Como os investidores institucionais estão entrando em cripto no Brasil

Entre as maiores posições compradas em ETF de cripto estão Pollux, Credit Suisse, e BTG Pactual. Gestor afirma que movimento ainda é tímido, mas reflete mais aposta de longo prazo que especulação

“É uma alocação estratégica, e não tática. Não é um movimento especulativo para ganhar no curto prazo", diz Samir Kerbage
16 de Agosto, 2021 | 01:45 PM

São Paulo — Não se trata de um mergulho na piscina, mas colocar a ponta dos pés para medir a temperatura da água: investidores institucionais brasileiros, como bancos de investimentos e gestoras de ativos, têm aportado de maneira crescente em ativos de criptomoedas.

Desde que foi lançado em abril o ETF Hashdex Nasdaq Crypto Index (HASH11) - o primeiro do mundo a ser negociado reproduzindo uma carteira teórica de criptoativos -, os investidores institucionais já representam ao menos 25% das posições compradas no ativo. O ETF captou R$ 1 bilhão em recursos na primeira semana após o lançamento e saltou de 40 mil para 130 mil investidores entre abril e julho.

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Em julho, o HASH11 atingiu R$ 1,5 bilhão em volume financeiro, conforme dados da B3. Somadas, as pessoas físicas tinham uma posição comprada de R$ 1,04 bilhão, mas o valor aportado por bancos e gestores de ativos já representava 25% do volume total (em dinheiro: R$ 370 milhões).

O Pollux, Credit Suisse, o BTG Pactual e a própria Hashdex são os maiores no ETF, de acordo com dados da Bloomberg.

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Depois de estrear a R$ 50 em abril, HASH11 teve pico de R$ 57, mas caiu acompanhando baixa das criptos nos meses seguintes e agora oscila na casa dos R$ 45

POR QUE ISSO É IMPORTANTE: A entrada de investidores institucionais é um movimento importante porque tende a dar maior liquidez aos ativos baseados em criptomoedas no mercado secundário brasileiro. Trata-se de um indicativo de amadurecimento deste tipo de ativo.

“É uma alocação estratégica, e não tática. Não é um movimento especulativo para ganhar no curto prazo, e sim uma classe de ativos que têm potencial de valorização muito grande e pode até ser uma proteção num cenário de inflação nos EUA. A gente vê esse movimento virar, com o surgimento dos institucionais, apesar de ainda estar lento no começo”, disse Samir Kerbage, diretor de tecnologia (CTO) da Hashdex, que lançou o HASH11.

“Depois do lançamento do HASH11 temos visto uma alocação cada vez maior de investidores institucionais. Um movimento muito tímido, mas crescente de 20 a 25% de institucionais do patrimônio líquido do ETF”.

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OS PRINCIPAIS PLAYERS: A Pollux Capital, uma gestora, comprou quase 460 mil cotas aumentando sua posição para 547,1 mil, tornando-se a maior posição comprada no ETF, segundo dados consolidados da B3 e pela Bloomberg até 30 de julho. O valor de mercado desta posição, pela cotação desta segunda-feira (16), às 12h, era de R$ 24,43 milhões.

Em segundo veio, o CSHG Asset Management (Credit Suisse) com 471.500, algo em torno de R$ 21 milhões – uma posição modesta perto dos R$ 18 bilhões em ativos que estavam contabilizados em 31 de dezembro de 2020, segundo os dados do último balanço do Credit Suisse no Brasil.

Em julho, o BTG Pactual fez um aporte grande no ativo: comprou 179 mil unidades, elevando sua posição para 211,5 mil. A operação foi por meio da holding. A gestora de recursos do banco de investimentos já tinha outros 19,8 mil ativos.

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A Hashdex, gestora que criou o ETF, elevou sua posição e detém cerca de 444 mil cotas. A G5 Administradora de Recursos e Verde Asset Management, de Luis Stuhlberger, têm, respectivamente, R$ 4,11 e 4,02 milhões no HASH11, pela cotação desta segunda.

Conforme os arquivos protocolados na CVM, o fundo Vítreo FOF Superprevidência, do Icatu, tem 558 mil cotas (em torno de R$ 20 milhões). Algumas divergências entre posições podem ocorrer porque, em geral, só costumam revelar suas posições publicamente com três meses de defasagem.

Somadas, pessoas físicas detinham R$ 1,04 bilhão em 30 de junho, enquanto investidores institucionais somavam R$ 370 milhões (25%)

CONTEXTO: Fundada em 2018, a Hashdex tem R$ 3,5 bilhões sob gestão e 220 mil investidores – a maioria deles, investidores individuais no ETF e em fundos em que parte do portfolio está alocado em cripto, negociados em plataformas de investimento. Segundo Kerbage, o HASH11 levou dois anos para ser estruturado.

Para poder atrair investidores institucionais, a Hashdex foi atrás da Nasdaq para desenvolver o NCI (Nasdaq Crypto Index), um índice no qual se baseia a carteira do ETF, assegurando assim a governança da bolsa americana para lançar o ETF e botar o produto no mercado.

“Cripto é muito maior do que só bitcoin. Investimento passivo, com exposição em longo prazo. Então não importa se o bitcoin é a moeda do futuro ou o ethereum. Ou se vai surgir uma outra que vai substituir. O conceito seria: vamos dar um veículo para os investidores poderem acessar o mercado como um todo. A gente não sabe qual dos ativos vai crescer mais nos próximos anos e decidiu criar este veículo. O ETF é o mais eficiente do ponto de vista dos custos”, disse Kerbage.

NOVOS ETFS: Depois do HASH11, outros dois ETFs de cripto foram lançados na B3. Em julho, foi lançado o QBTC11, que replica o bitcoin, e no dia 4 de agosto, o QETH11, que segue o preço do ethereum, o segundo maior ativo digital do mercado, seguindo o índice CME CF Ether Reference Rate, referência de contratos futuros de bitcoin negociados na Chicago Mercantile Exchange Group.

Graciliano Rocha

Editor da Bloomberg Línea no Brasil. Jornalista formado pela UFMS. Foi correspondente internacional (2012-2015), cobriu Operação Lava Jato e foi um dos vencedores do Prêmio Petrobras de Jornalismo em 2018. É autor do livro "Irmã Dulce, a Santa dos Pobres" (Planeta), que figurou nas principais listas de best-sellers em 2019.

Kariny Leal

Jornalista carioca, formada pela UFRJ, especializada em cobertura econômica e em tempo real, com passagens pela Bloomberg News e Forbes Brasil. Kariny cobre o mercado financeiro e a economia brasileira para a Bloomberg Línea.