São Paulo — A rede de varejo farmacêutico Pague Menos, que divulgou o maior lucro trimestral da história no segundo trimestre, prevê obter no início de 2022 o aval do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) à compra da rival Extrafarma. O negócio de R$ 700 milhões com o Grupo Ultra, anunciado em maio, deve ser pago em três parcelas, com uso dos recursos do próprio caixa e das sinergias capturadas com a transação.
“Parte do pagamento da aquisição será também financiada com a própria geração de caixa da operação da Extrafarma ao longo desses próximos três anos. A gente não precisa fazer captações para financiar a aquisição. Devemos fazer captações somente para rolar a dívida atual da companhia”, disse Luiz Novais, CFO da Pague Menos, em entrevista à Bloomberg Línea.
Segundo ele, hoje a companhia tem uma dívida bruta próxima de R$ 800 milhões, e uma líquida perto de R$ 400 milhões. “Um pedaço dessa dívida vence agora em 2022. Devemos fazer uma tomada só para trocar e refinanciar essa dívida, mas não novas tomadas de recursos para financiar a aquisição”, afirmou.
Segundo ele, não foi ainda definido o tipo de empréstimo para essa rolagem nem o banco contratado para a operação. “Estamos estudando ainda alternativas de captação”.
Sobre a previsão de que o Cade aprove a aquisição da Extrafarma no primeiro trimestre do ano que vem, o CFO explica que a projeção se sustenta pelo tempo médio de operações similares (de seis a 12 meses) em tramitação no órgão, indicada por sua assessoria jurídica. O cronograma da Pague Menos para a aquisição prevê protocolar o processo de incorporação da Extrafarma no Cade ainda neste mês e a realização da Assembleia Geral Extraordinária (AGE) para ratificar a operação no mês que vem.
Market share
A conclusão do negócio é importante para a Pague Menos, pois ela poderá apresentar ao mercado um salto no market share do setor, que fechou o primeiro semestre em 5,4% do mercado nacional, abaixo dos 5,7% de igual período do ano passado. A Pague Menos atribui essa redução ao “saneamento do portfólio”.
Hoje a companhia tem 1.100 lojas, sendo que, entre 2016 e 2019, foram abertas 500 unidades em regiões onde a companhia tinha menor “know how”, mas com fechamento de outras 170 lojas.
A pandemia da Covid-19 contribuiu, segundo Novais, para a queda de participação devido ao comportamento do consumidor, identificado pela empresa, de preferir realizar suas compras em farmácias de bairros mais afastados do centro, sem a necessidade de deslocamento.
Com a incorporação da Extrafarma, a Pague Menos projeta alcançar 7% de market share e, segundo o CFO, deve interromper a redução desse indicador entre o fim deste ano e 2022, já que voltou a inaugurar lojas (mais sete, desde julho). Nas regiões de maior atuação, a previsão é aumentar a participação de 18% para 23% no Nordeste e de 10% para 20% no Norte.
Pandemia
Sobre a evolução da pandemia, o CFO diz que há uma tendência de queda na demanda dos testes de detecção da Covid-19, que os picos de vendas foram no fim do ano passado e no primeiro trimestre de 2021. A Pague Menos, uma das primeiras a ofertar o produto no país (desde a autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa, em abril de 2020), já aplicou cerca de 600 mil testes, com receita mensal estimada entre R$ 15 milhões e R$ 20 milhões com as vendas desses testes rápidos, representando 3% do seu faturamento total.
Novais lembrou que a companhia fez parcerias com governos, como o de São Paulo, para usar suas unidades como ponto de vacinação contra a Covid-19, como já havia feito com a vacina contra a H1N1, e que a companhia aposta, desde 2016, no modelo de farmácia como o primeiro ponto de atendimento de saúde. Hoje a companhia oferta 47 serviços, que vão da realização de testes de DNA para bebês à medição de glicemia.
Ações
A Pague Menos estreou na B3 em setembro do ano passado. Sobre a necessidade de aumento do “free float” (indicador que mostra o percentual de ações que uma empresa possui em livre circulação na Bolsa), o CFO reconhece que a liquidez da PGMN3 é pequena na comparação com papéis de outras varejistas e que os acionistas controladores estão cientes do assunto.
Por enquanto, a companhia não estuda realizar nenhum “follow on” (oferta secundária, em que sócios vendem ações no mercado) e que vai permanecer listada no Novo Mercado da B3 e apostando na agenda ESG (sigla em inglês para melhores práticas ambientais, sociais e de governança), estudando, por exemplo, uma futura adesão ao ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial), índice da B3 que vai renovar a carteira em janeiro próximo, após análise da situação ESG das 200 empresas mais negociadas no pregão. “Nos últimos 5 anos, evoluímos para um patamar de excelência em governança”, diz Novais.
Lucro
A Pague Menos registrou um lucro líquido de R$ 69,356 milhões no segundo trimestre, bem acima dos R$ 9,143 milhões de igual período do ano passado. O CFO cita o lucro líquido ajustado de R$ 71,6 milhões, excluindo despesas não recorrentes (R$ 2,2 milhões) referentes à aquisição da Extrafarma, como a contratação de assessorias e outros custos de uma operação de M&A. Foi o maior resultado trimestral da história da empresa fundada em 1981 pelo empresário Deusmar Queirós em Fortaleza (CE).
“Os resultados evidenciam o salto no nível de rentabilidade alcançado pela empresa nos últimos trimestres. E os indicadores operacionais revelam nosso crescimento consistente alicerçado por operações e processos cada vez mais eficientes, centrados no cliente”, afirma Mário Queirós, CEO da Pague Menos e filho do fundador.