Economistas veem BC mais duro para segurar expectativa de inflação

O Copom elevou a taxa Selic para 5,25%, e a avaliação é que autoridade monetária reconheceu aumento de preços mais persistente, especialmente no setor de serviços

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São Paulo — O Banco Central adotou um discurso mais duro para controlar as expectativas de inflação, particularmente com relação ao horizonte da meta de 3,5% do IPCA em 2022, segundo economistas. A avaliação é que a autoridade monetária reconheceu uma inflação mais persistente, especialmente no setor de serviços, em meio a uma atividade econômica robusta com a reabertura da economia no pós-pandemia.

O Banco Central reconheceu ainda que, nesse cenário, os juros terão de voltar para o patamar acima do neutro, com objetivo de desaquecer a economia e evitar a indexação. A decisão pode ter efeito no câmbio, levando a uma apreciação do real. Já as taxas de juros mais curtas podem subir, enquanto as mais longas poderão recuar, a depender do noticiário em relação aos riscos fiscais.

MAIS CEDO: O Banco Central acelerou a dose de aperto nos juros e elevou a taxa Selic em 1 ponto percentual, de 4,25% para 5,25% ao ano.

O que dizem os economistas:

  • Segundo Jansen Costa, sócio da Fatorial Investimentos, o Banco Central se vê “correndo atrás da curva” de juros. “O mercado de juros antecipou a alta e está ditando o ajuste do Copom. O comunicado deixa claro um novo aumento de 1 ponto de juros com mais um novo aumento de 1 ponto. As expectativas de juros para dezembro vão aumentar após essa ata”, disse.
    • Jansen sustenta que, com a alta da Selic, a renda fixa pode voltar a ficar interessante se o investidor optar por mudar a maneira de investir e buscar títulos pré-fixados para um prazo de até 12 meses, conseguindo uma rentabilidade de mais de 7%. “Consegue também ter juros real perto de zero e um rendimento melhor do que no Tesouro Selic ou poupança diminuindo a chance de ficar negativo em relação à inflação”, completou.
  • Para Adauto Lima, economista-chefe da Western Asset, a decisão do BC mostrou uma preocupação com a dinâmica inflacionária, incluindo choques temporários com o impacto das geadas nos produtos in natura. “Ao mesmo tempo, o BC vislumbra uma atividade ainda forte, mas sem grandes riscos, o que consolida esse cenário de recuperação econômica, portanto o foco passa a ser segurar as expectativas e garantir uma convergência das expectativas de inflação de forma célere em 2022”, disse.
  • Mauro Orefice, diretor de investimentos da BS2 Asset, o comunicado veio mais duro do que o habitual ao afirmar que o BC terá de elevar as taxas para patamar acima do neutro. “Isso se torna necessário, porque o Brasil é conhecido pela indexação de preços, o que torna a inflação estrutural e o Banco Central precisa ser mais duro para garantir a ancoragem das expectativas”, disse.
  • Na avaliação de André Perfeito, economista-chefe da Necton, não houve surpresa com a decisão, mas os agentes de mercado devem repercutir a promessa de novo aumento da mesma magnitude em setembro. “O tom mais hawkish sugere que a parte longa da curva de juros pode retroceder”, disse, reforçando cuidado com a possibilidade de que uma proposta de emenda constitucional possa desrespeitar o teto de gastos e mitigar a queda dos juros mais longos.
  • Para João Beck, economista e sócio da BRA, o comunicado do Copom mostrou um alinhamento com o compromisso da meta em tom ainda mais rígido, principalmente quando sinaliza juros para patamar acima do neutro. “Especial destaque para divisão de responsabilidades com o Congresso. Que já havia sido escrito em comunicados recentes, mas agora com mais ênfase. Mesmo a despeito de melhoras no perfil da dívida pública, sinais de continuidade de políticas de estímulo preocupam”, disse.