Cidades inteligentes precisam reciclar água, dizem especialistas

Segundo a ONU, mudança climática tem aumentado a frequência, gravidade e duração das secas, que contribuem para a insegurança alimentar, a pobreza e a desigualdade

Casas flutuantes no Lago Oroville, durante o estado de emergência de seca na Califórnia
Por David Dudley
03 de Agosto, 2021 | 06:50 PM

Bloomberg — As cidades ao longo da história sempre se esforçaram para garantir água. Os romanos construíram aquedutos, os maias desenvolveram câmaras de armazenamento subterrâneas, e os agricultores da cultura Hohokam cavaram mais de 800 quilômetros de canais no que hoje é o sudoeste dos Estados Unidos.

As cidades de hoje usam portfólios de tecnologias para conservar o abastecimento, como represas de 60 andares, produtos químicos, bombas centrífugas e banheiros especiais. E, no entanto, as cidades do futuro terão que fazer mais.

Um relatório recente da ONU afirma que a mudança climática tem aumentado a frequência, gravidade e duração das secas, que contribuem para a insegurança alimentar, a pobreza e a desigualdade. O relatório também diz que “a seca foi o único gatilho físico de mudança política de longo prazo em 5 mil anos de história humana registrada”. E pede ação urgente e uma transformação da governança para gerenciar o risco das secas modernas de forma mais eficaz.

Os exemplos podem ser encontrados globalmente. Em 2018, a Cidade do Cabo, na África do Sul, evitou por pouco um “Dia Zero”, quando as torneiras ficariam sem água. Aquíferos indianos estão desaparecendo em ritmo acelerado. O Rio Colorado, uma fonte de água para 40 milhões de pessoas, está sob risco enquanto a “megaseca” se agrava no oeste americano. Em 2050, a população mundial deve somar cerca de 10 bilhões, aumentando a demanda por água em 55%. Até lá, dois terços das pessoas viverão em cidades.

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“À medida que as cidades continuam a crescer, terão mais demanda por água de muitos setores: residencial, industrial, ecológico”, diz Enrique Vivoni, hidrólogo da Universidade Estadual do Arizona. “Os planejadores de cidades precisam pensar no futuro, não apenas em 5, 10 anos, mas talvez 50 ou 100 anos.”

Cada lugar é diferente quando se trata de se preparar para esses desafios, mas algumas táticas são universalmente aplicáveis o suficiente para que possam ser reunidas em um projeto para cidades inteligentes em relação à água de amanhã.

Reciclar água

Especialistas apontam para uma maneira pela qual todos no planeta podem economizar água: usá-la mais de uma vez. Reciclamos plásticos e metais, mas por que não água? Dragan Savic, diretor-presidente do KWR Water Research Institute nos Países Baixos, acredita que reciclar em casa é uma “enorme” oportunidade. Newsha Ajami, diretora de política de água urbana da iniciativa Water in the West da Universidade Stanford, diz que a reutilização no local é talvez a melhor maneira de melhorar a eficiência.

“Se pensarmos nas cidades que temos agora, é praticamente um sistema de uso único”, diz Ajami. “Então entra água, a gente usa uma vez, e a água sai. Você dá descarga no vaso sanitário com a mesma água que bebe, o que não é muito eficiente, se pensarmos bem.”

As casas deveriam usar água muitas vezes, de acordo com Ajami. Uma abordagem múltipla é possível porque vários usos - paisagismo, jardinagem e água de banheiro - não requerem água potável. Muitas dessas necessidades podem ser atendidas com água cinza, ou seja, água reciclada sem resíduos. Até 75% da água doméstica pode ser reutilizada como água cinza.

Dados mais precisos sobre o uso da água também podem ajudar na conservação. Com uma melhor medição da água, as pessoas podem entender melhor o uso doméstico, tanto em ambientes internos quanto externos.

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“A água é menos medida do que outros sistemas, como transporte”, diz Savic, da KWR. “Se você não mede, não consegue administrar.”

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