Bloomberg — A emissão global de títulos com metas ambientais, sociais e de governança deve atingir US$ 1 trilhão pela primeira vez este ano. O valor é mais do que o dobro do que foi vendido em 2020, já que mais emissores são pressionados a emitir dívida com padrões éticos.
As novas emissões de títulos verdes, sociais, de sustentabilidade e vinculados à sustentabilidade de empresas e governos ao redor do mundo já somam um recorde de US$ 577 bilhões neste ano, US$ 100 bilhões a mais do que em todo o ano de 2020, segundo dados compilados pela Bloomberg. Banqueiros se preparam para um segundo semestre ainda mais agitado.
“O que começou com ‘por que devo emitir?’ agora é ‘por que você não está emitindo?’”, disse Marilyn Ceci, responsável global de mercados de capital de dívida ambiental, social e de governança, ou ESG na sigla em inglês, no JPMorgan Chase, um dos maiores subscritores de títulos sustentáveis. “Sua ausência no mercado diz algo agora”, disse Ceci em entrevista por telefone, cuja expectativa é que o volume de emissões dobre até o final do ano.
“Todo emissor vai querer ser capaz de demonstrar que tem um modelo de negócios sustentável”, disse Philip Brown, responsável por mercado de capitais de dívida do setor público do Citigroup. “O que o proprietário do ativo deseja, o gestor do ativo fornece, e o emissor deve responder se quiser atingir essas carteiras”, disse Brown em entrevista por telefone.
As novas emissões de dívidas serão impulsionadas por emissores de alto rendimento e produtos securitizados, disse Ceci. Ela também espera que a emissão de títulos atrelados à sustentabilidade, ou SLB na sigla em inglês, dê um salto para US$ 150 bilhões em 2021. As vendas globais de SLB, que aumentam os custos de financiamento se os emissores não atingirem as metas ESG, totalizam um recorde de US$ 72,8 bilhões no acumulado do ano.
O Citi vê uma força contínua na Europa, que tem estado à frente globalmente em ESG. No primeiro semestre, 26% de todos os títulos de grau de investimento corporativos denominados em euros emitidos eram vinculados ao ESG, contra 9% em relação ao mesmo período do ano passado, de acordo com Brown.
O boom de emissões ocorre em meio ao ceticismo de que a dívida ESG realmente resulte em um comprometimento dos emissores e à confusão crescente sobre a proliferação de rótulos e estruturas. Como a demanda continua a superar a oferta, investidores estão cada vez mais preocupados com o chamado greenwashing, onde a dívida que não é realmente ESG pode ser rotulada como tal.
Apesar disso, banqueiros de títulos estão entusiasmados com a oportunidade de longo prazo.
“O crescimento dos mercados de financiamento ESG excederá tudo o que vimos até agora”, disse Tom Joyce, chefe de estratégia de mercado de capitais do Mitsubishi UFJ Financial Group, em entrevista por telefone. “Esta é uma mudança holística e sistêmica na forma como todo o mercado financeiro global está estruturado e na forma como a estratégia de negócios e o ambiente regulatório funcionam.”
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