São Paulo — O projeto PSA Soja Brasil, liderado pela Tropical Forest Alliance (TFA), realizou o primeiro pagamento aos 52 agricultores que participaram da iniciativa e optaram por não realizar desmatamentos em suas propriedades, mesmo que a legislação garanta amparo legal a isso. O grupo recebeu US$ 40 mil em forma de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), como incentivo por não desmatar áreas ainda passíveis de desmatamento nos 450 mil hectares que o projeto englobou.
O projeto foi um dos primeiros a conseguir viabilizar um modelo envolvendo produtores de soja, uma metodologia de mensuração de emissões de carbono reconhecida internacionalmente, e um comprador para os créditos emitidos. No caso do piloto do Maranhão, o grupo japonês Sumitono foi o responsável pelo investimento no último elo da cadeia.
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Apesar da iniciativa, a conta ainda não fecha. “O custo de oportunidade do desmatamento ainda é maior do que o de manter a floresta em pé”, afirma Fabíola Zerbini, diretora da TFA para América Latina. Na prática, dado os atuais patamares dos preços da soja, ainda vale a pena abrir áreas que legalmente podem ser desmatadas para plantar soja.
Apesar de reconhecer que ainda é mais vantajoso desmatar para plantar do que manter áreas de floresta do Cerrado em pé, Fabíola lembra que a importância do piloto foi mostrar que é possível criar um modelo escalável e que ofereça segurança a todos os envolvidos. Segundo ela, com o desenvolvimento do mercado de carbono, já existe hoje uma demanda atual por créditos e um comprometimento e interesse do mercado financeiro.
“Para um país que quer dar um passo adiante na questão da proteção ambiental e do desenvolvimento sustentável, o trabalho desenvolvido foi um grande gol. Vamos partir agora para criar um modelo em Mato Grosso, que é o maior produtor de soja do Brasil. Nosso desafio agora é partir para uma perspectiva territorial, avançar em algumas políticas públicas e ainda realizar alguns ajustes na metodologia”, afirma Fabíola.
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Contexto: A ideia do PSA Soja Brasil nasceu já há alguns anos, com a discussão sobre o desmatamento do Cerrado, mas começou a ganhar forma em abril do ano passado. Foram mapeadas as ideias e iniciativas envolvendo o governo, o setor privado e a sociedade civil para identificar ações já em curso e os gargalos ainda existentes.
Decidiu-se então criar uma prova de conceito, que não envolvesse apenas a fixação de carbono no solo pelo plantio da soja, mas que englobasse ainda uso da água e preservação da biodiversidade. Mais de 100 produtores começaram o projeto, mas após uma análise de compliance, que significa já ter o Cadastro Ambiental Rural (CAR) e estar regular do ponto de vista ambiental, trabalhista e tributário, apenas 52 foram selecionados.
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“Usamos metodologias reconhecidas internacionalmente para mensurar o carbono no solo apenas da área produtiva, fizemos análises por amostragem em laboratórios e criamos um base-line. Aí uma equipe de econometria fez a precificação desse carbono. Criamos uma plataforma online com toda a documentação que pode ser acessada de qualquer lugar”, explica Fabíola.