São Paulo — A Central Única das Favelas (Cufa) mobilizou R$ 296,2 milhões em pouco mais de um ano do projeto Mães da Favela, uma iniciativa que ajuda as mulheres chefes de família a sobreviverem aos impactos da covid-19. A Cufa criou o movimento ainda em março de 2020, logo após a declaração de pandemia pela Organização Mundial da Saúde, quando a instituição carioca notou que o novo cenário tinha potencial para agravar o panorama de dificuldades que eles já conheciam nas áreas que atuam, em que famílias com mulheres como provedoras eram predominantes.
“O projeto foi gerando uma grande onda que conseguimos até juntar empresas concorrentes em seus respectivos setores que nos ajudam juntas”, conta a diretora de projetos da Cufa, Elaine Caccavo, em entrevista à Bloomberg Línea.
A finalidade do projeto é ajudar essas mulheres, seja com cestas básicas ou com um valor em dinheiro, contando com o fornecimento de doações e a ajuda de companhias privadas, como a Vale, além das emissoras de televisão Bandeirantes e Globo.
“Juntamos a grande vontade de colaborar dos nossos mais de 35 mil voluntários no Brasil inteiro para chegar aos locais mais difíceis, que só as pessoas da área sabem como, desde populações ribeirinhas, de difícil acesso, até lugares em que precisamos enfrentar o poder paralelo.”
POR QUE ISSO É IMPORTANTE: Há cerca de 5,2 milhões de mães nas favelas brasileiras, segundo dados mais recentes do Data Favela, uma parceria entre a Cufa, o instituto de pesquisa Data Popular e o Instituto Locomotiva. Desse grupo, conforme apuração de maio deste ano, 72% são responsáveis pela maior renda da casa.
A diretora de projetos da Cufa explicou que a maior parte dos moradores de favela trabalham com comércio, limpeza, flanelinha ou obras. A pandemia destruiu boa parte da renda nesses setores. O auxílio-emergencial distribuído pelo governo federal não foi o suficiente para recompor os ganhos das famílias.
“Houve uma queda drástica dos recursos financeiros dessas pessoas. As ações que fazíamos em parceria com as empresas, que costumavam render um valor extra para as pessoas da favela que faziam parte, também precisaram ficar suspensas na pandemia, então o Mães da Favela nasceu para cobrir esse espaço”, explica Elaine, funcionária da Cufa há 15 anos.
CONTEXTO: Conforme a Secretaria Nacional de Políticas para as Mulheres, do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, os episódios de violência contra a mulher se tornaram mais frequentes nesse período de convivência mais intensa entre vítima e agressor, além do desemprego recorde do gênero feminino no país. O governo brasileiro gastou R$ 557 bilhões em ações de resposta à pandemia desde o início até junho deste ano, de acordo com o Poder360 citando dados do Portal da Transparência.
As mulheres são maioria entre os desempregados brasileiros, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, do IBGE. No primeiro trimestre de 2021, a taxa de desemprego entre as mulheres era de 17,9%, a maior da série histórica iniciada em 2012, ante 12,2% entre os homens. No período, o número de desempregados no país bateu o recorde de 14,8 milhões, com a taxa de 14,7%.
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RESULTADO: Na última semana de junho, o Mães da Favela realizou a ação Mães da Favela Futebol Clube, que envolvia clubes de futebol de todo o Brasil para que convocassem suas torcidas e patrocinadores a fazerem doações. A meta era arrecadar R$ 100 milhões, e o projeto terminou a semana com R$ 107 milhões.
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Até o fim de junho, conforme os dados mais recentes disponíveis, o Mães da Favela já entregou mais de duas milhões de cestas básicas.
Elaine disse à Bloomberg Línea que já há planos para uma nova ação com os clubes de futebol neste ano, mas ainda sem previsão. A Cufa também realizou, no fim de julho, uma campanha em parceria com Frente Nacional Antirracista para arrecadar alimentos e itens de higiene em prol dos trabalhadores da cadeia do carnaval.
A “G. R. E. S. Unidos da CUFA” teve apoio de ligas e uniões de escolas de samba de São Paulo e a ajuda com engajamento de sambistas como Zeca Pagodinho e Dudu Nobre. Na ação, foram distribuídas mais de 4,3 mil toneladas de alimentos em cerca de 330 mil cestas básicas.
“É mais um público que tem passado muita dificuldade financeira com a suspensão do carnaval, que normalmente gera uma renda consistente para muitas famílias envolvidas nas atividades dos barracões de escolas de samba”, conta a diretora.
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