Depois de levantar R$ 1,35 bi em IPO, 3tentos vai expandir no RS e construir processadora de soja em MT

EXCLUSIVO: Companhia vai abrir novas lojas no RS e no norte de MT e construir, em Vera (MT), nova indústria de processamento de soja com usina de biodiesel integrada.

Os irmãos e fundadores da 3tentos Luiz Osório e João Marcelo Dumoncel, junto com suas três irmãs e o diretor Eduardo Menezes, na oferta pública da empresa na B3
30 de Julho, 2021 | 02:06 PM

São Paulo — Uma das estreantes da B3 em 2021, a gaúcha 3tentos (a maneira de escrever é assim mesmo) não pretende deixar o dinheiro captado em seu IPO do último dia 12 de julho, muito tempo parado.

Depois de levantar R$ 1,35 bilhão na bolsa, dos quais R$ 1,15 entraram direto para o caixa, a companhia vai abrir novas lojas no Rio Grande do Sul para consolidar sua operação no Estado e construir, em Mato Grosso, uma nova indústria de processamento de soja, com uma usina de biodiesel integrada e inaugurar pelo menos oito revendas de insumos agropecuários entre Sorriso e Sinop.

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A 3tentos ainda está em período de silêncio, após seu IPO, mas a Bloomberg Línea teve acesso a parte dos planos da companhia.

A nova fábrica de esmagamento de soja será instalada no município de Vera, a 67 quilômetros ao norte de Sorriso. A unidade terá capacidade para processar 3 mil toneladas de soja por dia e produzir 300 mil metros cúbicos de biodiesel por ano.

O terreno já foi escolhido, o projeto aprovado e a expectativa é que entre em operação em dois anos, se juntando às unidades de Ijuí e Cruz Alta, no Rio Grande do Sul, que já têm capacidade para esmagar 3 mil toneladas de soja por dia e processar 850 mil litros diários de biodisel.

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Fábrica da 3tentos em Mato Grosso terá capacidade para esmagar 3 mil toneladas de soja por dia e produzir farelo, para nutrição animal, e óleo de soja, que será usado para fabricação de biodiesel em uma usina integrada à esmagadora

Já no Rio Grande do Sul, os planos da 3tentos são consolidar a forte presença que a empresa já tem em seu estado de origem. As 40 lojas já existentes ganharão outras 22, das quais três já foram abertas e outras três têm inauguração programada ainda para este ano. Dos 6 milhões de hectares cobertos pela atual rede, o plano é que a expansão das lojas permita que 9 milhões de hectares sejam atendidos pela empresa.

POR QUE ISSO É IMPORTANTE: Assim como já ocorreu com o bancos, varejo, frigoríficos e outros setores da economia, existe uma tendência de consolidação das empresas fornecedoras de insumos agropecuários. Extremamente pulverizado pelas diferentes regiões agrícolas do Brasil, muitos investidores acreditam que haverá uma corrida para fusões e aquisições e muitas empresas têm buscado sair na frente dessa disputa.

Cada com com seu modelo de negócio, mas seguindo a estratégia de chegar aos clientes por meio do varejo agropecuário, Boa Safra e 3tentos são dois exemplos que já lançaram seus papéis no mercado. Outra que está aguardando o melhor momento é a Agrogalaxy, controlada pelo fundo de investimentos Aqua Capital.

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CONTEXTO: A 3tentos iniciou os preparativos para ir à bolsa no ano passado. Ajustou a governança, fez uma reestruturação acionária, criou conselho e se preparou para acessar os investidores do varejo, por meio da Instrução 400 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Em março deste ano a empresa estava com pedido arquivado, com bom engajamento dos investidores, até que a maré virou.

O cenário político deixou os investidores mais cautelosos, o tráfego de oferta estava elevado e a empresa decidiu mudar sua estratégia. A 3tentos manteve o plano de registro de companhia aberta, mas aguardou um melhor momento, o que ocorreu na primeira quinzena de julho. Nesse intervalo, a empresa divulgou seu primeiro balanço, referente aos resultados obtidos entre janeiro e março deste ano. A receita foi de R$ 769,2 milhões, 65% maior que a do primeiro trimestre do ano passado. Já o lucro líquido passou de R$ 3,1 milhões para os atuais R$ 51 milhões.

Com o cenário político um pouco mais apaziguado, balanço divulgado e uma nova rodada de conversas com investidores, a empresa voltou à bolsa, porém, seguindo a Instrução 476 da CVM, que prevê um número limitado de investidores.

Alexandre Inacio

Jornalista brasileiro, com mais de 20 anos de carreira, editor da Bloomberg Línea. Com passagens pela Gazeta Mercantil, Broadcast (Agência Estado) e Valor Econômico, também atuou como chefe de comunicação de multinacionais, órgãos públicos e como consultor de inteligência de mercado de commodities.