No ano passado, o Facebook fez o que gigantes da tecnologia dos EUA já tinham feito inúmeras vezes: comprou uma empresa menor e fechou o acordo sem notificar as autoridades antitruste.
Mas aquela transação — a aquisição da biblioteca de imagens Giphy por US$ 400 milhões — foi particularmente ousada. Na época, o Facebook estava sendo investigado por autoridades antitruste após o governo acusar a empresa da prática ilegal de comprar empresas para eliminar a potencial ameaça ao seu poder de monopólio.
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A Giphy fez uma manobra corriqueira --e legítima--, que permite que as companhias evitem escrutínio por parte das autoridades que supervisionam fusões: pagou dividendos aos investidores. O pagamento, descrito por duas pessoas a par do assunto, reduziu o tamanho dos ativos da Giphy o suficiente para que as empresas não fossem obrigadas a informar a transação às autoridades antitruste. Essas pessoas pediram para não serem identificadas discutindo informações particulares.
Manobras como esta realizada pela Giphy dificultam ainda mais a supervisão de acordos, em um momento em que as autoridades americanas estão sendo pressionadas a tomar providências mais contundentes para conter a expansão de empresas dominantes, especialmente no setor de tecnologia. Diante da situação, há quem defenda a necessidade de uma revisão no sistema usado para verificar se fusões representam ameaças contra a concorrência.
“Basicamente, as empresas estão fora de controle”, disse Thomas Wollmann, professor de economia da Faculdade de Administração Booth da Universidade de Chicago e especialista no tema. “É como o que acontece se a delegacia fecha no final da tarde. É quando a criminalidade começa.”
O Facebook não quis comentar sobre a transação envolvendo a Giphy.
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Segundo pesquisadores, há evidências de que algumas empresas estão manipulando os processos de aquisição para evitar notificações às autoridades. Outros estudiosos documentaram como acordos não relatados permitem que as companhias consolidem mercados e acabem com operações rivais. Essas aquisições impõem mais um desafio às autoridades antitruste, que estão com poucos recursos diante da disparada do número de fusões.
A estratégia de aquisição do Facebook foi alvo de uma nova queixa antitruste apresentada pela Comissão Federal de Comércio dos EUA (FTC, na sigla em inglês). A comissão acusa a gigante de manter ilegalmente seu monopólio nas redes sociais ao comprar empresas que considera ameaças competitivas.
A maioria das fusões nos EUA nunca chega a ser analisada pelos reguladores. Mais de 2.000 negócios foram protocolados junto às autoridades antitruste dos EUA entre outubro de 2018 e setembro de 2019, o período mais recente de divulgação de dados pela FTC e pelo Departamento de Justiça, que compartilham as funções antitruste. As análises oficiais representam cerca de 10% das quase 22 mil aquisições e investimentos corporativos anunciados naquele período envolvendo uma empresa americana, segundo dados compilados pela Bloomberg.
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