Indústria ameaça convocar Conselho Nacional de Biossegurança se trigo OGM passar na CTNBio

Moinhos já expuseram contrariedade à aprovação e agora se organizam deixar debate técnico e partir para disputa administrativa junto a grupo de ministros do governo federal

Indústrias dizem não haver demanda dos consumidores por derivados de trigo geneticamente modificado
03 de Agosto, 2021 | 12:42 PM

São Paulo — A reunião da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) que deve analisar o pedido para a liberação do trigo e da farinha de trigo geneticamente modificados está marcada para o próximo dia 5 de agosto. Contudo, temendo que a entidade aprove a importação dos produtos por ter cumprido todos os critérios técnicos, a Associação Brasileira da Indústria de Trigo (Abitrigo) já prepara uma nova estratégia para vetar a decisão, o que inclui a convocação do Conselho Nacional de Biossegurança (CNBS).

“Ainda precisamos aguardar a decisão da CTNBio, mas estamos nos preparando para pedir a convocação do grupo ministerial que forma o CNBS para que seja feita uma análise a respeito da oportunidade e conveniência dessa liberação”, afirma o ex-embaixador Rubens Barbosa, presidente da Abitrigo.

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POR QUE ISSO É IMPORTANTE: Ao levar o debate para o CNBS, os moinhos de trigo reconhecem que as barreiras ao trigo transgênico não estão no aspecto técnico, mas sim, no campo socioeconômico. O receio das indústrias está na aceitação dos produtos derivados por parte dos consumidores finais. Segundo Barbosa, o tema já foi levado internamente aos associados e o retorno obtido foi de contrariedade à liberação, uma vez que não existe demanda por parte dos consumidores.

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CONTEXTO: O CNBS foi criado em março de 2005 pela lei 11.105 e, à época, ficou conhecido como “Conselhão”. Originalmente, ele era composto por 11 ministérios, mas diante das reformas ministeriais que ocorreram desde então, a formação atual contaria com oito ministros.

Basicamente, o CNBS tem três atribuições:

  • Fixar princípios e diretrizes para a ação administrativa dos órgãos e entidades federais com competências sobre a matéria;
  • Analisar, a pedido da CTNBio, quanto aos aspectos da conveniência e oportunidade socioeconômicas e do interesse nacional, os pedidos de liberação para uso comercial de OGM e seus derivados;
  • Avocar e decidir, em última e definitiva instância, com base em manifestação da CTNBio e, quando julgar necessário, sobre os processos relativos a atividades que envolvam o uso comercial de OGM e seus derivados.

Apesar de querer levar a discussão do trigo transgênico para campo socioeconômico, a própria Abitrigo reconhece que até o momento não existe nenhum estudo a respeito do impacto que a rejeição ao produto poderia ter no setor. O representante dos moinhos lembra, no entanto, que tentativas anteriores de outros países em levar adiante a venda comercial de variedades transgênicas de trigo resultaram na suspensão da importação por conta da rejeição nos países consumidores.

Alexandre Inacio

Jornalista brasileiro, com mais de 20 anos de carreira, editor da Bloomberg Línea. Com passagens pela Gazeta Mercantil, Broadcast (Agência Estado) e Valor Econômico, também atuou como chefe de comunicação de multinacionais, órgãos públicos e como consultor de inteligência de mercado de commodities.