeto e lançamento do ativo, que já atraiu investidores institucionais.

Como os latino-americanos utilizarão o Bitcoin em 10 anos?

        • “Se você tivesse me perguntado em 1995 como seria a Internet em 10 anos, talvez eu tivesse acertado algumas coisas e errado outras. Eu teria acertado ao dizer que a internet era o futuro e faria parte da vida das pessoas. Os criptoativos também são uma tendência sem retorno, o que tornará a sociedade mais eficiente, justa e acessível”, afirma Kerbage.
        • Para o diretor de tecnologia, “não dá para voltar atrás”. Vamos usar criptoativos em nossas vidas e na economia sem perceber, assim como usamos a Internet ou o WhatsApp hoje, acrescenta.

Quais usos a moeda tem hoje?

        • Segundo Kerbage, a valorização do preço trouxe muitos especuladores: pessoas que queriam Bitcoins ou criptoativos não por causa de inovação tecnológica ou da possibilidade de investimento, mas com “a ilusão de uma nova corrida do ouro”.
        • Em 2018, o criptoativo sofreu uma enorme correção. Foi então que a infraestrutura para investidores institucionais começou a ser desenvolvida. “É uma alocação estratégica de capital, e não tática: não é um movimento especulativo para lucrar no curto prazo, mas um ativo com grande potencial de valorização e que pode gerar proteção em um cenário de inflação nos EUA”, acrescenta.

Previsão de preço do BTC para 2031

        • “Nós não fazemos previsões de preços. Hoje o Bitcoin é o ativo mais conhecido, mas é como se estivéssemos falando em 1995 sobre o investimento mais famoso da época”, diz Kerbage.
        • Para o executivo, “o bitcoin agregou muito valor à sociedade, pode ser uma reserva de valor e até mesmo ser usado para que as pessoas realizem transações mais importantes e também pode ser um instrumento de proteção de ativos para ricos e pobres, mas está longe de ser o aplicativo de blockchain que mais impactará a sociedade.”

O Ethereum conseguirá popularizar as DeFi?

        • “Existem três tipos de aplicativos de blockchain – DeFi, web3 e NFT – que serão populares no futuro, mas é difícil prever se isso acontecerá em dois, três, 10 ou 20 anos.”
        • As DeFi estão evoluindo mais rapidamente, e seus efeitos na vida cotidiana poderão ser vistos em breve, diz Kerbage. O Ethereum é a principal plataforma que busca viabilizá-las, e é sem dúvida a protagonista, mas há outras plataformas que buscam competir por serem mais eficientes, rápidas ou escaláveis, acrescenta, afirmando que “comparar o mercado financeiro atual com o que pode se tornar com a adoção das DeFi é como comparar um jornal impresso com o Twitter. "

Além do ETH e do BTC, quais são as três criptomoedas mais valiosas?

        • O CTO da Hashdex destaca o Uniswap (UNI), protocolo que permite que qualquer ativo emitido na blockchain da Ethereum seja trocado de forma simples, descentralizada e em tempo real. “Se um investidor brasileiro quiser investir em um ativo japonês, não precisará fazê-lo por meio de uma estrutura offshore, ele o fará de seu celular”, diz Kerbage, acrescentando que “é a grande ameaça para a B3, NYSE e Nasdaq”.
        • “O Filecoin é um ativo e uma plataforma digital que permite que qualquer pessoa armazene dados em função do espaço em disco de seu computador, ou seja, armazenar dados de terceiros e cobrar por isso”, diz Kerbage. É um mercado de armazenamento P2P que tem potencial para reduzir custos e tirar o poder das grandes empresas Big Tech, prossegue ele, acrescentando que elas “concentram muitas informações de seus usuários, o que aumenta muito o risco em caso de ataques de hackers. [Cambridge Analytica]”
        • “O Compound cria um mercado monetário descentralizado, que permite que qualquer pessoa empreste dinheiro a outra por meio da plataforma. A plataforma não tem dono e administra contratos colateralizados, cálculos de risco e taxas para reduzir o risco da contraparte por meio de garantias. Áreas de gestão de crédito e garantias em bancos com centenas de pessoas que podem ser totalmente substituídas por um contrato inteligente, que funciona de forma descentralizada na Internet 24 horas por dia, 7 dias por semana”.

