Empresa holandesa pede registro para produto que promete reduzir emissão de metano dos bovinos

Aditivo promete reduzir em até 30% a difusão do gás tido como vilão da pecuária no aspecto ambiental

Empresa aposta em chegada de novo ingrediente nutricional para animais para impulsionar seus negócios em países onde a pecuária tem importante relevância econômica, entre eles o Brasil
19 de Agosto, 2021 | 09:19 AM

São Paulo — A holandesa DSM entrou com pedido de registro, junto ao Ministério da Agricultura brasileiro, de um aditivo nutricional chamado Bovaer que promete reduzir em até 30% a emissão do metano gerado por bovinos. Dona da Tortuga, uma das principais marcas de produtos para nutrição animal do país, a empresa aguarda agora a aprovação e liberação para comercialização de seu ingrediente, que há mais de uma década está em desenvolvimento.

“Já conseguimos o registro na Austrália e Nova Zelândia. No Brasil, já realizamos testes com o produto e os resultados foram muito bons. Agora, submetemos todos os estudos e documentos ao Ministério da Agricultura e estamos em fase de aprovação regulatória”, disse à Bloomberg Línea Sérgio Schuler, vice-presidente de nutrição e saúde animal da DSM no Brasil.

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POR QUE ISSO É IMPORTANTE: Segundo o último Inventário Nacional de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa, com dados até 2016, a atividade agropecuária é a que mais contribui com a emissão de gases relacionados ao aquecimento global, com uma participação de 33,2% de tudo o que é emitido pelo Brasil.

Pecuária leiteira é um dos focos da empresa e já foi liberado na Nova Zelândia, importante produtor mundial de leite.

Dessa fatia, 58% é proveniente da fermentação entérica das 214 milhões de cabeças do rebanho bovino e de outros ruminantes de menor porte. Na prática, quase 20% de todos os gases de efeito estufa que o Brasil emite são produzidos a partir da digestão de matéria orgânica dos ruminantes.

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CONTEXTO: A área de nutrição animal é o principal negócio da DSM no Brasil no mundo. A chegada do novo ingrediente, que há anos já vinha sendo prometido, tende a reforçar a operação brasileira, dado o fato de o país ser, em termos comerciais, dono do maior rebanho bovino do mundo. No ano passado, a empresa registrou vendas superiores a R$ 3 bilhões no país, resultado que representou um crescimento de 19% em comparação aos R$ 2,52 bilhões de 2019. Sozinho, o Brasil representou 5,8% da receita global da DSM em 2020.

Histórico de receita da empresa com as atividades no país, desde a aquisição da Tortuga em 2012

Globalmente, a DSM obteve em 2020 um faturamento de € 8,106 bilhões, com crescimento de 1,35% sobre o ano anterior. Contudo, os negócios de nutrição humana e animal apresentaram, juntos, um crescimento de 5,6%, com vendas de € 6,365 bilhões. A receita apenas com a comercialização de produtos para nutrição animal foi de € 3,025 bilhões, 4,6% acima de 2019. Na prática, mais de um terço da receita global gerada pela companhia é proveniente da nutrição animal.

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BARREIRAS: Se por um lado a adoção da nova tecnologia nutricional pode reduzir o peso que a atividade pecuária tem nas emissões do país, por outro, a fatura, por enquanto, está recaindo apenas sobre o pecuarista. Seria ele o responsável por adquirir e adicionar à dieta dos animais o novo ingrediente.

Ciente disso, a DSM já tem mantido contato com frigoríficos e laticínios para tentar unir todas as pontas e tentar criar um projeto conjunto. “A cadeia de produção tem sido receptiva. A ideia é fazer uma parceria com todos os elos para que, no final, o consumidor pague um pouco mais por um produto mais amigável ao meio ambiente”, afirma Schuler.

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Alexandre Inacio

Jornalista brasileiro, com mais de 20 anos de carreira, editor da Bloomberg Línea. Com passagens pela Gazeta Mercantil, Broadcast (Agência Estado) e Valor Econômico, também atuou como chefe de comunicação de multinacionais, órgãos públicos e como consultor de inteligência de mercado de commodities.