São Paulo — Ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, atual secretário do Estado de São Paulo, afirma estar mais uma vez pronto para ajudar o país em “momentos desafiadores” da economia brasileira no melhor estilo do bordão “Chama o Meirelles”, usado em sua campanha para presidência da República em 2018.
“Só não vou se não tiver condições mínimas para fazer um bom trabalho”, disse, lembrando do convite que recebeu da então presidente Dilma Rousseff para comandar o Ministério da Fazenda após a saída de Joaquim Levy.
Dessa vez, Meirelles é lembrado como possível vice na chapa de Lula nas eleições de 2022, posto em que poderia trazer confiança aos mercados e empresários, exatamente como fez quase 20 anos atrás como presidente do BC. Sobre o novo desafio como ponte de Lula com o setor produtivo, Meirelles desconversa, afirmando que analisará o caso na hora certa e sob as condições efetivas do momento. “O que não faço é decidir por hipóteses: se houver o convite ou o chamamento tal, qual será a minha decisão. Esse tipo de gasto de tempo inútil eu não tenho. Trabalho em cima de hipótese concreta”, disse.
Para Meirelles, os mercados têm uma preocupação em relação às eleições de 2022 que não é de fato com o ex-presidente Lula, mas com declarações de integrantes do Partido dos Trabalhadores. “Economistas que se intitulam porta-vozes do PT _não sei se são_ fazem declarações preocupantes porque propõem tudo aquilo que não dá certo: despesa pública elevada, [dizem que] gastar dinheiro é bom.. Esse discurso é preocupante porque a gente sabe o resultado, que aconteceu no Brasil por décadas. De tempos em tempos tinha uma crise, como ainda acontece em outros países da vizinhança”, disse.
“É preciso diferenciar o que é o Lula e o que é o PT, que faz essas declarações desencontradas da realidade do país. Quando o Lula fala que quer revogar o teto dos gastos, no mínimo, ele está sendo mal assessorado”, disse.
Para o ex-ministro, essas declarações são preocupantes. “Naquela época, ele [Lula] perdeu três eleições por questões assim. Em 2002, escreveu a Carta ao Povo Brasileiro, dizendo que não era nada daquilo: esqueçam tudo que eu disse porque agora o negócio vai ser pé no chão. E, de fato, foi pelo menos do ponto de vista monetário e fiscal, no primeiro mandato”, disse.
“E agora? Será que ele vai mudar de novo? Vai escrever outra Carta ao Povo Brasileiro dizendo que aquilo que falou estava errado?”, questiona.
Inflação e ‘corner’ do BC
Além de liderar o Ministério da Fazenda no pós-impeachment, Meirelles foi o mais longevo presidente do Banco Central, onde esteve de 2003 a 2011 no primeiro e segundo mandatos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Sobre o atual corner do Banco Central para lidar com a escalada de preços, Meirelles lembra que a inflação brasileira tem suas peculiaridades, mas grande parte está relacionada a um problema de confiança. Ele afirma que o trabalho do BC pode ser facilitado ou não, dependendo do ajuste do lado fiscal, como aconteceu em 2016, quando a aprovação do teto de gastos reduziu a percepção de risco, ajudou a derrubar a taxa de juros real e facilitou o trabalho do Banco Central.
“A inflação brasileira tem peculiaridades. Houve uma desorganização muito grande da cadeia produtiva no Brasil em função da pandemia, então houve falta de produtos eventuais. Com muitas incertezas, as empresas mesmo tendo vendas baixas, aumentaram preços para segurar margens. Agora, há um componente muito importante de falta de confiança. Quando as pessoas confiam que a inflação vai cair, então as empresas moderam os aumentos de preço e entra num ciclo virtuoso”, disse.
Reforma tributária
“Não há nada mais complexo no Brasil do que a legislação do ICMS”, disse Meirelles, defensor de uma reforma tributária mais ampla, que envolva também os tributos estaduais e municipais, e não apenas os federais como o Imposto de Renda, alvo da proposta em debate no Congresso. Para Meirelles, a dificuldade sempre é mexer nos impostos sem aumentar a arrecadação, daí a maior polêmica e dificuldade para avançar no tema.
Na proposta atual, Meirelles vê com preocupação a tributação de dividendos porque as empresas já pagam impostos elevados, em termos internacionais. “Não adianta dizer que, na hora de distribuir, os dividendos são isentos. A empresa já pagou o imposto no lucro”, disse.
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