Quais serão os negócios que mais mudarão com a implementação de tecnologias de blockchain?

        • “A grande inovação que o blockchain traz para a sociedade é uma forma de aumentar a confiança Exemplos óbvios seriam bancos, corretores, bolsas; mas o Uber também é um intermediário confiável, ou o Google. Qualquer empresa cujo principal ativo seja ser o intermediário confiável entre as pessoas é ameaçada pela inovação do blockchain. Não estou dizendo que elas deixarão de existir, mas se reinventarão, assim como fizeram os negócios cujo principal valor agregado foi aproveitar a assimetria de informações com a inovação da Internet. Essa tecnologia será tão disruptiva quanto a Internet.

Sebastián Serrano, presidente e fundador da Ripio (Argentina)

A Ripio é uma das principais carteiras e exchanges da América Latina. Com oito anos de mercado, foi uma das pioneiras em criptomoedas na região e no mundo. Possui aproximadamente dois milhões de usuários, principalmente entre Argentina e Brasil, e sua missão é ser a porta de entrada para uma tecnologia emergente que está moldando a nova economia digital global.

Como os latino-americanos utilizarão o Bitcoin em 10 anos?

        • “Estamos cada vez mais caminhando para uma economia digital na qual essa tecnologia será um dos pilares no que se refere ao registro de valor e propriedade”, afirma Serrano.
        • O que estamos começando a ver com os NFTs (Non-Fungible Tokens) na arte é completamente adaptável a todas as coisas registradas como únicas e que possuem valor intangível. Essa é provavelmente a maior inovação dessa tecnologia”.
        • Segundo o CEO, principalmente na América Latina, será mobilizada uma massa fundamental que fará com que as criptomoedas sejam aceitas como forma de pagamento.

Quais usos a criptomoeda tem hoje?

        • São uma “reserva de valor em países como Argentina ou Venezuela, onde a moeda local não é muito forte”.
        • Para o fundador, são também uma forma de investimento, porque a adoção da moeda vai levar à valorização. Muitas pessoas adquirem criptomoedas por serem limitadas, por exemplo, existem apenas 21 milhões de Bitcoins, acrescenta.

No último ano e meio, o Bitcoin também começou a ser utilizado para staking, que é uma forma de obter rendimentos sobre esses ativos, afirma Serrano.

A que preço o Bitcoin pode chegar em 10 anos?

        • Serrano afirma que existem ciclos de adoção e aumento de preços aproximadamente a cada quatro anos: em 2013, 2017 e agora em 2021.
        • “Há muito interesse, o que traz usuários, desenvolvedores e investimento. Estamos vendo muitos investimentos no momento”, afirma.
        • A estimativa de alguns analistas é que cada Bitcoin pode chegar a valer um milhão de dólares no valor de hoje, e essa tecnologia poderia ser utilizada por mais de 10% da humanidade”, acrescenta.Serrano sostiene que han habido ciclos de adopción y crecimiento de precio aproximadamente cada cuatro años: en 2013, 2017 y ahora en 2021.

Além do ETH e do BTC, quais são as três criptomoedas mais valiosas?

        • O fundador destaca o USDC, “um stablecoin com paridade com o dólar muito utilizado e que vai permitir que as DeFi cresçam muito mais”.
        • O DOT, da Polkadot, está experimentando a plataforma MultiChain, na qual é possível ter mais capacidade obtida para interconectar diferentes cadeias, acrescenta.
        • E mais:
          • “O Polygon, que permite ao Ethereum ter muito mais capacidade”.
          • O Zcash, que utiliza a tecnologia Zero-Knowledge Proof e permite que as transações sejam muito mais privadas do que com outros criptomoedas.

