Como os investidores institucionais estão entrando em cripto no Brasil

Entre as maiores posições compradas em ETF de cripto estão Pollux, Credit Suisse, e BTG Pactual. Gestor afirma que movimento ainda é tímido, mas reflete mais aposta de longo prazo que especulação

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São Paulo — Não se trata de um mergulho na piscina, mas colocar a ponta dos pés para medir a temperatura da água: investidores institucionais brasileiros, como bancos de investimentos e gestoras de ativos, têm aportado de maneira crescente em ativos de criptomoedas.

Desde que foi lançado em abril o ETF Hashdex Nasdaq Crypto Index (HASH11) - o primeiro do mundo a ser negociado reproduzindo uma carteira teórica de criptoativos -, os investidores institucionais já representam ao menos 25% das posições compradas no ativo. O ETF captou R$ 1 bilhão em recursos na primeira semana após o lançamento e saltou de 40 mil para 130 mil investidores entre abril e julho.

Em julho, o HASH11 atingiu R$ 1,5 bilhão em volume financeiro, conforme dados da B3. Somadas, as pessoas físicas tinham uma posição comprada de R$ 1,04 bilhão, mas o valor aportado por bancos e gestores de ativos já representava 25% do volume total (em dinheiro: R$ 370 milhões).

O Pollux, Credit Suisse, o BTG Pactual e a própria Hashdex são os maiores no ETF, de acordo com dados da Bloomberg.

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POR QUE ISSO É IMPORTANTE: A entrada de investidores institucionais é um movimento importante porque tende a dar maior liquidez aos ativos baseados em criptomoedas no mercado secundário brasileiro. Trata-se de um indicativo de amadurecimento deste tipo de ativo.

“É uma alocação estratégica, e não tática. Não é um movimento especulativo para ganhar no curto prazo, e sim uma classe de ativos que têm potencial de valorização muito grande e pode até ser uma proteção num cenário de inflação nos EUA. A gente vê esse movimento virar, com o surgimento dos institucionais, apesar de ainda estar lento no começo”, disse Samir Kerbage, diretor de tecnologia (CTO) da Hashdex, que lançou o HASH11.

“Depois do lançamento do HASH11 temos visto uma alocação cada vez maior de investidores institucionais. Um movimento muito tímido, mas crescente de 20 a 25% de institucionais do patrimônio líquido do ETF”.

OS PRINCIPAIS PLAYERS: A Pollux Capital, uma gestora, comprou quase 460 mil cotas aumentando sua posição para 547,1 mil, tornando-se a maior posição comprada no ETF, segundo dados consolidados da B3 e pela Bloomberg até 30 de julho. O valor de mercado desta posição, pela cotação desta segunda-feira (16), às 12h, era de R$ 24,43 milhões.

Em segundo veio, o CSHG Asset Management (Credit Suisse) com 471.500, algo em torno de R$ 21 milhões – uma posição modesta perto dos R$ 18 bilhões em ativos que estavam contabilizados em 31 de dezembro de 2020, segundo os dados do último balanço do Credit Suisse no Brasil.

Em julho, o BTG Pactual fez um aporte grande no ativo: comprou 179 mil unidades, elevando sua posição para 211,5 mil. A operação foi por meio da holding. A gestora de recursos do banco de investimentos já tinha outros 19,8 mil ativos.

A Hashdex, gestora que criou o ETF, elevou sua posição e detém cerca de 444 mil cotas. A G5 Administradora de Recursos e Verde Asset Management, de Luis Stuhlberger, têm, respectivamente, R$ 4,11 e 4,02 milhões no HASH11, pela cotação desta segunda.

Conforme os arquivos protocolados na CVM, o fundo Vítreo FOF Superprevidência, do Icatu, tem 558 mil cotas (em torno de R$ 20 milhões). Algumas divergências entre posições podem ocorrer porque, em geral, só costumam revelar suas posições publicamente com três meses de defasagem.

CONTEXTO: Fundada em 2018, a Hashdex tem R$ 3,5 bilhões sob gestão e 220 mil investidores – a maioria deles, investidores individuais no ETF e em fundos em que parte do portfolio está alocado em cripto, negociados em plataformas de investimento. Segundo Kerbage, o HASH11 levou dois anos para ser estruturado.

Para poder atrair investidores institucionais, a Hashdex foi atrás da Nasdaq para desenvolver o NCI (Nasdaq Crypto Index), um índice no qual se baseia a carteira do ETF, assegurando assim a governança da bolsa americana para lançar o ETF e botar o produto no mercado.

“Cripto é muito maior do que só bitcoin. Investimento passivo, com exposição em longo prazo. Então não importa se o bitcoin é a moeda do futuro ou o ethereum. Ou se vai surgir uma outra que vai substituir. O conceito seria: vamos dar um veículo para os investidores poderem acessar o mercado como um todo. A gente não sabe qual dos ativos vai crescer mais nos próximos anos e decidiu criar este veículo. O ETF é o mais eficiente do ponto de vista dos custos”, disse Kerbage.

NOVOS ETFS: Depois do HASH11, outros dois ETFs de cripto foram lançados na B3. Em julho, foi lançado o QBTC11, que replica o bitcoin, e no dia 4 de agosto, o QETH11, que segue o preço do ethereum, o segundo maior ativo digital do mercado, seguindo o índice CME CF Ether Reference Rate, referência de contratos futuros de bitcoin negociados na Chicago Mercantile Exchange Group.