Bloomberg — As oscilações no preço do café arábica são as maiores em praticamente duas décadas. Os traders monitoram nervosamente a chegada de uma frente fria que ameaça o suprimento global.
Os futuros de grãos de qualidade aumentaram 56% neste ano, tornando-os uma das commodities com o melhor desempenho.
“O mercado deve estar tenso”, disse Nick Gentile, sócio-gerente da NickJen Capital Management em Nova York. “Não dá para relaxar”.
As temperaturas vão começar a cair nas próximas horas no sul do Brasil, e o maior risco de geada é entre a quinta-feira e a sexta-feira pela manhã, segundo a Maxar Technologies Inc. As áreas de café e cana do Paraná estão especialmente vulneráveis, com temperaturas chegando a quase -3°C. A geada deve durar algumas horas, declarou o meteorologista sênior Donald Keeney.
A temperatura na principal região cafeeira do sul de Minas Gerais deve chegar a -0,5°C, o que já é suficiente para causar danos, segundo Keeney. As temperaturas voltam a subir a partir do sábado, e não há risco de geada na próxima semana.
As safras de café arábica do Brasil alternam entre o alto e o baixo rendimento todos os anos. As geadas recentes estão reduzindo as perspectivas para 2022, um ano de alto rendimento, quando o país normalmente representa quase metade do abastecimento global. Minas Gerais cultiva quase 70% desse abastecimento.
Embora a perspectiva seja aterradora, os preços oscilam porque outra geada não foi definida, e os traders são influenciados por outros fatores, como uma chamada de margem recente na bolsa ICE Futures U.S. Se a geada não ocorrer, o mercado pode sofrer uma queda livre temporária, afirmou Gentile. As exigências de margem mais alta provavelmente também levaram alguns traders a reduzir as posições otimistas para evitar pagar para mantê-las.
Guilherme Morya, analista do Rabobank International, disse que o mercado pode estar sobrecomprado. A geada pode chegar a áreas já destruída pelos eventos anteriores, diminuindo o impacto.
Os aumentos geram preocupações sobre a inflação dos alimentos em um momento em que a fome global explode. Ainda assim, as variações nos preços de atacado normalmente demoram a chegar ao consumidor – as grandes empresas minimizam o impacto da volatilidade dos preços ao atender às suas necessidades. A Starbucks Corp. disse, em chamada com analistas na terça-feira, que atualmente possui 14 meses de suprimento.
Os futuros do café arábica para entrega em setembro caíram 3,3% e aumentaram 1,8%, estabilizando-se com uma queda de 0,6%, chegando a US$ 2,0045 por libra. A volatilidade histórica de 10 dias ficou no patamar mais alto desde 2002.
A nova geada pode causar compras por medo, talvez até superando a alta histórica de maio de 1997, de US$ 3,18, afirmou a IHS Markit em relatório. Contudo, qualquer decisão extrema vai durar pouco.
Os ventos desfavoráveis para a oferta de café chegam em meio a um mercado que cresce rapidamente e pode cultivar “muito mais de US$ 400 bilhões” em todo o mundo em três anos – uma taxa composta de crescimento anual de cerca de 9%, disse a Starbucks na terça-feira.
Em outras commodities, o açúcar bruto a ser entregue em outubro aumentou 1,5%, chegando ao preço mais alto desde março de 2017. Os futuros de açúcar nos EUA também aumentaram, atingindo o patamar mais alto desde 2011.
O Brasil foi um dos beneficiários de uma recente realocação de quotas de importação de açúcar em Washington, depois que outros países fornecedores não conseguiram entregar suas partes. A decisão dos EUA foi tomara em meio a perspectivas de queda na produção nacional, interrupções na oferta global causadas pela Covid-19 e pelo aumento dos custos de frete.
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