Quais serão os negócios que mais mudarão com a implementação de tecnologias de blockchain?

        • Os setores mais impactados serão os negócios digitais, afirma Serrano. A arte digital, por exemplo, mudará muito e terá uma nova identidade.
        • Haverá muito desenvolvimento de sistemas e de tecnologias de identidade na internet que serão baseadas em blockchain.
        • Para o CEO, o mercado de capitais será “completamente repaginado” e passará a ficar na internet. As finanças descentralizadas já ultrapassaram três milhões de usuários em um ano e meio de crescimento, e estamos indo para um mercado muito mais complexo, com instrumentos que nunca vimos antes, porque essa tecnologia pode ser programada e desenvolvida com contratos inteligentes, o que antes era impossível, conclui.

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Arley Lozano, presidente do Panda Group e da Panda Exchange (Colômbia)

O Panda Group é um conglomerado de empresas que desenvolve soluções de criptomoeda para o cotidiano. A empresa fundada na Colômbia possui processadores de pagamentos, exchanges e caixas eletrônicos de criptomoedas. É uma das exchanges mais conhecidas da Colômbia e, no início de 2021, foi escolhida entre as nove alianças que vão testar operações de depósito e saque de criptomoedas com entidades financeiras no sandbox da Superintendência Financeira da Colômbia.

Como os latino-americanos utilizarão o Bitcoin em 10 anos?

        • O presidente acredita que nos próximos anos a criptomoeda terá um uso muito mais corriqueiro, permitindo que as operações sejam realizadas em diferentes atividades do dia-a-dia.
        • Lozano acredita que nos próximos 10 anos os governos da região farão a transição do dinheiro digital para o dinheiro criptográfico, assim como deseja o governo de El Salvador.
        • Para ele, o fato de os governos migrarem para a criptografia permitirá uma economia mais transparente em termos de controle de gastos e impostos, migrando para impostos automáticos graças ao rastreamento permitido pelas novas tecnologias.

Quais usos a moeda tem hoje?

        • Para Lozano, o principal uso atual é a especulação. Atualmente, as pessoas físicas compram o ativo digital – que é escasso, no caso do Bitcoin – em busca de lucro, acrescenta.
        • O executivo do Panda Group destaca o papel que as criptomoedas desempenham no envio de remessas na região. Lozano cita o exemplo dos venezuelanos no exterior, aplicável a qualquer pessoa que envie remessas, mas “não quer dizer que as pessoas recebam Bitcoin, mas as criptomoedas são utilizadas entre o envio do ponto A para o ponto B. No fim das coisas, os pesos entram no ponto A, o Bitcoin é utilizado como transporte de valor, e são sacados bolívares ou dólares no ponto B”.

Previsão de preço do BTC para 2031

        • Como previsão pessoal, ressaltando que não se trata de uma recomendação, Lozano vê o preço do Bitcoin “em bilhões de dólares” nos próximos anos.
        • Já existem estudos que dizem que se você possuir 0,01 Bitcoin, o que hoje vale menos de US$ 1 mil, em 10 anos, você fará parte de uma lista de milionários. Lembramos que são 21 milhões de unidades, é um ativo escasso”, acrescenta.
        • Em 2031, o preço do Bitcoin pode superar US$ 1 milhão, reforça.

O Ethereum conseguirá popularizar as DeFi?

        • O Ethereum terá sucesso para o que foi criado, que são contratos inteligentes, diz o executivo da Panda.
        • No caso das DeFi, Lozano considera que é uma tecnologia muito nova que traz muitos riscos em termos de ataques de hackers e segurança.
        • Não acredito que as DeFi sobreviverão, embora elas possam ser popularizadas para outros tipos de projetos”, afirma.

Na sua opinião, além do ETH e do BTC, quais são as três criptomoedas mais valiosas?

