Bloomberg — A maioria dos investidores reconhece a chegada da inflação, vendo a aceleração dos preços como um sinal de uma economia em expansão. Mas nem todos. Uma minoria cada vez mais ruidosa defende sua visão de custos crescentes, emprego em queda e crescimento lento, a assustadora combinação conhecida como estagflação.
Jerry Braakman, por exemplo, não quer esperar para ver e se prepara justo para esse ambiente. O diretor de investimentos da First American Trust tem aumentado a exposição a fundos de investimento imobiliário (REITs) e de tecnologia e reduzido posições no setor de finanças, que teoricamente seria afetado por uma curva de juros achatada.
A estagflação tende a ser um tópico delicado nos círculos financeiros, uma vez que evoca preços do petróleo elevados e taxas de desemprego altíssimas. Embora o cenário macroeconômico atual seja muito diferente da década de 1970, certas semelhanças emergem: a inflação transitória se mostra mais alta e persistente do que o esperado, o crescimento econômico real tem esfriado e milhões de trabalhadores permanecem fora do mercado.
Economistas podem debater se o termo “estagflação” é hiperbólico ou premonitório, mas com expectativas de inflação perto das máximas em mais de uma década e a perspectiva de crescimento global mais incerta, Braakman começou a alterar seu portfólio em junho.
“Teremos uma economia em desaceleração e ainda em crescimento, e a inflação vai continuar”, disse Braakman, cuja empresa administra US$ 2 bilhões. “Então, entramos nessa estagflação.” Nesse cenário, os REITs e o setor de tecnologia ainda tendem a ter bom desempenho, e o ouro começa a parecer atraente, disse.
A ideia de que estamos em um ambiente estagflacionário - ou de que estaria a caminho - ainda é uma visão periférica no momento. Previsões apontam crescimento acima de 6% para o PIB dos EUA este ano e melhora da confiança dos consumidores. Em Wall Street, os lucros corporativos permanecem fortes. Na temporada de balanços mais recente, os lucros dobrarem em relação aos níveis do ano anterior.
Custos
Uma explicação para as diferentes perspectivas é que nem todos os períodos inflacionários são iguais. Chun Wang, do Leuthold Group, diz que alguns aumentos de preços são impulsionados pelo que ele chama de “puxão da demanda”, que costuma ser acompanhado por taxas de desemprego mais baixas, enquanto outros refletem um “puxão dos custos”, marcado por fatores como preços mais altos das commodities.
Wang diz que a atual pressão inflacionária é impulsionada pela demanda, onde as ações tendem a mostrar bom desempenho em ambientes econômicos mais favoráveis. Em contraste, períodos de aumento de custos geram retornos modestos e tendem a coincidir com a estagflação.
Os que defendem um ambiente estagflacionário veem evidências em todos os lugares. Em junho, o índice de preços ao consumidor subiu 5,4% em relação ao ano anterior na taxa anualizada, o ritmo mais rápido desde 2008, e o relatório de julho, divulgado na quarta-feira, permaneceu nesse nível. No entanto, a renda não acompanhou: o crescimento médio anual dos salários por hora se acelerou 4% em julho.
Esse descompasso - americanos pagam mais por produtos sem aumento dos salários - pode ser um dos muitos fatores que afetam o PIB real. O número ajustado pela inflação atingiu 6,5% no segundo trimestre, bem abaixo das projeções de 8,4%.
Em um cenário de mercado de trabalho nos Estados Unidos onde há cada vez mais vagas abertas, mas com a taxa de participação ainda baixa, o espectro da estagflação, na visão de alguns, está se materializando nos mercados. Os rendimentos dos títulos de 10 anos do Tesouro dos EUA caíram para 1,12% na semana passada, pressionados pela queda dos chamados yields reais - que descontam o efeito da inflação - para uma mínima histórica, sugerindo que operadores veem pouco crescimento à frente.
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