Brasil não terá mais uma safra recorde de grãos

Conab faz nova revisão em sua estimativa, corta 2,6% da perspectiva anterior e derruba produção nacional no ciclo 2020/21 por piora nas condições climáticas

Produção da oleaginosa terá crescimento, mas clima seco no início do plantio e geadas na fase final da segunda safra impediram que Brasil registrasse um novo recorde na produção de grãos
10 de Agosto, 2021 | 11:36 AM

São Paulo — O que já era dado como certo pelo mercado foi confirmado hoje pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). O Brasil não terá mais uma safra recorde de grãos. A estatal revisou hoje seu número para a produção nacional e a nova estimativa é de uma oferta de 253,9 milhões de toneladas de grãos no ciclo 2020/21.

A nova previsão é 1,2% menor do que a safra anterior e representa um corte de 2,6% em comparação à estimativa feita em julho deste ano. Na prática, a Conab cortou, de um mês para outro, quase sete milhões de toneladas de grãos da produção brasileira.

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A oferta menor ocorre mesmo diante de um aumento na área plantada. Na safra 2020/21 foram cultivados 68,8 milhões de hectares, 4,5% a mais do que no ciclo anterior. O principal fator para uma menor oferta mesmo diante de uma área maior foi o clima.

“A redução se deve, principalmente, à queda das produtividades estimadas nas culturas de segunda safra, justificada pelos danos causados pela seca prolongada nas principais regiões produtoras, bem como às baixas temperaturas com eventos de geadas ocorridas nos estados da Região Centro-Sul do país”, informou a Conab.

CULTURA MAIS PREJUDICADA

Atraso no plantio da segunda safra por conta da estiagem e geadas na fase final de desenvolvimento das lavouras impediram que Brasil tivesse uma nova safra recorde de grãos

O milho foi a cultura mais prejudicada pela instabilidade do clima neste ano. Em outubro do ano passado, quando a Conab divulgou sua primeira estimativa, a previsão era que o Brasil produzisse 105,1 milhões de toneladas do cereal. Hoje, a oferta nacional será de 86,6 milhões de toneladas, 7,2% a menos do que o previsto em julho e 15,5% menor que o ano passado. A seca e as geadas fizeram com que o Brasil deixasse de colher o equivalente a toda a produção da região Sul do país.

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“Apenas para a segunda safra do cereal, a queda na produtividade estimada é de 25,7%, uma previsão de 4.065 quilos por hectare. A redução só não foi maior porque os altos preços do grão impulsionaram um aumento de área plantada em 8,1%, chegando a 14,87 milhões de hectares. Além disso, Mato Grosso, principal estado produtor, foi o que menos registrou condições climáticas adversas durante o cultivo do cereal”, informou a Conab.

CONTEXTO

O clima teve influência na safra deste ano desde o início. Em setembro do ano passado, quando o plantio do atual ciclo deveria ter se iniciado, a falta de chuvas impediu que as máquinas semeassem os campos. Nas principais regiões produtoras, o plantio ficou atrasado em pelo menos 30 dias. Com o plantio atrasado, houve atraso na colheita e, consequentemente, uma demora maior para o cultivo da segunda safra, já no início deste ano.

Principais produtos

  • Algodão: 2,34 milhões de toneladas (-22%)
  • Arroz: 11,74 milhões de toneladas (+5%)
  • Feijão: 2,94 milhões de toneladas (-8,8%)
  • Soja: 135,97 milhões de toneladas (+8,9%)
  • Milho: 86,65 milhões de toneladas (-15,5%)
  • Trigo: 8,59 milhões de toneladas (+37,8%)
Alexandre Inacio

Jornalista brasileiro, com mais de 20 anos de carreira, editor da Bloomberg Línea. Com passagens pela Gazeta Mercantil, Broadcast (Agência Estado) e Valor Econômico, também atuou como chefe de comunicação de multinacionais, órgãos públicos e como consultor de inteligência de mercado de commodities.