        • “Gosto muito do Dot e do Bitcoin Cash”, comenta o executivo ao destacar o potencial dessas criptomoedas, que poderiam permitir “muitas outras coisas” com taxas mais baixas, por exemplo.
        • Todas as criptomoedas no top 10 são interessantes, mas devemos lembrar que é uma tecnologia que ainda está em beta, diz Lozano, ressaltando que se alguém investe em criptomoedas, deve fazê-lo com uma quantia que está disposto a arriscar, porque o mercado está volátil e um prejuízo é possível.

Quais serão os negócios que mais mudarão com a implementação de tecnologias de blockchain?

        • Cartórios e empresas criadas para certificar documentos estarão entre as que irão desaparecer porque “tudo será muito fácil de certificar ou registrar por meio de contratos inteligentes”.
        • O sistema financeiro também será completamente transformado, “mas acho que será uma transição de mais de 20 anos. A tecnologia está mudando a percepção do dinheiro”.

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Guillermo Torrealba, presidente do Buda.com (Chile)

A Buda.com se posicionou como um dos maiores mercados de criptomoedas da América do Sul. Criada em 2015 com o nome de SurBTC, a plataforma permite transações com Bitcoin, Ethereum e Litecoin e opera com as moedas oficiais da Argentina, Colômbia, Peru e Chile. Desde março, a empresa faz parte da Fintech Fincrime Exchange, organização privada fundada no Reino Unido que reúne mais de 200 fintechs para discutir temas relacionados à prevenção de crimes financeiros.

Como os latino-americanos utilizarão o Bitcoin em 10 anos?

        • Para Torrealba, o Bitcoin atende a várias necessidades, como economia ou investimento, já que seu valor aumenta com o tempo.
        • É “extremamente eficiente” e econômico para transferências de dinheiro pela internet, sendo uma tecnologia 100% digital que opera em tempo integral, afirma.
        • O Bitcoin começa a substituir o sistema Swift, diz Torrealba.
        • O CEO acredita que nos próximos 10 anos, a “tecnologia de fato” que as empresas utilizarão para pagamentos e cobranças em todo o mundo será o Bitcoin.

Quais usos a moeda tem hoje?

        • Cerca de 80% dos clientes da Buda.com compram Bitcoin como investimento, enquanto os 20% restantes são “utilitaristas”: eles utilizam o Bitcoin de uma maneira particular, como, por exemplo, para remessas, diz ele.
        • Para o executivo, o número de pessoas que começaram a fazer pagamentos com Bitcoin pela internet aumentou devido ao acesso limitado a cartões de crédito.

Previsão de preço do BTC para 2031

        • Com base no histórico, no potencial da criptomoeda e em estudos, o preço do Bitcoin poderia “mais que” ultrapassar um milhão de dólares em 10 anos, de acordo com Torrealba.

O Ethereum conseguirá popularizar as DeFi?

        • O Ethereum tem grandes chances de ser a plataforma mais importante para contratos inteligentes nos próximos 10 anos, porém terá de dividir seu destaque com pelo menos três ou quatro outras, destaca.
        • As finanças descentralizadas não são uma moda passageira, mas uma tendência que continuará no futuro, acrescenta.

Além do ETH e do BTC, quais são as três criptomoedas mais valiosas?

        • Outras criptomoedas que buscam criar conceitos significativamente diferentes das outras são stablecoins, como o USDC, o Tether e o DAI, afirma ele.
        • Existem criptomoedas que prometem ser grandes plataformas de contratos inteligentes, por exemplo, o ADA da Cardano, diz.

Quais serão os negócios que mais mudarão com a implementação de tecnologias de blockchain?

        • Para Torrealba, o setor financeiro será o mais afetado, principalmente as entidades bancárias e as seguradoras descentralizadas, nas quais a confiança gerada pela tecnologia blockchain desempenha um papel fundamental.
        • E mais: serviços governamentais e cartórios, onde o blockchain pode contribuir para a destituição da intermediação.

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Pablo González, cofundador e presidente da Bitso (México)

Quem quer, dá um jeito. A Bitso, uma das primeiras exchanges de criptomoedas do México e da América Latina, demorou seis anos para obter seu primeiro milhão de usuários ativos e menos de 10 meses para chegar a dois milhões. O recorde se deve à maior abertura dos investidores, das empresas e até de países cada vez mais otimistas, mas também curiosas sobre o uso de ativos virtuais. A empresa permite comprar, vender, enviar ou receber no México, Argentina e Brasil – sua mais recente incursão – e desde janeiro de 2021 tem autorização do órgão regulador financeiro da Colômbia para testar o mercado por meio de um sandbox regulatório. Essa é a única plataforma da região licenciada pela Gibraltar Financial Services Commission, a jurisdição com as estruturas regulatórias mais avançadas em termos de trading de criptomoedas. Pablo González, que fundou a empresa há sete anos, olha para o futuro.

Como os latino-americanos utilizarão o Bitcoin em 10 anos??

        • O que acontece na comunidade costeira de El Zonte, em El Salvador, é provavelmente a visão atual mais precisa da relação das pessoas com a criptomoeda como forma de pagamento local. “É muito emocionante ver como tudo acontece”, disse González.
        • Outro uso no futuro é como forma de economia, que, embora incipiente no momento, mostra o caminho em países como a Argentina, onde o Bitcoin é usado como moeda de salvaguarda.
        • Haverá casos de serviços financeiros com Bitcoin, como empréstimos e créditos, mas com um sistema totalmente descentralizado e global.

Quais usos a moeda tem hoje?

        • González está prestes a completar 10 anos usando Bitcoin. Ele conta que no começo, era algo mais experimental. Em 2015 e 2016 os juros aumentaram e ele passou a utilizá-lo no dia a dia para pagamentos internacionais.
        • A maioria das pessoas, porém, usa o BTC para enviar remessas e fazer pagamentos online para quem não possui conta em banco ou até mesmo para locais ou por serviços que possibilitem o pagamento com a criptomoeda.

Previsão de preço do BTC para 2031

        • Irrelevante. Essa é a palavra-chave para González. Mais que um número, “todos nós vamos utilizar o Bitcoin de certa forma no nosso cotidiano”.
        • Mas por quê? A visão do empresário é que dentro de 10 anos a sociedade estará usando criptomoedas em todo o mundo, portanto a atenção ao preço perderá importância e este até se estabilizará com o uso mais amplo.
        • A visão do executivo: “Pessoalmente, acredito que o BTC será a moeda internacional, assim como o dólar é hoje – a moeda mundial”.

O Ethereum conseguirá popularizar as DeFi?

        • González prefere chamar o processo de “avanço interessante” por enquanto. A maioria dos experimentos focados nas finanças descentralizadas – as DeFi – foram feitos em cima do Ethereum, enquanto o Bitcoin se destina a tornar-se uma forma de dinheiro seguro.
        • O primeiro cria uma rede, um protocolo um pouco mais experimental, que permite que os desenvolvedores criem em cima do Bitcoin, para que ele se mova mais rápido do que o Ethereum. Em termos mais técnicos, isso se chama solução da camada dois, segundo González.

Além do ETH e do BTC, quais são as três criptomoedas mais valiosas?

        • González insiste em “acreditar piamente” no Bitcoin e acredita que é a criptomoeda que deve receber mais atenção, assim como o Ethereum. No entanto, existem outros projetos.
        • O primeiro é a Uniswap, uma exchange descentralizada que também promove um token. “Eu prestaria muita atenção, não sei se na moeda, mas definitivamente no projeto.” Existe também a Decentraland, plataforma de realidade virtual descentralizada alimentada pelo blockchain Ethereum.

Quais serão os negócios que mais mudarão com a implementação de tecnologias de blockchain?

        • Além da maior inovação, que será a mudança no uso do dinheiro e de tudo o que nele se constrói, como serviços financeiros, pagamentos sociais e comerciais (trade finance), González aposta em NFTs, com valor digital 100% único.
        • Outras duas apostas são no setor de videogames e imóveis, possibilitando diferentes formas de comunicação entre as pessoas.
        • Ao contrário da opinião popular, González não vê necessariamente o uso de blockchain para identidade pessoal, registro de propriedade e até mesmo votação em um processo eleitoral. “Talvez sim, mas não será uma grande mudança”.

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Gabriel Jiménez, membro da Reserve (Venezuela)

Como os latino-americanos utilizarão o Bitcoin em 10 anos?

        • Jiménez espera que, até 2031, o bitcoin seja considerado “mais que um ativo de investimento” e que tenha outros usos que atualmente não tem devido a “limitações tecnológicas”. Para esses casos, no entanto, ele espera que surjam outras alternativas.
        • “O que me preocupa, principalmente como venezuelano, em nível de BTC, é a comercialização e o acesso a uma moeda internacional fácil de trocar”, afirma.

Outros países seguirão o exemplo de El Salvador e legalizarão o uso do BTC como moeda?

        • Jiménez acredita que, à medida que a tecnologia avança e as necessidades das sociedades as obrigam a buscar alternativas ao sistema financeiro tradicional, regulamentações e outros tipos de abordagens para o sistema de criptomoedas serão promovidas.
        • “Certamente é algo que continuaremos a ver nos países emergentes”, acrescenta.

Quais usos a moeda tem hoje?

        • “Eu não diria que é só investimento, muitas vezes também é uma aposta”, diz Jiménez.

Previsão de preço do BTC para 2031

        • Mais do que uma Previsão, Jiménez compartilha seu “sonho”: manter o preço “para que as pessoas possam realmente usar o BTC como dinheiro”.
        • “Agora, por mecanismos de mercado, isso é algo que com certeza não vai acontecer, mas inspirados por isso – nessa tecnologia – podemos construir diferentes mecanismos para construir moedas estáveis”, diz.

O Ethereum conseguirá popularizar as DeFi?

        • Acho que ainda é cedo no que diz respeito às DeFi”, pondera Jiménez, que insiste que as DeFi “não são um conceito de Ethereum”, mas que o BTC as introduziu, do ponto de vista das finanças descentralizadas, mas elas não pertencem a uma criptomoeda específica.
        • Contudo, ele acrescenta: “As possibilidades que podem ser realizadas através de protocolos que não dependem de absolutamente ninguém, que sejam totalmente descentralizadas, abrem um universo de possibilidades”.

Na sua opinião, além do ETH e do BTC, quais são as três criptomoedas mais valiosas?

        • Jiménez lidera seu top 3 com o Reserve: “Estamos trabalhando para que o acesso a uma moeda estável reconhecida seja considerado um direito humano e desenvolvendo protocolos abertos para que qualquer pessoa ou empresa possa desenvolver suas moedas estáveis, ou também desenvolvendo aplicativos que facilitem o acesso ou promovam projetos do tipo”.
        • Em segundo lugar está o USDC: “Temos focado em levar o mundo financeiro tradicional ao mundo dos stablecoins, usando esses mecanismos de confiança e segurança para ter uma moeda estável com uma paridade de 1:1 com o dólar”.
        • Por fim, o DAI: “É semelhante ao Reserve, é uma stablecoin descentralizada, do ponto de vista que através de um contrato inteligente, possui um basket que atribui o elemento de estabilização com os diferentes ativos desse basket; acredito que é uma nova fronteira que está se desenvolvendo e é uma abordagem diferente, por exemplo, da usada pelo USDC”.

Quais serão os negócios que mais mudarão com a implementação de tecnologias de blockchain?

        • Na opinião de Jiménez, será o setor bancário: “Este novo paradigma de que não precisa de intermediário, não precisa de banco, de que um Estado está emitindo dinheiro privado ou não, gera uma ruptura nesse status quo”.
        • Porém ele adverte: “Não vejo isso como algo contra os bancos, acredito que é uma mudança para melhor, para fazer algo mais aberto, inclusivo, que atenda às novas necessidades e às realidades que vivemos hoje no mundo digital e conectado”.